quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Amigo de Lula será investigado na Lava-Jato

Por André Guilherme Vieira e Letícia Casado - Valor Econômico

CURITIBA e BRASÍLIA - O pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, será investigado por suspeita de intermediar a contratação da sonda Vitória 10000 pela construtora Schahin. A Polícia Federal vai instaurar inquérito para apurar possíveis crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e fraude à licitação.

Termo sigiloso da delação premiada de Eduardo Musa a que o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, teve acesso informa que havia uma dívida de R$ 60 milhões da campanha presidencial do PT de 2006 com o Banco Schain e que para quitá-la o governo usaria o contrato da sonda. A Lava-Jato já reuniu indícios de que a Schahin pode ter ganho o contrato, sem licitação, como contrapartida por ter saldado a dívida. Segundo Musa, a Schahin não tinha estrutura para operacionalizar uma sonda como a Vitoria 10000.

O PT nega a denúncia e informa que não contraiu empréstimo no Banco Schahin. O Instituto Lula informa que desconhece "o suposto teor da delação, e por isso não haverá comentários" e reitera que o ex-presidente jamais autorizou que Bumlai, ou outra pessoa, utilizasse seu nome para qualquer espécie de lobby ou intermediação de negócios.

Lava-Jato irá investigar amigo de Lula
O pagamento de uma dívida de campanha de reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, será investigado pela Força Tarefa da Operação Lava-Jato. Os investigadores apuram se o pecuarista José Carlos Bumlai intermediou a contratação da sonda Vitória 10000 pela construtora Schahin para saldar dívida de R$ 60 milhões.

O Valor teve acesso a um dos termos sigilosos da delação premiada do ex-gerente da Petrobras e colaborador da Justiça, Eduardo Musa. O delator disse aos investigadores da Operação Lava-Jato que "havia uma dívida de campanha presidencial do PT de R$ 60 milhões junto ao Banco Schahin e que para quitá-la, o governo utilizaria do contrato de operacionalização da sonda Vitória 10000".

A Polícia Federal (PF) vai instaurar inquérito para apurar indícios de corrupção, lavagem de dinheiro e fraude à licitação pelos quais Bumlai é suspeito em razão de suposta interferência para que a Schain fosse escolhida pela Petrobras para operar a sonda Vitória 10000. Amigo próximo de Lula, Bumlai tinha livre acesso ao gabinete do ex-presidente.

A Operação Lava-Jato já reuniu indícios de que a Schahin pode ter ganhado o contrato da sonda Vitoria 10000, sem licitação, como contrapartida por ter saldado a dívida milionária. Segundo Musa, a Schahin não tinha estrutura para operacionalizar uma sonda como a Vitória 10000.

Dentro da Petrobras, Musa defendeu a construção desta e de outra sonda, a Petrobras 10000, que também contou com desvio de recursos, segundo a Lava-Jato. No entanto Musa disse que não havia fundamento técnico para construir as sondas e que não daria um parecer favorável aos projetos.

Afirmou também que conduziu os processos de contratação "para atender a pedido de seus superiores", e justificava que a expectativa futura de encontrar petróleo valia o investimento na sonda Vitória 10000. Assim, valia também fazer o contrato com periodicidade fora do padrão: "Este tipo de contratação normalmente se faz pelo prazo de três a cinco anos, mas no caso da Schahin, salvo engano, a contratação foi pelo prazo de dez anos, renováveis por mais dez anos", afirmou o delator.

Mas Musa também ganhou com a sonda Vitoria 10000. Aos investigadores, contou que acertou propina pelo negócio no valor de US$ 1 milhão com Fernando Schahin, filho do fundador do grupo e um dos dirigentes da companhia.

Os pagamentos foram efetuados entre 2011 e 2012, quando Musa já não estava mais na Petrobras. Segundo ele, em 2010, Fernando Schahin lhe disse que faria pagamentos mensais de US$ 48 mil por meio de suas offshores no exterior. No entanto, os pagamentos não foram regulares e Musa recebeu apenas US$ 720 mil - e não todo o valor previamente combinado.

Para receber o dinheiro, Musa abriu uma conta no banco suíço Julius Baer, em nome da offshore Debase. A propina foi paga por meio das offshores Casablanca, Deep Black Drilling, Black Gold Drilling e Dlife Drilling.

Quando foi questionar Fernando Schahin sobre o resto do dinheiro, Musa ouviu do executivo que o compromisso não seria honrado de forma integral por causa das dificuldades financeiras pelas quais o grupo Schahin passava.

De acordo com a versão de Eduardo Musa, tudo começou depois da campanha presidencial de 2006. Entre dezembro daquele ano e janeiro de 2007, Musa foi convidado para almoçar em restaurante no centro do Rio com um diretor do banco Schahin chamado Sandro. Nessa ocasião, disse ter conhecido Fernando Schahin. Sobre o encontro, Musa disse que "já imaginava o assunto e a razão pelo qual foi convidado para o almoço, porque já estava definida a operação da sonda pela Schahin".

Fernando Schahin "mencionou que a pessoa responsável por intermediar empréstimo entre o Banco Schahin e o PT era José Carlos Bumlai", disse Musa. "Fernando Schahin confirmou que a contratação da Schahin tinha por escopo quitar este empréstimo" da campanha do PT em 2006, relatou na delação. Os encontros com Fernando Schahin seguiram pelo ano de 2007, de acordo com Eduardo Musa.

O objetivo dessas reuniões, segundo Musa, era conversar sobre o andamento da negociação do contrato da Schahin com a Petrobras. Em um dos almoços, o assunto foi como incluir a Mitsubishi no projeto, o que acabou não acontecendo. As contas das refeições eram pagas por Fernando Schahin com cartão de crédito, disse o delator.

Musa contou ainda que a obra do Vitória 10000 foi incluída na "planilha da propina" em dezembro de 2006. Para facilitar a contratação da Schahin, houve uma negociação direta com a empresa sob o argumento de que ela já operava sondas em águas profundas "com uma performance excelente".

Musa disse que "este argumento não era totalmente verdadeiro, porque a Schahin operava apenas uma sonda chamada Lancer na Bacia de Campos, tendo uma performance não excepcional; que havia outras empresas mais capacitadas para o mesmo serviço, mas no caso a Schahin foi favorecida na contratação; que não houve tomada de preços para a contratação da Schahin", disse o delator aos investigadores.

O PT nega a denúncia e informa que não contraiu empréstimo junto ao banco Schahin. O Instituto Lula informa que desconhece "o suposto teor da delação, e por isso não haverá comentários" e reitera que Lula jamais autorizou que Bumlai "ou qualquer pessoa utilizasse seu nome em qualquer espécie de lobby ou intermediação de negócios. Lula não é investigado na Operação Lava-Jato e qualquer menção indevida a seu nome nesse contexto será objeto de avaliação das medidas jurídicas cabíveis".

A advogada Daniella Meggiolaro, que defende Bumlai, informa que seu cliente "nega qualquer intermediação de negócios em assuntos relacionados à Petrobras e vai continuar negando". O advogado Guilherme San Juan, que defende o grupo Schahin, disse que vai se manifestar nos autos do processo sobre as acusações feitas por Musa. O defensor refutou a colocação de que a Schahin não tinha estrutura para operacionalizar a Vitória 10000 e afirmou que a Schahin era a única empresa brasileira que tinha experiência na área na época, pois o grupo atua no setor de petróleo desde 1983. (Colaborou Cristiano Zaia, de Brasília)

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