quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Cunha diz que clima para impeachment de Dilma esfriou

Por Raphael Di Cunto e Thiago Resende - Valor Econômico

BRASÍLIA - Em jantar com deputados do PMDB que defendem o impeachment da presidente Dilma Rousseff, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que não há mais clima este ano para o andamento do processo e talvez nem no ano que vem, segundo relato de cinco pemedebistas. "Ele acha que o clima esfriou. A população não está mais mobilizada e sem isso não tem impeachment", afirmou o deputado Hildo Rocha (MA).

Cunha negou as declarações e disse que vai definir a resposta ao pedido de impeachment dos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior, apoiado pela oposição, ainda este mês. "Não mudei nada a minha posição. Não procede", disse. "Não tratei desse assunto. Foram comentários difusos deles mesmos durante o jantar que eu não participo", afirmou.

Segundo os parlamentares, o jantar ocorreu na noite de quarta-feira, logo após o PSDB anunciar em plenário o rompimento da aliança com o presidente da Câmara, movimento que irritou o pemedebista. Os pemedebistas pediam há algum tempo uma reunião com o correligionário e Cunha os chamou para explicar as acusações sobre seu dinheiro no exterior.

Após Cunha mostrar passaportes de viagens à África e tentar se explicar, a conversa passou por vários temas, entre eles o impeachment. "O presidente defende o rompimento com o governo, mas nossa impressão é que ele não tem mais disposição para o impeachment", disse o deputado Carlos Marun (MS). "A rua perdeu o calor e essa Casa reflete as ruas", completou.

Na avaliação do grupo, além da falta de organização popular, o governo conseguiu uma base mínima para barrar o processo com a reforma ministerial e distribuição de cargos. "Não tem mais clima realmente. O governo fez uma recomposiçãozinha que garantiu alguns votos e, para afastar ela [Dilma], precisa de 342 votos pelo impeachment", disse Lúcio Vieira Lima (BA).

O sentimento dos pemedebistas, que não fazem parte do núcleo mais próximo do presidente da Câmara, é de que ele, com o PSDB rompido, vai segurar o processo para pressionar os três deputados do PT a votarem com ele no Conselho de Ética da Câmara, que começa a analisar hoje o parecer preliminar da representação que pretende cassar seu mandato.

De acordo com aliados, Cunha deve apresentar hoje sua defesa no Conselho e pode até pedir a suspeição do relator, deputado Fausto Pinato (PRB-SP), por suposto cerceamento de defesa e por informar, antes do fim do prazo, que o parecer é favorável ao andamento do processo. A estratégia é "tumultuar" a sessão do conselho e evitar a votação do parecer.

O presidente do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, José Carlos Araújo (PSD-BA), disse ao Valor que não há possibilidade de Pinato sair da relatoria. "Zero chance". E completou ainda com um aviso ao pemedebista: "Ele [Cunha] é presidente da Câmara, e eu sou presidente daqui [do Conselho de Ética]".

A contestação do parecer de Pinato pode levar o caso para a Comissão de Constituição e Justiça.

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