segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Em guerra – Editorial / Folha de S. Paulo

Menos de um ano após o selvagem ataque ao semanário "Charlie Hebdo" –quando 12 pessoas foram assassinadas em janeiro–, Paris sofreu, na sexta-feira (13), uma investida terrorista de caráter indiscriminado, com dimensões muito maiores (mais de 120 mortos e centenas de feridos), e que deverá exacerbar a xenofobia na Europa.

Várias perguntas se colocam, mais uma vez, após a bárbara ação do extremismo islâmico.

Mecanismos de rastreamento de comunicações, infiltração de agentes em comunidades ligadas ao fundamentalismo, detectores de metais, policiamento ostensivo nas ruas –o que estará faltando, e o que há ainda para ser inventado, de modo a reduzir a sensação de risco que se apodera de qualquer cidade civilizada?

É fora de dúvida que as ações do Estado Islâmico (EI) vão assomando a outro patamar nos últimos tempos. De iniciativas restritas ao território sob sua ocupação, a organização terrorista passa a atuar de forma global.

Não há como assistir passivamente a essa escalada. Impõe-se a coordenação multilateral dos esforços para esmagar uma milícia que, apesar do nome, ainda não se instituiu como um Estado.

Ademais de uma empreitada militar conjunta e cabal contra o grupo terrorista, cumpre atuar de forma implacável contra seus mecanismos de financiamento, comunicação e aliciamento de militantes.

O EI se fortalece através da venda do petróleo e da energia elétrica, produzidos nos territórios sob seu domínio. As fontes de seu financiamento podem ser monitoradas e estancadas por meio de rígida vigilância internacional. Não há razão, apesar do impacto emocional que tantos atos de barbárie inevitavelmente produzem, para dar como impossível ou distante uma vitória sobre o grupo.

Segundo alguns analistas, em um ano e meio de ataques ao EI, sua área de poder reduziu-se em 25%. A multiplicação de frentes de batalha, com os recursos de tecnologia à disposição dos países mais poderosos do planeta, tem revelado deficiências na organização.

Numa ordem diversa de considerações, as fontes ideológicas do islamismo radical também precisam ser enfrentadas. Os extremistas pretendem, sem dúvida, arrebanhar –pelo sucesso das mutilações, do assassinato, do horror e da maldade– um punhado a mais de jovens sem rumo, postos à margem de uma sociedade próspera.

Não há, como é fácil de ver, resposta única ao desafio, que exige mais prevenção policial, mais integração das minorias islâmicas e redobrado esforço militar.

O desafio é imenso e não será resolvido tão cedo. Mas por sua essência ser plural, diferenciada, flexível e, sobretudo, menos irracional do que a de seus adversários, a civilização democrática conta, por isso mesmo, com as condições de vencer o terror e a estupidez.

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