terça-feira, 24 de novembro de 2015

Contra Cunha, petistas desafiam Planalto

• Articuladores da presidente Dilma Rousseff se reúnem com bancada do partido e pedem respeito ao pacto de não agressão firmado com o presidente da Câmara

Daniel Carvalho, Daiene Cardoso e Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Apesar do pacto de não agressão firmado entre o Planalto e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), os deputados do PT que integram o Conselho de Ética disseram que vão votar a favor do parecer do relator Fausto Pinato (PRB-SP), pelo seguimento do processo de cassação do mandato do peemedebista.

Preocupado com a paralisia do plenário da Câmara num momento em que precisa votar medidas importantes para o ajuste das contas públicas, o governo orientou deputados do PT a não entrarem em confronto Cunha. O ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, reuniu nesta segunda-feira, 23, parlamentares do PT, no Palácio do Planalto, e pediu que eles não reforcem provocações contra o peemedebista, mas, segundo o Estado apurou, os deputados deixaram o encontro dispostos a contrariar a orientação.

À noite, deputados da corrente petista Mensagem ao Partido jantaram com o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner. Antes do encontro, em conversas reservadas, alguns disseram que exporiam a insatisfação com a forma de tratamento de Cunha por avaliarem que até mesmo o pacto de não agressão “pega muito mal” para o PT e pode ser mais um ponto negativo para o partido em 2016.

Os deputados do PT no Conselho de Ética Valmir Prascidelli (SP), Leo de Brito (AC) e Zé Geraldo (PA) negaram ter recebido qualquer orientação da sigla para proteger Cunha por causa do pacto de não agressão firmado entre o Planalto e o peemedebista.

“O Planalto nem fez nem faria isso. O que me dá segurança (para afirmar isso) é a postura da presidente Dilma e de seus ministros”, afirmou Prascidelli, que na quinta-feira apareceu na reunião do conselho somente depois que a sessão já havia começado.

Leo de Brito disse acreditar que há “indícios suficientes pela continuidade”. O parlamentar, que só chega a Brasília na manhã desta terça-feira, 24, afirmou não ter comparecido à reunião da semana passada por já ter se comprometido a acompanhar agenda do ministro Henrique Eduardo Alves (Turismo) em seu Estado.

Prascidelli disse que também deve votar pela admissibilidade. “Acho muito difícil não haver continuidade do processo. O fim do processo significaria a Câmara se omitir. Isso seria muito ruim”, afirmou. “A tendência dos três é votar pela admissibilidade”.

Zé Geraldo não foi localizado pela reportagem, mas seu gabinete informou que ele chegaria no final da noite de segunda-feira e participaria da sessão. Na quinta-feira da semana passada, o deputado disse ao Estado que “votaria com o relator”. Ele também só apareceu à reunião depois que ela já havia sido iniciada.

O ministro da Secretaria da Comunicação Social, Edinho Silva, negou oficialmente que o Planalto tenha orientado a bancada do PT a apoiar o presidente da Câmara. Segundo ele, a sigla tem “total autonomia” para construir suas posições dentro do Legislativo.

O receio do governo é porque, apesar de muito fragilizado, Cunha ainda tem a caneta para dar o pontapé inicial no processo de impeachment.

O relatório de Fausto Pinato deve ser lido nesta terça-feira, mas a votação deve ficar para a próxima semana já que aliados de Cunha pedirão vista. Adversários prometem procurar a Procuradoria-Geral da Justiça e o Supremo Tribunal Federal para pedir o afastamento dele do cargo.

Cunha comparou sua situação à da presidente Dilma Rousseff. “Estou vendo a mesma campanha, pelos mesmos adversários, que fazem rodízio para fazerem os mesmos discursos. Nada mudou. A presidente da República tem um dígito de popularidade. Não quer dizer que ela vai ter que deixar o Poder por causa disso.” O peemedebista lembrou que foi eleito por maioria dos deputados e enfatizou que não aceitará o questionamento da legitimidade de sua eleição.

Apesar de dizer que o resultado do julgamento do Conselho de Ética não estar atrelado à abertura do processo de impeachment de Dilma, Cunha disse que pode decidir a questão ainda nesta semana.

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