quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Rosângela Bittar: Muito à vontade no labirinto

• O PMDB trata problemas como um parque de diversões

- Valor Econômico

Se o PMDB vai conseguir romper com o governo e o PT em março, data da sua Convenção Nacional, foro adequado à medida, o eleitorado poderá ver quando o carnaval chegar; se vai ter candidato próprio em 2018, livrando-se de décadas coadjuvantes condenadas pelo fisiologismo, é cedo para garantir; se fez um programa econômico denominado Ponte para o Futuro, liberal, para diferenciar-se do PT e ser executado de fato, ou se apenas para chegar às campanhas eleitorais tendo uma ideia na cabeça e uma câmara na mão, não importa, no momento. O PMDB está se mexendo em várias direções e, depois de tanto tempo desde que teve projeto e candidato para valer a última vez, lá se vão uns 30 anos, está claramente num processo de construção de um partido e do que ele pode oferecer ao eleitorado.

Sem se despir, contudo, das várias camadas que compõem seu DNA. A senadora Marta Suplicy e seu marido Márcio Toledo promoveram em sua casa um encontro de jornalistas com a cúpula do PMDB, na noite de segunda-feira, véspera do Congresso partidário realizado ontem. O vice-presidente e presidente da República em exercício naquela noite, Michel Temer, o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco, e o ministro Eliseu Padilha, passearam pelos vários temas que desenham o labirinto do PMDB como quem está num parque de diversões.

A intransigente condescendência com o deputado Eduardo Cunha (PMDB), que permanece na presidência da Câmara depois de tantas denúncias e inquéritos, à beira de se transformarem em processo, não abalou nenhum deles. A política, o país, vivem uma cultura própria nessa questão, responde o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco, organizador do Congresso. O ministro Padilha pergunta: o ex-deputado Andre Vargas (ex-PT) levou quanto tempo para ser julgado no Conselho de Ética? Oito meses. Conclui Michel Temer: "Cunha tem capacidade de articulação, sobre ser muito inteligente".

O comportamento do presidente da Câmara obedece a um rito, tanto nos procedimentos ligados ao judiciário, quanto nos relatados no Conselho de Ética. Para o PMDB, há suspeitas, e em qualquer país do mundo garante-se o direito de defesa. É preciso esperar. Compromisso zero com o drama.

Pula-se desse para um outro caso, o que traz na capa a efígie de Leonardo Picciani e seu pai, Jorge Picciani, que à revelia do partido negociam com a presidente Dilma, portanto com o PT, de quem o PMDB inicia o afastamento, a assunção do jovem deputado de topete de cantor ao trono de Cunha.

Ao mesmo tempo em que, por haver nomeado ministros e estar bem instalado com seu grupo no governo, já garantiu de sua bancada um novo mandato de líder. Quando perguntado pelos Picciani - o jovem está ausente do Congresso, numa temporada em Harvard -, Temer sacou uma explicação conceitual: são duas pessoas, cada uma com seu papel, é, política é assim". Compromisso, zero. A recondução de Leonardo à liderança é um assunto da bancada, e as conversas de Jorge com a presidente Dilma um problema do PT.

A quem pensou que o constrangimento finalmente abateria a tropa da revitalização partidária, não conhece sua pertinácia no descompromisso com a adversidade. Jogado ao centro do debate, o rumoroso caso do candidato do prefeito Eduardo Paes à sua sucessão na cidade do Rio, Pedro Paulo, que bateu duas vezes na mulher e para salvar a candidatura apresentou-a para desculpá-lo, cabisbaixa e humilhada, provocou uma inquietude visível, com recuperação imediata. Para a cúpula do PMDB, "é cedo para avaliar o caso". Mas existem na literatura precedentes de uma campanha eleitoral bem sucedida com esta largada? "É cedo".

Esse PMDB em estado puro, em cena explícita de exercício da convenção sem cláusulas pétreas, retomava a trilha do plano econômico a cada tentativa de confrontá-lo com os graves problemas da realidade partidária. Uma pesquisa citada por Moreira Franco indicou que o principal problema do país é a corrupção para 85% das pessoas ouvidas, vindo em seguida a deficiência de gestão, para 10%. Pois bem, e o PMDB? "Vamos fazer 50 anos, o partido nunca se enquadrilhou para fazer mal feitos, tem um ou outro envolvido, é dado a ele todo o ambiente para se explicar, nós não julgamos", diz Moreira.

As relações de Temer com Dilma - "resolvi tomar posição institucional, o cargo exige discrição absoluta e ela me trata pessoalmente muito bem", a necessidade de fugir da dicotomia PT-PSDB para criar uma identidade própria, não ter medo de apresentar um programa oposto ao do governo do PT, tudo isso o PMDB já passa decantado. Em poucos dias, o plano econômico do partido tornou-se um best seller e, segundo registros de Temer, muito bem aceito e elogiado, até por Joaquim Levy, o ministro da Fazenda que desde ontem está tentando também reinventar seu otimismo. A questão do rompimento com o PT, o PMDB deixou mesmo para março. O dinamismo da política levou a onda para uma dinâmica que já será relacionada à campanha municipal. Agora é a vez do programa, que mostra sobretudo de que lado está o PMDB: a uma distância amazônica do PT.

A anfitriã, recém-chegada ao partido e muito segura do novo projeto, vinda de décadas de militância e candidaturas no PT, registrou as diferenças abissais entre os dois partidos, contou que pela primeira vez está montado suas estruturas em São Paulo, pois o PMDB não as tem, como o PT, tratando de conhecer a forma de atuação, entre outras providências de caráter formal e político. Porém, declarou sua admiração por um traço do PMDB que chamou sua atenção meio às denúncias: "Em uma coisa o PMDB é fascinante, as pessoas do PMDB não batem no PMDB, protegem o PMDB mesmo quando não acham grandes qualidades a exaltar".

O senador José Serra (PSDB) atacou com escracho o ex-presidente do BC, Henrique Meirelles, durante palestra a empresários do setor químico. A gratuidade do comentário levou à interpretação de que está cavando uma vala de contenção: Se houver impeachment, ele é cotado para comandar a economia do PMDB, e quer ver Meirelles longe da disputa. O ex-BC já esteve no PMDB, onde deixou diletos amigos.

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