quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Maria Cristina Fernandes - Sete a um

• Quem causou o problema tornou-se o artífice da solução

- Valor Econômico

Ela divorciou-se do primeiro marido em poucos anos de casada, ascendeu na política apadrinhada pela principal liderança de seu partido, discursa como lesse manuais, é fissurada por planilhas, promoveu uma queda histórica no desemprego, submeteu-se a uma dieta bem-sucedida e tem gosto em derrotar homens vaidosos.

Angela Merkel é sete anos mais nova que Dilma Rousseff, está no poder há dez, e, na semana passada, empurrou seu prazo de validade como chanceler da Alemanha por tempo indefinido.

Ao liderar a busca de saídas para a crise de refugiados numa Europa comovida com o garoto Aylan, mostrou como a política é capaz de transformar quem é a causa do problema em artífice de sua solução.

Em janeiro, ao mandar tropas para o Iraque, a chanceler enfrentou, com o aval de ampla maioria do parlamento, o veto constitucional ao envio unilateral de missões militares. A Alemanha já estava na região como integrante de forças das Nações Unidas e da Otan, mas esta foi a primeira vez, desde a derrota nazista na segunda guerra mundial, que enviou tropas ao exterior sem um mandato internacional.

A missão unilateral, do país que hoje é o terceiro exportador mundial de armamentos, teve como justificativa o suporte a grupos locais que lutam contra o exército islâmico. Na região, o combate ao Isis é liderado pela ordem que se seguiu à primavera árabe. Diferencia-se na gradação do terror e na capacidade de negociação com o Ocidente. Pelo intensidade dos combates, que aumentou a diáspora, é razoável concluir que a estratégia alemã não teve êxito.

A governante que partiu de um fracasso militar para construir o mais retumbante sucesso na imagem da Alemanha em 70 anos, foi perfilada pela 'The New Yorker' em reportagem reproduzida na 'Piauí'.

Criada na Alemanha oriental, filha de um pastor luterano e de uma professora de inglês, estudou Química e não tinha pedigree na política. Fez-se deputada na reunificação com a fusão do seu partido com a democracia cristã. Foi escolhida ministra por Helmut Khol, que a tratava pelo diminutivo.

Passou a ser temida pela rapidez com que absorvia informações e pelo temperamento. Deu a primeira mostra do instinto frio e calculado pelo poder ao romper com seu padrinho. No final da década de 1990, a democracia-cristã foi tragada por um escândalo de financiamento de campanha. Kohl foi acusado de não declarar doações de campanha e de manter contas bancárias secretas.
O líder do CDU era reverenciado no partido, mas o Judiciário jogou o vento a favor e Merkel não se sentiu intimidada: "É hora de aprender a andar e se lançar em futuras batalhas contra os oponentes políticos sem 'o velho cavalo de guerra". Virou presidente do partido e chanceler.

No poder, a fincar o pé nas bandeiras do seu partido, abraçou as da oposição e a esvaziou. Recuou da energia nuclear e deixou a social-democracia alemã falando sozinha com o acordo arrancado da Grécia. Trouxe o país para a mais baixa taxa de desemprego (4,7%) desde a reunificação.

Não pode ser acusada de mudar de posição sobre o imigrantes. Sempre rezou pela cartilha do pragmatismo num país sem crescimento vegetativo capaz de repor sua força de trabalho, mas a crise dos refugiados árabes lhe deu uma oportunidade histórica de redenção. Não são europeus das bordas do continente asfixiados pelo arrocho dos credores alemães. São vítimas da intolerância e do terror que há 70 anos tinham na Alemanha de Merkel sua pátria.

"É como se um ano depois da vitória na Copa do Mundo no Rio, os alemães queiram desesperadamente ser campeões do mundo novamente, desta vez como o país mais acolhedor para refugiados", escreveu Doris Akrap, no "The Guardian".

A jornalista alemã, de ascendência iugoslava, teve avós mortos pelos nazistas. Não esconde ressentimentos num artigo que ignora a importância da jogada de Angela Merkel para o futuro da Alemanha no concerto das potências mundiais.

Enquanto o Reino Unido oferece abrigo para 20 mil e a França, para 25 mil, a Alemanha se propõe a acolher 800 mil. Em balanço feito pela revista "Der Spiegel" com os imigrantes que chegaram ao país no ano passado, vindos da península em conflito, mais da metade têm entre 18 e 35 anos. Estão no auge de sua capacidade produtiva. A Alemanha vai gastar € 6 bi para abrigá-los, mas eles poderão repor uma força de trabalho capaz de consumir, pagar impostos, sustentar o sistema previdenciário e recauchutar a principal indústria europeia.

Quando esteve no Brasil, há três semanas, acompanhada de 12 ministros para uma visita de 23 horas, a chanceler alemã vinha de uma votação vitoriosa do pacote de ajuda a Grécia. Encontrou uma Dilma acossada. A silhueta mais enxuta mitigou-lhes a deselegância colorida de laranjado e azul. Fizeram uma declaração conjunta de mudança climática e seus ministros assuntaram o marco regulatório da infraestrutura. Pareciam calorosas em público, mas o que quebrou o gelo nas refeições foi o sete a um. Angela Merkel deixou o Brasil com o chiste da revanche para golear o resto do mundo.

PMDB
O PMDB fez uma reunião inédita esta semana. Pela primeira vez, desde a eleição, reuniu o vice-presidente da República, os presidentes da Câmara e do Senado, os líderes dos partidos nas duas Casas, cinco dos seis ministros e seis dos sete governadores.

O do Rio, Luiz Fernando Pezão, que acreditava ser possível angariar alguma simpatia à tese da CPMF, logo recuou. Paulo Hartung, do Espírito Santo, pareceu mais bem sucedido na tentativa de sensibilizar os parlamentares em torno de pautas que atrairiam investimentos e não dependem do Orçamento para avançar, como o projeto que acaba com a obrigação da Petrobrás em participar com o mínimo de 30% na exploração do pré-sal.

Todos os seis governadores se disseram no limite de suas finanças para bancar uma previdência em que um coronel da Polícia Militar, assegurou o do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori, se aposenta aos 46 anos.

O jantar começou às 20h e terminou depois da meia noite. Não houve consenso, mas um governador avalia que o debate da crise fiscal avançou uma casa num Congresso que não quer arcar com o desgaste do ajuste mas, depois do rebaixamento, não terá alternativa.

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