sábado, 21 de novembro de 2015

Caracas vive ‘tirania arbitrária’, diz ex-premiê espanhol

Cláudia Trevisan - O Estado de S. Paulo

WASHINGTON - A Venezuela vive sob uma “tirania arbitrária”, que não respeita as regras do jogo e cria uma situação desigual na disputa pelas eleições legislativas do dia 6, disse na noite de segunda-feira o ex-primeiro-ministro da Espanha Felipe González.

“Depois de tantas décadas, temos de falar de presos políticos. Como pode uma democracia sobreviver com presos políticos?”, declarou o socialista em Washington.

Crítico do presidente venezuelano Nicolás Maduro, González disse que a votação do mês que vem ocorrerá em um “estado de exceção”, com uma oposição marginalizada, sem acesso aos meios de comunicação de massa e com líderes na prisão, em detenção domiciliar ou no exílio.

“Todos os que não pensam como o governo são desqualificados e condenados como antipatriotas. Eu sei que nenhum governo da América Latina, com algumas exceções, está cômodo com essa situação”, afirmou González ao receber o prêmio Liderança para as Américas, concedido pelo Diálogo Interamericano.

Em junho, González viajou a Caracas com a expectativa de participar da defesa do opositor Leopoldo López, do ex-prefeito de San Cristóbal Daniel Ceballos – presos há mais de um ano –, e do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, detido em janeiro.

O socialista só conseguiu reunir-se com Ledezma, que cumpre prisão domiciliar, e não teve autorização para encontrar-se com os outros dois presos nem para acompanhá-los em audiências. Ceballos também está em prisão domiciliar. López está preso desde fevereiro de 2014 e foi condenado a quase 14 anos de prisão pela acusação de incitar violência em protestos.

González também foi um dos signatários de documento divulgado em abril por 25 ex-presidentes ibero-americanos que pediam a imediata libertação dos presos políticos e a realização de eleições “livres e justas” na Venezuela.

Segundo ele, o governo de Maduro promove a destruição da democracia, das liberdades, da institucionalidade, da economia e da segurança do país, no qual há mais mortes violentas do que no Iraque. “Na Venezuela não há uma ditadura, há uma tirania arbitrária”, disse, sob aplausos. “Quando não se respeitam as regras do jogo, o poder se exerce arbitrariamente. Todos temos a obrigação de dizer basta já. Respeite a seus próprios cidadãos, não os divida, aceite a democracia e as regras do jogo.”

O ex-premiê espanhol avaliou que será “impossível” uma vitória do governo nas eleições do próximo mês. Ainda na segunda-feira, uma pesquisa divulgada pela empresa Datanalisis mostrou que a oposição venceria a disputa com 63% dos votos, 35 pontos porcentuais acima do alcançado pelo governo.

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