quinta-feira, 19 de novembro de 2015

"O Levy é problema da presidente Dilma", diz Lula

Por Cristiane Agostine e Carmen Munari – Valor Econômico

SÃO PAULO - Em meio a especulações sobre a troca no comando do Ministério da Fazenda, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou ontem ter feito pressão para nomear o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles no lugar de Joaquim Levy. Em entrevista ao jornalista Roberto D'Avila, veiculada na Globonews, Lula disse que o ministro da Fazenda é um problema da presidente Dilma Rousseff e que não quer nem tirar Levy nem defendê-lo.

"Eu às vezes vejo coisa escrita que fico pasmo. 'Lula quer tirar Levy...' Eu não quero tirá-lo nem quero colocá-lo. O Levy, o ministro da Fazenda é um problema da presidente Dilma", afirmou. "Somente Dilma sabe. Eu estou vendo muito boato, muita bobagem", disse, ao ser questionado sobre o que muda com uma eventual nomeação de Meirelles no lugar de Levy.

Lula disse que ficou cinco anos sem dar entrevistas porque um "ex-presidente precisa ter muito cuidado para não dar palpite". "É como se ex-marido fosse aconselhar o novo marido como tem que cuidar da mulher", comparou. Na entrevista, o ex-presidente procurou reforçar que Dilma tem suas próprias opiniões e que faz o que ela quer. "Dilma sabe o que eu penso. A presidente tem as convicções dela", afirmou. "Se ela pedir opinião, eu darei". O ex-presidente comentou que se um dia houver divergência com sua sucessora, "ela estará certa". "Não quero ficar dizendo o que ela tem que fazer".

Na entrevista, Lula foi questionado se pretende falar com lideranças políticas como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e a ex-senadora Marina Silva (Rede) para tentar construir um acordo para superar a crise política e sinalizou, em sua resposta, que não teve nenhum pedido da presidente para que fizesse essa mediação. "Quando duas pessoas que são políticas e querem falar em nome de alguém primeiro precisa saber se tem procuração dos partidos e se o governo tem interesse de receber sugestão", disse.

Lula criticou decisões do governo na área econômica e disse que a crise política continua "muito séria" e "difícil de resolver", mesmo depois de Dilma ter feito mudanças em seu ministério e repactuado a base de apoio no Congresso.

Ao falar sobre a economia, disse que o país enfrenta uma crise não só por conta dos problemas no cenário internacional, mas também por erros do governo. "Nós cometemos erros. Um dos erros foi manter política de subsídio porque precisou manter o nível de emprego", afirmou. "Dilma começou a perceber que estava saindo mais água da caixa do que entrando e era preciso propor ajuste. Ela sabe o prejuízo que teve e teve coragem de manter. É importante que se diga em alto e bom som: responsabilidade fiscal não é mérito, é obrigação", disse. "Dilma está correta de fazer o ajuste fiscal. O que está errado é que está demorando demais".

O ex-presidente afirmou, no entanto, que a turbulência que marca o governo "não é culpa" de Dilma, mas sim da crise política. Lula disse que a Câmara mantém-se sob forte influência do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e que os líderes partidários, inclusive o do PMDB, com quem o governo tem buscado uma aproximação, não têm a representatividade nem o poder que tinham no passado sobre as bancadas.

Apesar de apontar problemas do governo, Lula disse que sua sucessora terminará o mandato em 2018 e que não há justificativas para um eventual impeachment. "Tenho certeza de que [Dilma] vai terminar o mandato. Qualquer coisa que não permita será pisotear a Constituição. Não há possibilidade e não existe nenhum amparo legal", disse na entrevista de cerca de 40 minutos.

O ex-presidente disse que é "normal" que as pessoas queiram tirar o PT do governo, porque o partido está em seu quarto mandato na Presidência, mas ponderou que também é "normal que o PT queira ficar" no cargo. Lula voltou a dizer que poderá tentar a Presidência novamente, em 2018, mas afirmou que só será candidato se "tiver alguém que tenha um projeto de governo que destrua tudo" o que o PT fez na área social.

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