sábado, 5 de setembro de 2015

Após prometer superávit, Dilma descarta cortar gastos

• ‘Já foram feitos todos os cortes possíveis no Orçamento’, diz ela

Empresários se reuniram com ministro Levy e pediram compromisso do governo com economia de despesas, redução de subsídios e esforço para que país não perca grau de investimento

Um dia depois de prometer ao ministro Joaquim Levy (Fazenda) empenho do governo para obter superávit primário no ano que vem, a presidente Dilma afirmou ontem que já cortou tudo o que podia no Orçamento, enviado ao Congresso com previsão de déficit de R$ 30,5 bilhões. Em entrevista a rádios do Nordeste, Dilma voltou a defender a criação de novas fontes de receita. Num jantar com Levy na quarta, empresários apresentaram lista de reivindicações, depois levada a Dilma, que inclui compromisso com superávit de 0,7% do PIB, corte de subsídios e esforço para o país manter o grau de investimento.

Dilma diz que cortou o que devia

  • Após defender superávit para manter Levy, presidente contraria posição do ministro da Fazenda

“Não podemos cortar esses gastos para evitar o retrocesso”
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“Nós podemos perfeitamente discutir como obter as receitas necessárias para não ter déficit”
Dilma Rousseff

Thiago Moraes* e Fernanda Krakovics - O Globo

-JOÃO PESSOA e BRASÍLIA- Um dia depois de entrar em ação para tentar garantir a permanência do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, no cargo e de se comprometer a perseguir a meta fiscal defendida por ele, a presidente Dilma Rousseff voltou a falar ontem em dois temas que desagradam ao ministro: a impossibilidade de serem feitos novos cortes no Orçamento e a necessidade de aumentar a carga tributária. Em entrevista a rádios paraibanas antes de embarcar para Campina Grande e João Pessoa, Dilma afirmou que “foram feitos todos os cortes possíveis no Orçamento, mas sem prejudicar os recursos dos programas sociais”, e indicou que a correção do déficit de R$ 30,5 bilhões — que foi previsto na proposta enviada ao Congresso — terá que ser feita com mais impostos.

Essa saída é justamente o que Levy não quer. O ministro defendeu intensamente que o Orçamento não fosse enviado ao Legislativo com déficit, que não fossem criados impostos e que houvesse um corte de gastos profundo, incluindo programas sociais. Dos três pleitos, Dilma apoiou ontem apenas o primeiro. Ela aderiu explicitamente à posição defendida pelo Ministério do Planejamento, que considera o ajuste de despesas feito já forte o suficiente.

— Não podemos cortar esses gastos para evitar o retrocesso, ainda que não sejam os maiores custos do Orçamento, que possui maiores gastos em setores como a Previdência, benefícios de assistência, gastos com pessoal e despesas obrigatórias previstas em lei — disse Dilma, lembrando que serão mantidos os programas Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, ProUni, Fies e Mais Médicos, a construção de postos de saúde e cisternas, e os investimentos em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos.

Para resolver as questões financeiras do país, Dilma admitiu a possibilidade de criação de novas fontes de receita, como criação ou aumento de impostos, para que o país não fique com déficit e caia no retrocesso. A presidente também falou em medidas de gestão por parte do próprio governo — algo defendido por Levy —, enxugando gastos e fiscalizando a execução de programas. Na entrevista de rádio, Dilma voltou a falar na necessidade de aumentar a arrecadação:

— Se a gente quer um Orçamento equilibrado, vamos ter que tomar algumas medidas. Vamos enxugar mais gastos, olhar se o que estamos pagando está chegando àquelas pessoas que a lei manda que cheguem. A segunda coisa é que nós temos que discutir novas fontes de receitas, se a gente quiser garantir que o país não tenha um retrocesso. Nós não queremos ficar com déficit, nós podemos perfeitamente discutir como conseguir as receitas necessárias para não ter déficit — disse Dilma.

Na véspera, o ex-presidente Lula recomendou a Dilma que abafasse as divergências internas sobre a política econômica, colocando “água fria na fervura” da queda de braço entre Levy e Nelson Barbosa (Planejamento). Mesmo assim, Lula defende que o governo afrouxe o ajuste fiscal, liberando mais crédito para aquecer a economia. Essa foi a política econômica implementada no fim do governo do ex-presidente Lula e no primeiro mandato de Dilma pelo então ministro da Fazenda, Guido Mantega. (* Especial para O GLOBO)

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