quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Para FHC, país sofre e impeachment não é golpe

• Mas ainda falta ao Brasil um líder que renove as esperanças, ressaltou

• O PSDB deve ter calma ao negociar alianças, disse, pois não sabe 'quem vai estar de pé' depois da Lava Jato

Catia Seabra – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reagiu à declaração da presidente Dilma Rousseff, segundo quem "usar crise para chegar ao poder é golpe". Para o tucano, a movimentação pelo impeachment não é golpista e ganhou força porque a população está sofrendo com a crise.

"Quem sofre a crise não quer dar golpe, quer se livrar da crise. Na medida em que o governo faz parte da crise, começam a perguntar se [o governo] vai durar. Mas não é golpe", disse nesta quarta (16).

Para FHC, são necessárias duas condições para o impeachment. A primeira, disse, a perda da capacidade de governar, foi atingida: "O governo está ficando ralo".

A segunda, na sua opinião, é a configuração da responsabilidade. Se o Tribunal de Contas da União ou a Justiça Eleitoral detectarem irregularidades nas contas do governo ou na campanha de Dilma, disse, "aí não tem jeito [de impedir impeachment]".

"Que há essa possibilidade, há. E não é golpe. Golpe seria se eu dissesse agora: 'Tira'."

Apesar disso, FHC afirmou que os brasileiros não aceitarão de "bom grado" um processo de impeachment sem a presença de alguém que renove a esperança. "Por enquanto não houve ninguém para assumir essa liderança."

Durante lançamento de seu livro "A miséria da política", FHC pediu que o PSDB tenha calma ao negociar alianças. "Já disse ao PSDB: vai devagar porque não sei quem vai estar de pé depois da Lava Jato. Temo que se faça aliança precipitada com gente que vai ser expurgada."

Bastidor
O agravamento da crise levou o PSDB a começar a discutir que papel deveria exercer num eventual governo do atual vice, Michel Temer.

O entendimento geral é que os congressistas tucanos não teriam como não dar sustentação política à nova gestão. Dariam apoio, mas, em contrapartida, esperariam de Temer o compromisso de não tentar a reeleição.

A divergência no PSDB é sobre a participação em ministérios num eventual governo Temer. O senador Aécio Neves (MG) e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, avaliam que o PSDB não deveria indicar quadros.

FHC já disse que, caso Dilma caia, "o PSDB poderá se ver obrigado" a participar de um acordo com Temer "para não parecer que joga contra o país". "Chega uma hora que você não faz o que quer, faz o que é preciso", disse.

O senador José Serra (SP)foi o primeiro a dizer que a sigla deveria, sim, ajudar Temer. "Como foi com o Itamar [Franco]", lembrou, em agosto, num programa de TV.

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