sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Rogério Furquim Werneck - Adeus às ilusões

• Levy constata que ocupa um vértice de triângulo, em que os outros dois estão ocupados por ministros que dele divergem

- O Globo

Logo após a eleição presidencial, o desalento com as perspectivas do novo governo tornou-se ainda maior do que durante a campanha eleitoral, em face da insistência do Planalto em não reconhecer a necessidade de alterar a política econômica. Particularmente preocupantes, naquele momento, foram as manifestações sobre a condução da política econômica feitas por Aloizio Mercadante, ministro-chefe da Casa Civil, com anuência tácita da presidente.

Vale a pena ver de novo, na GloboNews, a espantosa entrevista concedida por Mercadante a Míriam Leitão, no Palácio do Planalto, em 13 de novembro de 2014, que deu ensejo a artigo que publiquei neste mesmo espaço em 21 de novembro de 2014, disponível em http://migre.me/rujrp

Pouco antes, em reunião com a bancada petista na Câmara, o ministro-chefe da Casa Civil já não deixara dúvida sobre o que apregoava para o novo mandato: “A política econômica do segundo governo não pode ser a que foi derrotada. A nossa prioridade é emprego e renda. A nossa agenda não é a do mercado”. (O GLOBO, 14 de novembro)

Uma semana depois, em 21 de novembro, contudo, noticiou-se que a presidente Dilma, pressionada por Lula a mudar a política econômica, decidira convidar Joaquim Levy para o cargo de ministro da Fazenda. A notícia foi saudada como sinal de que o governo finalmente se dera conta da necessidade de abandonar o curso desastroso que seguira no primeiro mandato. Com o comando da política econômica entregue a Joaquim Levy, tudo parecia indicar que, afinal, as despropositadas ideias vocalizadas por Mercadante não prevaleceriam.

Por exatos oito meses, o país agarrou-se a essa fantasia. As ilusões começaram a se esvair em 21 de julho, quando o governo anunciou que abandonara por completo a meta de superávit primário de 1,17% do PIB para 2015. E que, com sorte, talvez pudesse cumprir meta “mais realista”, oito vezes menor, de 0,15% do PIB.

Aos mais atentos, não terá escapado esclarecimento importante feito pelo ministro Nelson Barbosa, dias depois, em entrevista sobre a redução da meta fiscal, no “Estadão” de 24 de julho: “Toda a equipe econômica, que aliás não se resume aos ministérios da Fazenda e do Planejamento, e inclui, nesse caso, a Casa Civil, está trabalhando conjuntamente para ter reequilíbrio fiscal mais rápido possível”. Era o anúncio oficial de que Mercadante passara a integrar a equipe econômica do governo.

Nelson Barbosa não perdeu a oportunidade de insistir no mesmo ponto, na sua entrevista a Míriam Leitão, na GloboNews, na semana passada. Para tentar relativizar seus desentendimentos com o ministro Joaquim Levy, voltou a apelar para a geometria variável da equipe econômica. Por mais de uma vez, enfatizou que a proposta orçamentária deficitária encaminhada ao Congresso era “de toda a equipe econômica”, desdobrada nas equipes do Planejamento, da Fazenda “e também da Casa Civil”.

Nas últimas semanas ficou claro que essa reconfiguração deixou o ministro da Fazenda em posição muito desfavorável. A expectativa de que a disputa de poder dentro da equipe econômica estaria pautada pelo velho embate bilateral Fazenda-Planejamento revelou-se infundada. Levy constata agora que passou a ocupar um dos vértices de um triângulo, em que os outros dois estão ocupados por ministros que dele divergem e que contam com respaldo inequívoco da presidente.

Mercadante assumiu, afinal, o papel que, em novembro, se temia que pudesse vir a assumir. E, mesmo hostilizado por Lula e grande parte do PT, antagonizado pelo PMDB e às voltas com uma possível investigação no STF, parece ter consolidado sua posição no Palácio, como alter-ego de Dilma, num momento que a presidente, isolada e fragilizada, se vê cada vez mais acuada no bunker do Planalto.

Para todos os efeitos, é como se o terceiro vértice do triângulo estivesse ocupado pela própria presidente. É a volta à ingerência direta e ostensiva de Dilma na condução da política econômica. A desastrada precipitação da perda do grau de investimento é só o prenúncio do que vem por aí.
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Rogério Furquim Werneck é economista e professor da PUC-Rio

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