quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Belluzzo: ‘Rebaixamento é resultado do desajuste do ajuste’

Entrevista. Luiz Gonzaga Belluzzo

• Para economista, crença de que ajuste fiscal traria de volta a confiança do setor privado levou à decisão da S&P

Por Luiz Guilherme Gerbelli 0 Estado de S. Paulo

O ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Luiz Gonzaga Belluzzo diz que houve um erro na condução da política econômica. Na avaliação dele, um dos motivos que levou o Brasil a perder o grau de investimento foi a crença do governo federal de que o ajuste fiscal traria de volta a confiança do setor privado.

Como o senhor avalia a decisão tomada pela S&P?

Exatamente a tentativa de impedir o rebaixamento acabou determinando a decisão da S&P. Na verdade, a situação fiscal piorou depois do ajuste fiscal. A política monetária está contradizendo a tentativa de ajustar as contas porque piorou a relação da dívida/PIB. O déficit nominal também está piorando. Eu, na verdade, tenho muitas restrições em como as agências de risco se comportaram durante a crise (internacional). Elas se portaram muito mal. Cometeram barbaridades. Mas eu não tinha dúvida de que isso (o rebaixamento) iria ocorrer, pelos critérios das agências e pelo desajuste do ajuste.

Na avaliação do sr, o que foi esse desajuste do ajuste?

O desajuste do ajuste nasce da crença de que a confiança do setor privado seria recuperada fazendo o ajuste fiscal. Na verdade, foi produzido um efeito negativo sobre a expectativa do setor privado, sobre o comportamento dos balanços, das receitas esperadas, etc. E é claro que a economia teve uma recessão maior em relação àquilo que estava suposto na formulação do ajuste. A economia brasileira está caindo entre 2,5% e 3% e há uma dinâmica da dívida pública muito ruim, caminhando para mais de 70% do PIB. É claro que os resultados apontam para uma perda do grau do investimento.

Quais serão os impactos dessa decisão da S&P?

Acho que muita coisa já estava refletida na curva de juros e no comportamento do câmbio. Vai haver um outro estresse no curto prazo, mas depois tudo deve se estabilizar. Vai haver uma estabilização numa situação ruim.

O sr. poderia detalhar como será essa estabilização ruim?

Seria uma economia que continua a perder força e a avançar na recessão. E uma dinâmica fiscal perversa com aumento do déficit nominal. É preciso fazer um gesto. A questão da CPMF, por exemplo. Era o melhor imposto que se poderia criar porque tem um efeito muito fraco sobre a maioria dos contribuintes, mas o governo não preparou bem isso. Perdeu a oportunidade de fazer e isso poderia ajudar bastante a contornar a situação fiscal, que foi provocada sobretudo pelos equívocos das política monetária e fiscal.

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