sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Inflação no ano chega a 8,52%, a mais alta desde 1996

• Combustíveis foram o principal responsável pela alta de 0,82% do IPCA em outubro, diz IBGE

Por Andrea Freitas – O Globo

RIO - O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, ficou em 0,82% em outubro, acelerando frente ao 0,54% registrado em setembro, quando ficou em 0,54%. É a maior taxa para meses de outubro desde 2002 (1,31%). O resultado divulgado nesta sexta-feira pelo IBGE também ficou acima do 0,42% registrado no mesmo mês do ano passado. No acumulado dos últimos 12 meses, chegou a 9,93%, o mais alto desde 2003. E, no ano, soma 8,52%, o maior patamar desde 1996, quando o índice ficou em 8,70%.

— O resultado geral do Brasil em 12 meses quase encostou nos dois dígitos, foi por um triz. Olhando individualmente os estados, cinco deles já ultrapassaram os 10% e a população está sendo mais penalizada pela inflação — diz Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.

Segundo ela, o índice chega a dois dígitos até o fim do ano:

— O que ainda se espera por vir, para novembro, são altas em alguns itens monitorados, e o que mais tem impacto é o da energia elétrica. Os dois dígitos já estão muito próximos e vai depender do resultado dos dois últimos meses, que no ano passado foram muito altos. Que números serão trocados pelos do ano passado?

O resultado de outubro ficou acima das expectativas. O Bradesco, por exemplo, esperava avanço de 0,80%, puxado pela elevação dos preços de alimentação e pelo reajuste dos combustíveis.

— Em setembro do ano passado, taxa chegou a 6%, em julho chegou a 9% e parece que está gostando, porque é o quarto mês que está nessa casa. E está namorando com 10% — afirma Eulina.

Os combustíveis foram o principal responsável pela alta de 0,82% do IPCA em outubro, com um impacto de 0,30 ponto percentual, sendo responsável por 37% do índice. A gasolina subiu em média 5,5%, com impacto de 0,19 ponto percentual na taxa. Nos últimos 12 meses, a alta acumulada é de 17,93%.

— Faltam só dois meses para terminar o ano e o resultado está aí, o IPCA ficou em 0,82% e foi dominado pelos transportes que é o segundo grupo de maior peso logo depois dos alimentos. É a sobrevivência, a alimentação e o transporte para trabalho escola — explica a coordenadora do IBGE.

O etanol subiu ainda mais: 12,29%, mas como tem participação menor no orçamento familiar, contribuiu com 0,10 ponto percentual. O diesel registrou alta de 0,15%, com elevação de 3,26% nos preços.

O reajuste do preços dos combustíveis fez o segmento transportes ter o maior resultado de grupo em outubro, com alta de 1,72%. Passagens aéreas (4,01%), pneu (0,94%), ônibus intermunicipal (0,84%), conserto de automóvel (0,69%) e acessórios e peças (0,46%) também puxaram o resultado para cima.

Alimentação
O grupo alimentação e bebidas registrou a segunda maior alta no IPCA de outubro, com 0,77%. Enquanto Belém registrou a maior variação, de 1,61%, o Rio de Janeiro teve a menor, de 0,28%. A alimentação fora de casa variou 0,93%, acima dos alimentos consumidos em domicílio, com 0,68%. Assim, nos últimos 12 meses, esse grupo acumula elevação de 10,39%.

No mês, a maior alta em alimentos foi do frango inteiro, que acelerou de 1,45% em setembro para 5,98% em outubro. Em 12 meses, a elevação já chega a 9,33%. O açúcar subiu 4,43% e o alho, 4,12% no ano, sendo que este último acumula elevação de 41,83%, A cerveja registrou alta de 4,06% no mês, enquanto o arroz subiu 3,77%.

— No geral, a gente tem pressão do câmbio, das chuvas e da exportação, porque com o dólar mais alto as commodities ficam mais caras aqui e estimula as exportações — comenta Eulina.

No grupo habitação, que variou 0,75%, o botijão de gás foi o destaque, com alta de 3,27% mesmo após ter subido 12,98% em setembro. Em dois meses, a elevação é de 16,67% devido ao reajuste de 15%nas refinarias autorizado pela Petrobras a partir de 1 de setembro.

— Quando a gente olha em 12 meses, habitação lidera com 18,25% seguido por alimentação com 10,39%. Os dois respondem juntos por 53,07% do resultado em 12 meses — explica a gerente.

Energia elétrica
Já a energia elétrica, que também compõe o grupo habitação, registrou alta de 0,87%, seguida por mão de obra para pequenos reparos (0,58%), aluguel (0,57%) e artigos de limpeza (0,41%).

Nos demais grupos pesquisados pelo IBGE, os destaques de alta ficaram com excursão (2,70%), plano de saúde (1,06%), empregado doméstico (1,30%), telefone fixo (0,86%) e celular (0,50%).

Das 13 regiões analisadas pelo IBGE, seis registraram variação em outubro acima da média nacional de 0,82%. A mais alta ficou com Brasília (1,24%). O Rio de Janeiro registrou a menor taxa, de 0,49%. No acumulado em 12 meses, cinco locais já superam os dois dígitos, sendo que Curitiba (11,52%) e Goiânia (11,19%) passaram da casa dos 11%. Em São Paulo, o IPCA nesse período é de 10,4%, enquanto no Rio é de 9,90%.

Eulina explica que a situação no país hoje é bem diferente da de 1996, único ano em que a inflação entre janeiro e outubro ficou acima da deste ano:

— Ainda existia processo de desindexação, era muito perto do início do Plano Real. Não tem comparação, são contextos muito distintos. Este ano são índices monitorados, que não têm como ser substituídos, o que se pode fazer é economizar. A pressão agora é de energia, alimentos e combustíveis.

INPC
Segundo Eulina, em 12 meses, o INPC passou dos dois dígitos este mês, chegando a 10,33%. Isso significa, afirma ela, que a população de renda mais baixa que tem os alimentos com maior participação está sofrendo mais.

— O gás de cozinha também pesou muito, por causa do botijão, assim como alimentos, transportes e energia.Os alimentos pesam 30,31% no INPC enquanto no IPCA o peso é de 24,92%.

Prévia
O IPCA-15 de outubro, considerado a prévia da inflação oficial, ficou em 0,66% — a maior taxa para o mês desde 2002, quando ficou em 0,90%. A taxa acumulada de janeiro a outubro, de 8,49%, foi a mais alta para o período desde 2003 (9,17%). Já a inflação acumulada nos últimos 12 meses, de 9,77%, foi a maior já registrada desde dezembro de 2003 (9,86%).

A meta de inflação do governo é de 4,5%, podendo variar dois pontos para cima ou para baixo. Mas economistas ouvidos pela pesquisa Focus realizada semanalmente pelo Banco Central acreditam que o índice de preços só vai voltar ao centro da meta após 2018. A expectativa, de acordo com a sondagem divulgada na última segunda-feira, é que 2015 termine com uma inflação de 9,81%. Em 2016, o IPCA ficaria um pouco acima do teto, em 6,58%, e encerraria 2017, em 5,16%. Em 2018, a taxa seria de 4,90%.

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