- Folha de S. Paulo
Como economistas, nossos desenvolvimentistas são sociólogos fracassados. Abraçaram um esquema primitivo da luta de classes e o difundem por aí.
Joaquim Levy, na Fazenda, seria o capitão dos rentistas, essa franja riquíssima do país liderada pelos banqueiros e aliada de espoliadores estrangeiros. Tombini, no BC, teria sido sequestrado pela turma do juro alto.
Nelson Barbosa, no Planejamento, representaria a vanguarda da maioria mal remediada e dos empresários compromissados com o Brasil. A crise teria como pano de fundo o assédio dos rentistas para anular os ganhos sociais da última década.
Nesse candomblé da luta política, em que cada orixá tem o seu valor, caberia aos heróis do povo resistir ao avanço rentista e, depois, desfechar o contragolpe. A saída do impasse estaria à esquerda: baixar os juros na marra e iniciar nova expansão de gastos públicos. Ainda que a aritmética e os limites materiais sejam violados, o que impera é a vontade.
A sociologia rudimentar dos desenvolvimentistas tem sido útil para um fragmento influente da elite. Justificou historicamente a captura do Estado por grupos interessados em barrar concorrentes e financiar ineficiências à custa do contribuinte.
O ex-presidente Lula começa a enxergar uma solução na saída pela esquerda. Ele sabe que enveredar por esse caminho causará a explosão imediata da gestão Dilma, o que ofereceria ao PT três anos para tentar reconstruir-se no local mais confortável de figurar num período de recessão e tumulto político: a oposição.
Tal desfecho ainda daria a Lula o discurso da "vítima de golpismo", de quem tombou ao defender os pobres contra os ricos. O sacrifício de Dilma, desde que dentro desse roteiro, passa a ser cada vez mais vantajoso num cálculo frio e desapaixonado, como o ex-presidente sempre praticou.
Os desenvolvimentistas, em suma, voltaram a ter a sua utilidade, embora continuem errados.
O máximo que a esquerda conseguiu no Brasil foram as leis trabalhistas de Getúlio Vargas, e essa distribuiçãozinha de renda (pra consumir bugigangas) dos governos do PT. Mas uma coisa essa experiência do PT ("lulopetismo" como gostam os intelectualóides cochinhas) tem de bom, ela instalou no inconsciente coletivo do povo brasileiro que é possível se acabar com a miséria e a pobreza; que ninguém é melhor do que ninguém. Os intelectualóides cochinhas (e os rentistas, claro) estão com medo disso daí que estão excitadíssimos com a possibilidade de dar um golpe branco na Dilma. Vão quebrar a cara porque o "lulopetismo" mexe com forças telúrico-sociais. PS: Gilvan,mais uma vez reclamo que esse espaço poderia servir para um animado debate que não existe por causa dessa exigência de os comentários terem que ser aprovados pelo administrador. Você poderia liberar os comentários e faria a posteriori a censura das extrapolações. Um abraço do velho amigo da Presença.
ResponderExcluir