terça-feira, 17 de novembro de 2015

Temer pede reunificação das forças políticas em Congresso do PMDB

• Ministros de Dilma sabem que a ala minoritária do partido promete barulho, defendendo até o impeachment da presidente

Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O vice-presidente Michel Temer vai pregar nesta terça-feira, 17, a reunificação das forças políticas, para superar a grave crise que o País atravessa e retomar a estabilidade institucional, ao abrir o congresso do PMDB, em Brasília. Embora Temer tenha garantido nesta segunda, na reunião da coordenação política do governo, que o encontro não terá o objetivo de discutir o divórcio do PMDB com o Palácio do Planalto, ministros sabem que a ala minoritária do partido promete barulho, defendendo até o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Em agosto, quando a tensão política atingira o seu auge, Temer disse que o Brasil precisava de alguém capaz de "reunificar a todos". A frase foi interpretada no Planalto como um sinal de que o vice pretendia se cacifar para assumir o comando do País, aproximando-se do PSDB e dos empresários. Presidente do PMDB, Temer negou qualquer tipo de "conspiração", mas a propaganda de TV da legenda, em setembro, não deixou dúvidas sobre o distanciamento entre o principal partido da coalizão e o governo Dilma.

Provocado ontem pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que quis saber qual seria o tom do congresso do PMDB, o vice respondeu que não haveria incêndio. "Podem ficar tranquilos", assegurou.

Os microfones do encontro, porém, ficarão abertos para qualquer manifestação. Acusado de manter contas na Suíça com dinheiro da Petrobrás, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deve fazer uso da palavra.

Temer garantiu que o encontro, promovido pela Fundação Ulysses Guimarães, não terá caráter deliberativo nem tratará de rompimento com o governo. "Nós vamos debater o programa econômico e sugerir propostas para o País", afirmou ele.

Intitulado "Uma Ponte para o Futuro", o programa do PMDB faz críticas à condução da economia, diz que "nosso desajuste fiscal chegou a um ponto crítico" e sugere medidas polêmicas para sair do "atoleiro", algumas delas contestadas dentro do próprio partido.

Parlamentarismo. Um grupo de 25 deputados do PMDB, da ala contrária ao governo, vai apresentar uma emenda em defesa do parlamentarismo. "Se houvesse o parlamentarismo, crises como essa não aconteceriam porque, com tantos erros, cairia o gabinete", disse o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS).

Os peemedebistas dessa corrente também vão endurecer ainda mais a proposta para a Previdência, contida no programa do PMDB. A ideia é sugerir uma idade mínima progressiva para acesso aos benefícios sociais, que ficaria igual tanto para homens quanto para mulheres (65 anos), em 2032.

"Queremos mostrar que o PSDB está vacilante; o PT, perdido, e o PMDB é o único de pé, com uma proposta construtiva", afirmou Perondi. "Nós fomos convencidos a não jogar querosene na crise, mas não deixaremos de dizer que temos um plano e uma pessoa muito preparada em nossos quadros, que é Michel Temer."

O senador Romero Jucá (PMDB-RR) admitiu não haver consenso em todos os pontos do documento "Uma Ponte para o Futuro", que parece ter sido redigido por um partido de oposição ao governo. "Eu, por exemplo, defendo o orçamento impositivo, mas não de 'base zero'. É preciso deixar claro, ainda, que a CPMF, se vier, não virá isoladamente, sem reforma estrutural", argumentou ele.

Jucá disse que o texto será apenas "um roteiro" para discussão. As propostas passarão pelo crivo do partido nos Estados e somente serão votadas na convenção do PMDB, em março de 2016. "Com certeza até lá haverá uma modulação", comentou o senador.

Apesar de não esconder que votou em Aécio Neves (PSDB-MG) para presidente, Jucá afirmou que este não é o momento de romper com o Planalto. "Agora precisamos construir a unidade partidária e a nossa linha programática é a de ajudar a melhorar a economia", insistiu.

Para o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), o partido não pode virar as costas para as ruas. "Não é preciso ter um Fiat Elba para cassar alguém", disse ele, numa referência ao carro que deu origem ao processo contra o então presidente Fernando Collor, hoje senador pelo PTB.

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