sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Bernardo Mello Franco: Água nas canelas

- Folha de S. Paulo

Não foi um súbito acesso de ética que levou o PSDB a abandonar o deputado Eduardo Cunha. Os tucanos só pularam do barco furado porque começaram a sentir a água nas próprias canelas.

A aliança já afetava a imagem do partido. Ao voltar a seus Estados, os parlamentares passaram a ser cobrados pelos eleitores. Era cada vez mais difícil se dizer indignado com a corrupção do governo e ignorar as provas contra o correntista suíço.

Ao mesmo tempo, o PSDB se deu conta de que foi enrolado por Cunha. O deputado usou o apoio do partido e a ameaça do impeachment para forçar o governo a negociar. Deu certo. Conseguiu um encontro com o ex-presidente Lula e conversas frequentes com o ministro Jaques Wagner.

Com atraso, os tucanos perceberam que o impedimento de Dilma Rousseff se tornou uma hipótese distante. O enfraquecimento de Cunha, as liminares concedidas pelo Supremo e a reforma ministerial fizeram o vento virar a favor do Planalto.

Isso não significa que a presidente deixou de correr riscos, mas obriga a oposição a lidar com um cenário em que o cenário mais provável é sua permanência até 2018. Foi por isso que Aécio Neves admitiu, nesta quinta, que o impeachment "não pode ser a pauta única" da oposição.

A ficha caiu para o senador, mas continua entalada na garganta do deputado Carlos Sampaio. No discurso em que anunciou o rompimento com Cunha, o líder do PSDB afirmou que o peemedebista não pode mais presidir a Câmara, mas ainda "tem todos os elementos" para deferir o pedido de impeachment.

Sampaio é um deputado criativo.

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"Quem é que não tem briga dentro de casa? Quem não tem um descontrole? Quem não exagera numa discussão?" Na tentativa de defender o indefensável, o deputado Pedro Paulo fez cariocas se lembrarem de uma frase do goleiro Bruno: "Quem nunca saiu na mão com a mulher?"

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