quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Presidente ganha tempo

Paulo Celso Pereira - O Globo

BRASÍLIA - O objetivo da reforma ministerial da presidente Dilma Rousseff é garantir oxigênio para atravessar a crise político- econômica em que se encontra. Após ser reeleita em outubro, a presidente decidiu montar o Ministério a seu bel- prazer, desprezando até os conselhos de seu padrinho político Lula. Agora, diante de uma crise econômica que exige sucesso em votações dificílimas no Congresso — incluindo a criação da nova CPMF —, ela finalmente se convenceu de que deveria seguir o receituário mais ortodoxo para salvar seu governo e seu mandato.

Repetindo o método adotado pelo ex- presidente Lula em 2005, no auge da crise do mensalão, Dilma retirou o Ministério da Saúde do PT e o entregou ao PMDB, ampliando o espaço do aliado na Esplanada, e reorganizando o núcleo do governo que cabe ao PT. A reforma de Lula em 2005 deu certo por uma série de motivos, entre eles o fato de a economia caminhar razoavelmente bem. No caso de Dilma, as incertezas são muitas, a começar pelo fato de ninguém saber ao certo quando a economia começará a se recuperar.

Sem a reação da economia, os cortes no Orçamento devem se acentuar. E sem orçamento, é difícil que a lua de mel com os deputados dure muito. Ontem, em Brasília, uma raposa peemedebista explicava de forma clara o porquê de seu ceticismo com a reforma: “Os deputados estão achando que vão chegar lá no ministério e vai ter um cofre de onde o ministro vai sair dando R$ 100 mil para resolver o problema de cada um. Na hora em que eles perceberem que não vai ter, vai recomeçar o berreiro”.

A reforma ministerial feita por Dilma lhe dará tempo e ela precisa disso. Tratase da grande cartada para salvar a si e ao projeto do PT. De agora em diante, o destino do governo dependerá muito da reconhecida habilidade política de Jaques Wagner, na Casa Civil; da liberdade que a presidente dará a seus ministros e de um tanto de sorte. Até para que, quem sabe dentro de um ano, o governo possa retomar as políticas públicas que acredita serem as melhores — com ou sem os ministros que devem ser anunciados hoje.

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