sexta-feira, 4 de setembro de 2015

‘ Mais claro, impossível’, diz delator

Empreiteiro diz ter pago propina diretamente na conta do PT

  • Pagamento era exigido mesmo quando não havia cartel, afirma Pessoa

Cleide Carvalho, Tiago Dantas e Renato Onofre – O Globo

Dono da UTC Engenharia e agora delator da Lava- Jato, Ricardo Pessoa disse, em depoimento, que fazia depósitos diretamente na conta do PT. E que os recursos repassados oficialmente eram desviados da Petrobras no esquema do escândalo de propina. - SÃO PAULO- O empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia, afirmou em depoimento à Justiça ter depositado dinheiro de propina da Petrobras diretamente na conta do Partido dos Trabalhadores ( PT). Esses pagamentos, segundo Pessoa, eram feitos depois que o diretor de Serviços, Renato Duque, o encaminhava a João Vaccari Neto, então tesoureiro do partido. Outra parte da propina era paga ao gerente Pedro Barusco, subordinado a Duque.

O juiz Sérgio Moro quis saber se ficava claro que a contribuição oficial ao PT era mesmo parte do acerto de propina.

— Mais claro impossível! Eu depositava oficialmente na conta do Partido dos Trabalhadores. Nunca paguei nada ao Duque, estava pagando a Vaccari — afirmou o empresário.

O executivo disse ainda que o esquema de propina começou por volta de 2005. Pessoa disse que o primeiro a pedir propina foi o então deputado José Janene, do PP. Em seguida, segundo ele, a Diretoria de Serviços da Petrobras passou a fazer o mesmo, e o primeiro contato foi feito por Barusco. Pessoa explicou que a propina tinha de ser paga mesmo quando não havia qualquer ação de cartel ou acerto prévio entre as empresas para vencer licitações. Tão logo fechava o contrato, recebia a cobrança.

— Independentemente de ter “pacto de não agressão” ou arranjo entre empresas, eu era procurado para pagar. Tem contrato que não tinha arranjo e tivemos que pagar — afirmou.

O Ministério Público Federal quis saber se todas as empresas contratadas pela Petrobras pagavam a propina. Pessoa explicou que o pagamento era considerado “regra do jogo” para as empresas, que, segundo ele, ficavam receosas de enfrentar dificuldades para levar adiante os contratos.

— Sempre fui solicitado e tive que comparecer firmemente com esses pagamentos.

Pessoa confirmou ter feito pagamento de propinas em duas obras das quais a UTC participou ao lado da Odebrecht: na refinaria Presidente Getulio Vargas, no Paraná ( Repar), e no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro ( Comperj). Disse que o negociador da Odebrecht era o executivo Márcio Faria.

— Na Repar ficamos encarregados de pagar à Diretoria de Abastecimento, e a Odebrecht, de resolver o problema da Diretoria de Serviços. No Comperj, ficamos encarregados de pagar a Vaccari e a Barusco. Na Diretoria de Abastecimento ficou a cargo de Márcio resolver o que fazer — contou Pessoa, explicando que o valor da propina era pactuado entre todos os participantes do consórcio.

Eduardo Leite, ex- vice- presidente da Camargo Corrêa, que também depôs anteontem, disse que a empreiteira pagou propina “em todos os contratos”.

— Todas as empresas prestadoras de serviços junto à Petrobras tinham a obrigação desse pagamento. Isso era comentado no mercado — afirmou.

Procurado, o PT informou que todas as doações foram recebidas legalmente e declaradas à Justiça Eleitoral.

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