sábado, 21 de novembro de 2015

Clima incerto – Editorial / Folha de S. Paulo

Os atentados terroristas em Paris dificilmente levarão ao adiamento da conferência mundial sobre mudança do clima (COP21), marcada para começar no próximo dia 30, na capital francesa. Tal é a disposição reafirmada pelo presidente François Hollande e apoiada pelos líderes do G20 na reunião que terminou na segunda-feira (16).

Não há dúvida, de todo modo, de que a 21ª reunião da Convenção da ONU sobre Mudança do Clima ocorrerá à sombra de prioridades alteradas. Quando vários países se deparam com ameaça tão chocante e imediata, terminam em segundo plano os riscos climáticos que terão de enfrentar no futuro.

Esse não foi o único fator, porém, que levou as 20 maiores economias do mundo a obter escasso avanço nessa questão durante o encontro realizado na Turquia.

O processo internacional de negociação sobre formas de combater o aquecimento global se arrasta há mais de duas décadas porque precisa obter a concordância de 195 países quanto à melhor maneira de descarbonizar a economia global —ou seja, de reduzir sua dependência de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural).

A meras duas semanas do evento decisivo na capital francesa, a reunião do G20 evidenciou como ainda é muito incerto que de Paris resulte um acordo capaz de pôr o mundo na trilha necessária para minimizar o risco de fenômenos extremos, como tormentas, ondas de calor e secas devastadoras.

Considera-se prudente impedir um aumento da temperatura média da atmosfera terrestre acima de 2°C (ou 1,2°C além do 0,8°C já registrado). Para isso, as emissões de gases do efeito estufa precisariam ser zeradas até 2050.

Os compromissos nacionais até agora, voluntários, não garantem isso. Pelas últimas estimativas, caminha-se ainda para um inquietante aquecimento de 3°C.

Um poderoso instrumento para reverter esse rumo seria suspender os subsídios aos combustíveis fósseis, calculados em US$ 5,3 trilhões anuais (mais que o dobro do PIB do Brasil). O G20 pôs o tema em pauta, mas nada de concreto incluiu no comunicado final.

"Reafirmamos nosso compromisso de racionalizar e eliminar subsídios ineficientes a combustíveis fósseis que encorajem o consumo desnecessário, no médio prazo, reconhecendo a necessidade de apoiar os pobres", diz o documento. "Estaremos empenhados em fazer progresso adicional na direção desse compromisso."

As lideranças mundiais se limitaram a repetir a ladainha sobre a necessidade de um acordo ambicioso e com força legal em Paris —mas os sinais que emitiram na Turquia apontam no sentido oposto.

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