quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Dora Kramer: Ouro de tolo

- O Estado de S. Paulo

Os procuradores que explicaram as razões da prisão do pecuarista José Carlos Bumlai foram bastante cuidadosos nas referências a possível envolvimento do ex-presidente Luiz Inácio da Silva nas tramoias do amigo, assim como o juiz Sérgio Moro, ao salientar que não existem provas contra Lula.
Nem por isso descartaram essa hipótese liminarmente, o que significa que a levam em conta e que a citação ao nome do ex-presidente deixou de ser um tabu. Natural que assim seja, pois aos investigadores compete chegar ao topo da cadeia de comando do esquema de corrupção montado para, segundo eles, abastecer os cofres de pessoas jurídicas e os bolsos de pessoas físicas.

Disseram ontem que os empréstimos fraudulentos obtidos por Bumlai, ao que tudo indica, tinham esse objetivo e repetem o método empregado por Marcos Valério de Souza no caso do mensalão. Por esse raciocínio, o pecuarista amigo com passe livre (não por acaso o nome da operação em curso) no Palácio do Planalto à época do governo Lula seria o operador substituto de Valério.
Ainda de acordo com os procuradores, ao menos uma dessas transações foi comprovadamente feita sob os auspícios de Delúbio Soares e José Dirceu à época em que um era tesoureiro do PT e, o outro, chefe da Casa Civil, braço direito do presidente.

De onde tem fundamento a avaliação do atual governo de que a Lava Jato tem por objetivo chegar a Lula. Mas, não a fim de persegui-lo, como prefere enxergar o Planalto, mas com o objetivo de esclarecer se o mandatário supremo do partido e do governo onde tudo se passou tinha, ou não, o domínio dos fatos.

Caso tudo tenha se dado à sua revelia, Lula não tem o que temer. A Lava Jato chegará a ele. Para acusá-lo ou inocentá-lo. Ainda que na última hipótese fique assentado que fez papel de tolo na Presidência.

Responsabilidade moral. Os partidos no Brasil têm, por força da Constituição, caráter nacional. Portanto, não há questões que possam ser consideradas alheias às direções como quer fazer crer a cúpula do PMDB ao tentar tratar dos casos de Eduardo Cunha e do secretário de Governo da prefeitura do Rio, Pedro Paulo Carvalho, como episódios de natureza pessoal desvinculados do partido.

Da conduta dos indivíduos é que se firma a opinião do público sobre o conjunto, conforme atesta o desgaste do PT. Até agora a Executiva Nacional não se manifestou sobre a situação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha.

O partido não o defende, mas também não diz o que pensa sobre as denúncias que o cercam, as manobras regimentais para tentar postergar o processo no Conselho de Ética, as versões inverossímeis sobre as acusações ou sobre sua permanência no cargo que tanto repúdio desperta em toda parte. Inclusive na sociedade à qual o PMDB pretende se mostrar como alternativa confiável e competente de governo.

Da mesma forma, o partido faz questão de ignorar o que se passa no Rio de Janeiro, onde ocupa o governo do Estado e a prefeitura da capital. Ali, as autoridades pemedebistas acabam de reafirmar seu apoio à candidatura de um homem violento e, além de tudo, mentiroso. Ao qualificar de “balelas” e “fofocas” as ocorrências de agressão devidamente registradas e comprovadas cometidas por Pedro Paulo, o PMDB fluminense faz opção preferencial pelo machismo e desrespeito à lei.

Se a direção nacional acha que nada disso tem importância e que, principalmente, não tem nada a ver com isso, é porque não está entendendo nada do que se passa a seu redor. Fala em modernização, mas atua de maneira obsoleta.

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