terça-feira, 10 de novembro de 2015

Governo ameaça multar caminhoneiros parados

• Polícia Rodoviária aplicará punição de R$ 1.900 por bloqueio em estradas

No primeiro dia de greve, houve interdições em 48 trechos de rodovias em 12 estados, inclusive na Via Dutra

Após um dia de bloqueios de 48 trechos de rodovias em 12 estados do país, o Ministério da Justiça determinou ontem à noite que a Polícia Rodoviária Federal multe em R$ 1.900 os motoristas de caminhões que impedirem a circulação nas estradas. A greve está sendo organizada via redes sociais pelo Comando Nacional de Transporte (CNT), mas não tem o apoio de outros sindicatos de caminhoneiros. Para o governo, a greve é política. Produtores de aves e suínos temem que a paralisação afete as exportações.

Freio para caminhoneiros

• Governo diz que multará motoristas por bloqueios. Greve chega a 12 estados

Danilo Fariello, Catarina Alencastro, Dicler Mello e Souza, João Sorima Neto, Fernando Donasci e Heloísa Traiano - O Globo

-BRASÍLIA, BARRA MANSA, SÃO PAULO e RIO- O governo federal atuou ontem para enfraquecer a greve de caminhoneiros convocada por um grupo que bloqueou 48 pontos de rodovias em 12 estados. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciou que os caminhoneiros que tentarem impedir o “direito de ir e vir” receberão multas de mais de R$ 1,9 mil. Para Cardozo, os líderes do movimento não têm uma reivindicação da categoria dos caminhoneiros, mas uma “pauta política”. Um reflexo disso é a falta de apoio à greve atual por outras entidades da categoria. A principal reivindicação dos grevistas é a renúncia da presidente Dilma Rousseff.

Segundo nota da Polícia Rodoviária Federal (PRF), às 19h de ontem, havia cinco rodovias federais totalmente interrompidas no país e 23 com interdição parcial. Outras 21 tinham manifestantes, mas sem prejuízo ao trânsito.

Cardozo destacou, em declaração em áudio distribuída pelo ministério, que o movimento é político, “sem nenhum viés de reivindicação para a categoria dos caminhoneiros”:

— Fechar uma estrada, paralisar uma estrada, é algo que efetivamente não se aceita num Estado de direito, numa democracia. Então, portanto, nós temos a absoluta clareza de que esse movimento, exatamente por essa característica política, tem tido uma baixa adesão por parte dos caminhoneiros em geral no Brasil. Ele é um movimento de baixa intensidade, mas muito pulverizado, até porque as entidades sindicais não têm apoiado esse movimento.

Mais cedo, o ministro Edinho Silva, da Comunicação Social, disse que a greve era pontual e tinha como único objetivo desgastar o governo. Segundo ele, o governo está aberto ao diálogo, mas também destacou que não há uma pauta de reivindicação.

Apesar da ameaça do ministro Cardozo de ser rigoroso com as multas, os caminhoneiros poderão contar no futuro com a boa vontade de alguns políticos. Em março, a Câmara dos Deputados aprovou a toque de caixa, com apenas dez dias de tramitação, projeto de lei que anistia os caminhoneiros de multas pelas manifestações de fevereiro. O texto ainda está parado no Senado e, portanto, não entrou em vigor.

No primeiro dia da mobilização organizada pelo Comando Nacional do Transporte (CNT), o movimento chegou a interditar totalmente o tráfego na Via Dutra, na altura de Barra Mansa, no Sul Fluminense. Os dois sentidos foram liberados por volta das 16h, segundo a Polícia Rodoviária Federal. Durante o bloqueio, o grupo só permitia que caminhões com oxigênio, ambulâncias, veículos de passeio e ônibus passassem.

Para o carreteiro autônomo Carlos Antunes Oliveira, que aderiu à manifestação, a greve é para dizer “basta” à corrupção instalada no país, que, afirma ele, está derrubando as empresas.

Em São Paulo, os caminheiros ocuparam três faixas da pista expressa da Marginal Tietê, uma das principais vias da cidade. Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), o bloqueio criou congestionamento de cerca de 15 quilômetros na pista que leva às rodovias Dutra e Ayrton Senna. A via expressa só foi liberada às 14h. E, mesmo sem uma liderança definida, caminhoneiros reunidos em um posto da rodovia Anhanguera, em Jundiaí, defendiam a greve em protesto contra o governo e por melhores condições para a categoria.

— Sou assalariado e, se a firma mandar sair com o caminhão, eu saio. Se mandar fazer greve, eu faço. Só não passo em bloqueio. A greve é encabeçada por autônomos, e a coisa está feia para todos por causa desse governo — explicou Altair Bertocci, que não tinha aderido à greve.

Alex Sandro Barbim, por sua vez, listou motivos como a crise econômica para apoiar a greve:

— Mesmo trabalhando como assalariado, está muito ruim, porque sou comissionado, e as entregas diminuíram. Com isso, meu salário fica muito baixo, e não consigo pagar minhas contas. Sou a favor da greve pacífica, sem quebradeira. Pago R$ 17 na marmita na estrada, tem dias que é difícil até de comer.

Outros sindicatos de caminhoneiros criticaram os protestos. A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) classificou como imoral “qualquer mobilização que se utiliza da boafé dos caminhoneiros autônomos para promover o caos no país”. Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), filiada à CUT, os caminhoneiros estão sendo usados em prol de interesses políticos. O líder do Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC), Nelio Botelho, disse que a força do primeiro dia de greve superou as expectativas da organização. No entanto, afirmou que a entidade não vai participar de eventuais protestos, assim como não atuou na paralisação do primeiro semestre.

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