quinta-feira, 19 de novembro de 2015

‘Meu filho tem que provar que fez a coisa certa’

• Em entrevista, Lula diz que Luis Claudio precisa explicar a relação que teve com lobista investigado na Zelotes

Sérgio Roxo - O Globo

-SÃO PAULO- O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em entrevista ao jornalista Roberto D’Ávila, exibida ontem na Globo News, que caberá ao seu filho caçula, Luis Claudio Lula da Silva, explicar a sua relação com o lobista Mauro Marcondes, investigado pela Operação Zelotes da Polícia Federal.

— Meu filho sabe o seguinte: ele tem que provar que fez a coisa certa. Tem que provar. E é importante que seja para provar mesmo. Se ele não provar, está subordinado à mesma Constituição que eu estou, às mesmas leis que eu estou. É chato? É. Mas é bom — disse Lula.

A empresa de Luis Claudio, a LFT Marketing, recebeu R$ 2,5 milhões da Marcondes & Mautoni, que teria feito lobby no Planalto para aprovação de uma medida provisória que beneficiou a indústria automobilística, em 2009.

Na entrevista, o ex-presidente também disse que os funcionários da Petrobras envolvidos com corrupção trabalhavam na estatal antes da sua chegada ao poder, e que tirar a presidente Dilma Rousseff do cargo seria “pisotear a Constituição”.

Apesar de defender a necessidade de seu filho se explicar, Lula se queixou de receber tratamento diferenciado de outros políticos e garantiu que nunca teve relações irregulares com qualquer empresário:

— Fui presidente do sindicato (dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema), fui presidente do PT, fui presidente da República e nunca um desgraçado neste país falou assim para mim: “Ô Lula, quero te dar uma pera.” Se tem uma coisa que eu tenho orgulho, é isso. SUSTO COM CORRUPÇÃO Questionado por Roberto D’Ávila se ficou surpreso com o fato de as investigações da Operação Lava-Jato mostrarem que uma quadrilha atuava dentro da Petrobras, Lula disse:

— Acho o seguinte, acho que foi um susto para mim. E foi um susto para o mundo. As pessoas que estão participando dessa quadrilha são pessoas que têm mais de 30 anos de Petrobras. São pessoas que entraram na Petrobras, nem no governo do Fernando Henrique Cardoso, entraram nos anos 70, nos anos 80.

O ex-presidente se esquivou da responsabilidade sobre a nomeação de diretores da estatal que depois foram envolvidos na Lava-Jato:

— Eu espero que um dia Deus, vendo tudo que está acontecendo no Brasil, carimbe na testa das pessoas o que ele vai ser quando ele tiver um emprego. Você sabe que muitas vezes aquele cara que parece que é santo, na verdade é bandido. O que parece bandido é um santo.

Indagado pelo jornalista sobre a prisão do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, acusado de arrecadar para o partido dinheiro desviado da Petrobras, Lula alegou que outros partidos também receberam contribuições das mesmas empresas:

— Você acha que o tesoureiro do PSDB que foi buscar dinheiro para campanha do Aécio, ia lá (e ouvia): “Bom, esse aqui é o cofre limpo, esse aqui é pro PSDB”. Vai o cara do PMDB: “Esse aqui é outro cofre limpo”. Aí quando era o PT, tem que ir para o cofre sujo. Você acha que é assim que funciona? Pega a quantidade de dinheiro que as empresas da Lava-Jato contribuíram para o PT e para o PSDB.

Lula negou que esteja trabalhando para que Dilma troque Joaquim Levy por Henrique Meirelles no comando da Fazenda.

— Eu não quero tirar o Levy, nem quero colocá-lo. O Levy e o ministro da Fazenda são um problema da presidenta Dilma.

O líder petista argumentou que evitou dar entrevistas, nos últimos anos, para não interferir no governo da sua sucessora:

— Um ex-presidente precisa tomar muito cuidado para não dar palpite. É como se o ex-marido fosse aconselhar o novo marido como é que tem que cuidar da mulher. Ou a ex-mulher fosse aconselhar a mulher nova como vai cuidar do marido.

Erro na política de subsídios
Voltou ainda a repetir que “um dos erros de Dilma” que agravaram a crise econômica foi manter a política de subsídios.” Por outro lado, disse que a presidente está certa de fazer o ajuste fiscal:

— O que está errado é que ele (o ajuste) está demorando demais, e não é culpa dela, porque nós temos uma crise política muito séria. Há uma confrontação de um ano entre Legislativo e Executivo, e isso não é bom.

Em outro trecho, Lula afirmou que há uma “crise política difícil de resolver” por causa da falta de controle sobre as bancadas:

— Mas me parece que o Eduardo Cunha tem um poder muito grande dentro da Câmara. Antigamente, você resolvia isso conversando com ministro. E o ministro de cada partido entregava os votos. Hoje, os presidentes não mandam nos partidos. Os ministros não coordenam as suas bases e os líderes também não.

Mas, apesar das dificuldades, Lula garantiu ter convicção de que Dilma vai “terminar o mandato muito bem”.

— Até porque qualquer coisa que não permita ela chegar será você pisotear a Constituição brasileira. Porque não existe nenhum motivo para se imaginar que a Dilma tem que sair.

Na avaliação do petista, o caminho para superar a crise passa por convencer os empresários a voltar a investir e pela utilização de bancos públicos para melhor a oferta de crédito.

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