quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Jarbas de Holanda - Negociações de um pós-Dilma e reavaliação do mercado pró-troca de governo

A cúpula do PMDB (o vice Michel Temer e os presidentes da Câmara e do Senado) deu mais um passo no distanciamento em relação ao governo e ao petismo, dizendo não ao convite da presidente Dilma e ao pedido de Lula para que indicasse nomes para uma recomposição do Ministério. Assim, compelindo o Palácio do Planalto, em esforço frenético para reduzir seu isolamento político e no Congresso, à oferta de ministérios, inclusive o da Saúde, diretamente às bancadas peemedebistas. Tal recomposição ou “reforma” tem, a rigor, dois objetivos: vender à opinião pública um governo que corta gastos (com a redução de dez pastas) e o de comprometer dirigentes e bancadas federais peemedebistas com o bloqueio à abertura de processos de impeachment. Recomposição prometida desde meados de agosto, junto com o anúncio do primeiro pacote fiscal, o da desastrosa assunção de um déficit “realista e transparente” em 2016. E reiterada, bombasticamente, no lançamento do segundo pacote, no final do mês passado. Este, de novas “respostas” ao rombo fiscal, só encaminhado ao Congresso na tarde de ontem, com apenas quatro das 12 medidas legais anunciadas, uma delas a da retomada da CPMF, com chance mínima de aprovação no Legislativo. A fragilidade do governo explica a imensa dificuldade que teve, ontem, para evitar a derrubada dos vetos presidenciais a projetos da chamada pauta-bomba da Câmara. Que não contavam mais com o apoio do presidente Eduardo Cunha, nem com o respaldo efetivo da oposição, e dos quais resta ainda o de grande reajuste dos servidores do Judiciário.

 É nesse contexto que ganham espaço as negociações em torno de rápida alternativa ao governo Dilma. Sob a influência de dois vetores principais. De um lado, a demanda social crescente (a ser provavelmente confirmada em pesquisa do Ibope que está sendo feita) pelo afastamento da presidente, com forte preferência pelo impeachment. De outro lado, a de substituição dela pelo vice Michel Temer, com base numa aliança político-partidária que propicie um enfrentamento da crise econômica dotado de credibilidade. Este vetor refletindo mudança de postura da maioria dos agentes econômicos: do cálculo, predominante um mês atrás, de riscos menores com a manutenção de uma presidente Dilma comprometida com uma reorientação político-administrativa dominada pelo PMDB centrista, para nova avaliação conclusiva da inviabilidade disso, combinada com a previsão de custos ainda maiores (que os da situação atual) a serem pagos com a continuidade da presidente “trapalhona” (como acaba de defini-la Delfim Netto), intervencionista, centralizadora e destituída de um nível mínimo essencial de credibilidade.

Mudança de postura e de avaliação influenciada pelo zigue-zague e pela precariedade das “respostas” à crise fiscal, pelos cenários de agravamento e persistência da estagflação, pela perda, iniciada, do grau de investimento do país por agências internacionais de classificação de risco, pela precariedade das relações do Executivo com o Congresso. E mudança que se traduz na cobrança aos partidos não petistas, sobretudo o PMDB e o PSDB, de entendimento em torno de um governo alternativo. Cobrança que o grupo de Michel Temer usa para forçar as lideranças tucanas a comporem tal governo. O que a maioria dessas lideranças, à frente o presidente Aécio Neves, não aceita, articulando promessa de apoio à institucionalização da alternativa, bem como a medidas anticrise, com a distinção de um posicionamento independente do PSDB. Resistência, natural, do partido que vem liderando a oposição ao petismo e conta com consistente perspectiva de vitória na próxima eleição presidencial. E que, também naturalmente, o grupo de Temer procura dobrar, inclusive com a subordinação ao atendimento de sua cobrança do apoio do PMDB ao rápido afastamento de Dilma.

Mas essas negociações passam a ser influenciadas também por variáveis importantes: o peso, menor ou maior, das manifestações de rua pelo impeachment (reforçadas pelas pesquisas e por outras formas de protesto) e mais desdobramentos da operação Lava-Jato. Ambas com potencial de tornarem irresistível a troca da presidente, com ou sem a parceria maior entre PMDB e PSDB cobrada pelo primeiro.

Por outro lado, há uma terceira variável significativa no encaminhamento e na saída da crise política – o ex-presidente Lula. Como assinalei no artigo anterior, ele está vivendo estressante dilema: empenhar-se pela continuidade do governo Dilma e “morrer abraçado” com ele, se isso não for possível, ou partir para forçar uma renúncia (que aconselharia como alternativa a um impeachment iminente) como melhor, ou único, caminho para tentar uma recuperação do petismo e de seus papeis político e eleitoral através de uma volta ao radicalismo oposicionista contra um governo Temer, e com melhores dividendos se este envolver o PSDB.

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Jarbas de Holanda é jornalista

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