sábado, 5 de setembro de 2015

Governo tenta minimizarimpacto da fala de Temer

• Planalto evita mais desgaste com vicee destaca lealdade do peemedebista

Temer expõe distanciamento de Dilma e preocupa Planalto

• Vice reconheceu que pode ser difícil para petista concluir mandato em 2018

• Maioria no PMDB de fato deseja romper com o PT, mas líderes defendem um desembarque calculado

Natuza Nery, Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O governo e setores do PMDB reprovaram nesta sexta-feira (4) o tom usado pelo vice-presidente Michel Temer ao declarar que, se a baixa popularidade da atual gestão se mantiver, será difícil para a presidente Dilma Rousseff concluir seu mandato.

A ordem dentro do Palácio do Planalto, porém, foi não alimentar uma nova crise.

Ministro da Comunicação Social, Edinho Silva disse que a frase de Temer ficou fora do contexto. "Para nós, o importante é que o vice-presidente tem sido leal e contribuído para superar as dificuldades atuais", afirmou.

Temer se reuniu com empresários de São Paulo nesta quinta (3) e afirmou que Dilma não "é de renunciar", mas asseverou que "é preciso melhorar o que está aí".

Apesar da consciência do paulatino afastamento do vice, assessores presidenciais disseram em caráter reservado que não esperavam uma linha pública de tão claro distanciamento.

O vice usou frases como "ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo. Disse ainda: "se a chapa [Dilma-Temer] for cassada [pelo TSE] eu vou para casa feliz. Ela vai para casa... Não sei se feliz".

A decisão de não rebater publicamente os comentários do peemedebista foi tomada na busca de evitar criar uma nova agenda negativa para o governo, num momento que ele nem bem saiu de uma crise em sua equipe econômica após especulações de demissão do titular da Fazenda, Joaquim Levy.

Até mesmo congressistas do PMDB que atuam em sintonia com o vice afirmaram, em caráter reservado, que ele cometeu um "sincericídio".

Para eles, as declarações ganharam sentido mais forte no ambiente em que foram ditas, pois se tratava de uma plateia majoritariamente reativa à presidente da República, dando motivos para o Planalto reclamar que Temer tem feito articulações para se posicionar como alternativa de poder diante da crise.

Rosangela Lyra, uma das organizadoras do evento, integra o movimento "Acorda, Brasil", que defende o impeachment. Ela, porém, disse à Folha ser contra a deposição de Dilma, reforçando que o objetivo do encontro é discutir políticas e ideias com formadores de opinião.

É quase unânime no PMDB o desejo de rompimento com o Planalto, mas os principais dirigentes da legenda defendem que o desembarque seja calculado, o que está previsto para novembro, durante congresso do partido.

De acordo com o script desenhado pelos defensores da ideia, a sigla partiria para a oposição, enquanto Temer cumpriria o papel institucional de vice, mas livre para criticar o Executivo quando bem entendesse.

Veja bem
Amigos procuraram explicar as frases de Temer, reconhecendo que ele foi "infeliz", mas "não conspirador", como veem petistas. Interlocutores ponderaram que, entre uma declaração e outra, Temer afirmou que trabalhará para que a atual gestão chegue até 2018.

Aliados reconhecem que as falas retratam um Michel Temer distante de Dilma Rousseff, magoado com o governo, mas nunca um traidor.

Em entrevista ao jornal americano "The Wall Street Journal" publicada nesta sexta, Temer aparentemente tenta "consertar" o mal-estar gerado pelas suas declarações da véspera.

Ao jornal, ele diz estar certo que Dilma terminará seu mandato em 2018. "Você pode escrever: eu tenho certeza que isso irá ocorrer, isso será bom para o país, que não terá nenhum tipo de crise institucional", afirmou.

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