quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Dora Kramer - Atestado de óbito

- O Estado de S. Paulo

Não é verdade que a comissão parlamentar de inquérito instalada para apurar corrupção na Petrobrás tenha chegado ao fim sem apresentar resultados. A CPI resultou numa falta de respeito sem tamanho pelo Poder Legislativo e seus eleitores.

Não que se esperasse grande coisa dessa e de outras comissões, cuja desmoralização os parlamentares em conluio com o Poder Executivo têm se empenhado em aprofundar. Ainda assim, o relatório do deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) surpreendeu. Pela desfaçatez, menosprezo aos fatos e subserviência à conveniência de autoridades, políticos e da diretoria da Petrobrás à época em que o esquema funcionou.

O deputado é um serviçal. E de baixa qualificação, conforme ficou demonstrado em sua passagem pela pasta das Relações Institucionais, da qual foi afastado por insuficiência de desempenho. Como relator da CPI, ele elaborou um documento final onde conclui pela inocência de deputados e senadores envolvidos, joga a culpa nas empreiteiras - que teriam agido sozinhas -, responsabiliza os investigadores e criminaliza o instituto da delação premiada.

Luiz Sérgio, pelo visto, sublimou o mandato. Senão o atual, a possibilidade de um próximo, considerando a negligência com que trata o bom senso de seus eleitores. O relatório parece ter sido feito com o objetivo de afirmar que a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio da Silva e ex-presidentes da Petrobrás nada têm a ver com o que se passou na empresa.

Para isso, não hesitou em estapear as evidências. Ignorou a mentira que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, contou quando foi à CPI negar a existência de contas no exterior e distorceu sem cerimônia alguma a realidade.

Afirmou que a CPI não encontrou provas e que os depoentes não forneceram sequer indícios sobre a participação de políticos. A comissão não encontrou porque não quis procurar. Ou se procurou e encontrou, omitiu. Não se sabe o resultado das investigações da empresa Kroll, contratada por RS$ 1 milhão, da mesma forma como se desconhece o produto de uma viagem feita por integrantes da CPI a Londres, alegadamente para “investigar”.

Os depoentes não forneceram material acusatório robusto porque a maioria simplesmente optou por se calar diante da comissão. A esse dado o relator não confere importância. Em outro trecho justifica a exclusão dos políticos argumentando que “CPI não é Conselho de Ética”, tentando restringir o foro adequado para manifestação de parlamentares.

Ora, comissões que produziram resultados - a do PC Farias, do Orçamento e dos Correios - não só ouviram como apontaram a responsabilidade de deputados e/ou senadores em transgressões. Alguns foram cassados, outros acabaram na cadeia. Nada, portanto, justifica o conteúdo do relatório.
Dele se depreende o motivo pelo qual há na mente de algumas pessoas, entre elas o ex-presidente Lula e o deputado Eduardo Cunha, a ideia de que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, deve ser afastado do cargo por não “controlar” as ações da Polícia Federal, da Justiça e do Ministério Público.

Quando existe quem se disponha a fazer qualquer papel, fica difícil entender que exista gente que respeita e compreenda os limites do poder.

Codinome. Nas anotações de Marcelo Odebrecht em poder dos investigadores da Lava Jato há uma referência, em código, a pagamentos no exterior. O beneficiário é identificado como “Feira”. Uma abreviação de “Feira de Santana”, juntando o nome da cidade baiana ao sobrenome do recebedor. Também baiano.

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