quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Celso Ming - E agora, Banco Central?

• Importa menos o nível dos juros pelo qual o Copom acabará optando e bem mais os novos parâmetros da economia que adotará para suas decisões

- O Estado de S. Paulo

O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, presidido pelo economista Alexandre Tombini (foto), realiza nesta quarta-feira mais uma reunião para definir o nível dos juros, em condições econômicas claramente ruins e num clima político especialmente conturbado.

O governo Dilma desistiu de cravar o centro da meta inflacionária (4,5%) ao fim de dezembro de 2016, conforme compromisso firme do Banco Central. No Projeto de Lei Orçamentária de 2016, o governo passou a trabalhar com inflação de 5,4%, ignorando o cumprimento da meta da autoridade monetária.

O que precisa ser cobrado agora do Copom é se continua insistindo nesses 4,5% ou se vai afrouxar sua política para empurrar a inflação para os mesmos 5,4% adotados como premissa na definição do Orçamento de 2016.

E há o desdobramento dessa nova postura do governo para a administração das expectativas, item muito importante na política de metas. Como é que o Banco Central vai seguir tentando convencer o mercado financeiro e os fazedores de preços de que a inflação de 2016 convergirá para a meta, se nisso nem a equipe econômica do governo acredita? Ou será que o Banco Central não adotará a tal postura “realista” evocada pelos ministros da área econômica?

Outra preliminar é a grave questão fiscal. São novos os parâmetros que definem a situação das contas públicas. Desde agosto de 2013, a autoridade monetária vem repetindo o mantra de que a política fiscal é sua aliada. Reitera que o jogo do governo na administração das contas públicas tende para neutralidade como fator de inflação, ou seja, caminha, afirma o Banco Central, para uma situação em que nem produz nem reduz inflação, podendo até mesmo reduzir. Além disso, como consta na última Ata do Copom, vinha contando com um superávit primário (sobra de receita para pagamento da dívida) de 0,15% do PIB em 2015 e de 0,7% do PIB em 2016.

A novidade é a de que o governo jogou miseravelmente a toalha. Ao apresentar o Projeto de Lei Orçamentária de 2016, reconheceu que, às condições previstas, ficarão faltando R$ 30,5 bilhões para fechar as contas públicas. O governo federal admite que não conseguirá mais do que um déficit primário de 0,5% do PIB. Ainda assim, um grande número de contas e subcontas continua vago o suficiente para levantar dúvidas sobre a obtenção até mesmo desse resultado ruim.

O Banco Central não terá outra saída senão reconhecer que a área fiscal não ajuda a combater a inflação e que sobrará mais esforço para a política monetária (política de juros). Também terá de dizer como enfrentará os efeitos sobre a inflação da desvalorização cambial, de 10,8% só nos últimos 40 dias.

Vêm aumentando as pressões sobre o Banco Central para que largue o que tanta gente denuncia como turrice ortodoxa, que reconheça a dureza do momento e desista de puxar os juros para os cornos da lua. Cartolas do empresariado local, como o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, repetem isso todos os dias. E recorrem a conchavos para obter por vias políticas a flacidez da política monetária que não conseguem defender com argumentos racionais.

Enfim, nesta reunião, importa menos o nível dos juros pelo qual o Copom acabará optando e bem mais os novos parâmetros da economia que adotará para suas decisões.

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