quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Jarbas de Holanda: Economia e a governabilidade de um novo presidente podem juntar PMDB e PSDB, acima de projetos eleitorais

A erosão da perspectiva de impeachment via desencadeamento pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que perdeu as condições políticas, além das éticas, de fazê-lo, ao invés de ultrapassagem das demandas de impedimento da presidente Dilma dá lugar, neste final de ano, a uma reafirmação delas por meio de cobranças distintas das anteriores, e com horizonte de março ou abril próximos. Decorrentes, basicamente, da percepção pela maioria dos agentes econômicos da incapacidade do governo Dilma de dar respostas, conjunturais e estruturais, ao agravamento da recessão e ao cenário de longa persistência dela e de seus agudos efeitos sociais. E refletidas na disposição da executiva do PMDB de colocar-se como alternativa para viabilização de tais respostas, através da pauta liberal e antiestatizante da “ponte para o futuro”.

Iniciativa da direção do partido – do qual depende a sustentação do Executivo no Congresso – que adensa a possibilidade de troca de governo. E que, até pela ampla repercussão favorável que teve nos círculos empresariais e na mídia, apressou uma reorientação tática do comando do PSDB. De um lado, substituindo o respaldo à bancada da Câmara na tentativa do impeachmentreclamado pelas manifestações de rua, e liderado pela oposição, por um entendimento com a cúpula peemedebista em torno de um governo chefiado por Michel Temer. De outro lado, na perspectiva desse governo, apoiando algumas medidas do ajuste fiscal, como a ampliação negociada, de 20% para 25%, da Desvinculação das Receitas da União, a DRU. Sem que isso implique necessariamente participação no mesmo, nem abandono das prioridades eleitorais no pleito municipal à vista e no presidencial de 2018, que estarão presentes na atualização do programa partidário a ser tornada pública no início de dezembro. Prioridades que devem incluir a afirmação dos tucanos como a força política que se contrapôs aos três governos petistas e se considera capaz de liderar um novo ciclo de crescimento econômico e desenvolvimento social sustentado. Contraposição e promessa que passarão a ser disputadas por um PMDB que consiga substituir o fisiologismo que o tornou principal aliado e cúmplice desses governos pela respeitável pauta da “ponte para o futuro”.

O entendimento entre os dirigentes dos dois partidos poderá encaminhar a troca de governo através de um ou mais dos vários processos que apuram possíveis crimes eleitorais e de irregularidades e abusivos gastos do Tesouro (pedaladas) e das estatais – no TSE e nas duas casas do Congresso. Uns e outros (processos) apoiados nas investigações das operações Lava-Jato, Zelotes e Acrônimo. E estimulados pela paradeira do conjunto das atividades produtivas, por juros extorsivos, por aumento da carga tributária, por inflação e desemprego no patamar dos dois dígitos. De par com o impacto na sociedade da sequência das investigações da Lava-Jato e das demais operações anticorrupção.

É em meio à emergência desses novos riscos de interrupção do mandato de Dilma, que o ex-presidente Lula enfrenta dois desafios: preservá-lo (assumindo plena tutela sobre a sucessora, ao que ela está resistindo) e, ao mesmo tempo, reverter ou ao menos conter o enorme desgaste político e eleitoral do PT. Para preservar o governo, comandou uma “reforma ministerial” cujo propósito básico foi – e se tornou ainda maior agora – impedir o descolamento do PMDB. Ao que se segue a busca do controle de indicação de novo ministro da Fazenda, na tentativa de uma impossível quadratura do círculo: que o Executivo federal recupere um mínimo de credibilidade junto a investidores internos e externos e que retome rapidamente estímulos fiscais e creditícios (dos bancos públicos) ao consumismo. Isto constituindo peça-chave para que os candidatos petistas não sejam destroçados nas eleições municipais de 2016. O que pode, ao contrário, piorar muito com os resultados das investigações do Ministério Público e da Polícia Federal, que se aproximam cada vez mais do próprio Lula. Num contexto resumido assim por Merval Pereira, em sua coluna de anteontem no Globo: “O roteiro está escrito detalhadamente à medida em que as delações se sucedem, e caberá à Justiça juntar as peças desse quebra-cabeças no final, em que a efígie de Lula já surge como o protagonista”.

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Jarbas de Holanda, jornalista

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