quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

'Catilinárias' agrava crise com PMDB

Por Raymundo Costa, Andrea Jubé e Bruno Peres – Valor Econômico

BRASÍLIA - À exceção do vice-presidente, Michel Temer, a Operação Catilinárias atingiu os principais líderes do PMDB e pode agravar a instabilidade política no Congresso. No Palácio do Planalto e no PT, a preocupação maior é em relação ao presidente do Senado, Renan Calheiros, que acenava com apoio à presidente Dilma Rousseff em sua luta contra o impeachment.

O governo avalia que teve prejuízos com a ação da Polícia Federal contra o PMDB, onde o entendimento é de que se tratou de uma ação contra o partido. O nome da operação é uma referência evidente ao impeachment de Dilma - as "Catilinárias" são os famosos discursos do cônsul romano Cícero contra o senador Catilina, que tentava um golpe para derrubar a República romana.

A cúpula pemedebista acredita em um complô para atingir o partido - e indiretamente o vice Michel Temer - coordenado pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Entrar na casa do deputado Eduardo Cunha, em Brasília, foi visto mais como um efeito de demonstração. Dificilmente ele ainda teria algo que o comprometesse na residência oficial. O mesmo vale para Renan Calheiros. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu acesso à casa do senador, mas não foi atendido pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no STF. Ele autorizou, porém, busca no diretório do PMDB em Alagoas, presidido por Renan.
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Na avaliação governista, o ambiente político ficou mais instável no Senado, onde, além de Renan, foram atingidos pela Catilinárias os senadores Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) e Edison Lobão (PMDB-MA), dois possíveis aliados de Dilma na luta contra o impeachment. O PT receia uma "retaliação" do PMDB.

Dois outros aliados próximos do presidente do Senado também viraram alvo da operação: o deputado Anibal Gomes (AL) e o ex-senador e ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que ocupava o cargo por indicação de Renan.
O PMDB avaliou ontem a oportunidade de divulgar uma nota oficial. Desistiu depois que Temer foi contra - ele teria de se manifestar institucionalmente e com isso temia desagradar o partido.

PMDB acredita em orquestração contra o partido
À exceção do vice-presidente Michel Temer, a Operação Catilinária atingiu os principais líderes do PMDB e pode agravar a instabilidade política no Congresso, segundo reconhecem o PT e o Palácio do Planalto. A preocupação maior é em relação ao presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), que acenava com apoio à presidente Dilma Rousseff em sua luta contra o impeachment. O governo avalia que também teve prejuízos com a ação da Polícia Federal contra o PMDB.

No PMDB o entendimento corrente é de que se tratou de uma ação contra o partido. A começar pelo nome da operação da Polícia Federal para cumprir os mandados de busca e apreensão. Batizada de Catilinárias, faz referência a quatro discursos proferidos pelo cônsul romano Cícero contra o senador Catilina, que tentava um golpe para derrubar a República romana. Para os pemedebistas ficou evidente à referência ao pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

A cúpula pemedebista desconfia de uma armação para atingir o partido e, por tabela, seu presidente, o vice Michel Temer, candidato a suceder a presidente nos próximos três anos, se Dilma for impedida pelo Congresso. O PMDB alinhava uma série de coincidências para justificar sua apreensão e dúvida.

Desencadeada num dia 15, número do PMDB na cédula eleitoral, a Operação Catilinária ocorre dias depois de uma viagem do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a Curitiba, centro nervoso da Operação Lava-Jato. Entre os dirigentes pemedebistas não há dúvidas de que Cardozo está articulado com o procurador-geral Rodrigo Janot. A citação do discurso de Cícero teria carimbado a operação como um troco à abertura do processo de impeachment na Câmara.

Entrar na casa do deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara, em Brasília, foi visto mais como um efeito de demonstração. Dificilmente Cunha teria algo na residência oficial. Haveria alguma justificativa no Rio, mesmo assim é incompreensível que o Ministério Público continue procurando provas contra quem já denunciou. O mesmo serve para Renan Calheiros. Janot pediu para entrar na casa do senador por Alagoas, mas não foi atendido pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato.

Outra coincidência relacionada pelo PMDB: há menos de uma semana o Palácio do Planalto ordenou a demissão de um vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Fábio Cleto, indicado para o cargo pelo presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha. Agora, na sequência, também ele foi atingido pela Operação Catilinárias da PF.

O que mais preocupa o Palácio do Planalto e o PT é o cerco montado em relação ao presidente do Senado, Renan Calheiros, que saiu em defesa da tese do governo em relação ao processo de impeachment e ajudava a destravar as votações mais importantes para o Palácio do Planalto. Na avaliação governista, o ambiente político ficou mais instável no Senado, onde, além de Renan, foram atingidos pela Catilinárias também os senadores Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) e Edison Lobão (PMDB-MA), dois possíveis aliados de Dilma na luta contra o impeachment do mandato. O receio do PT é o PMDB "retaliar", segundo um dirigente da sigla.

No Palácio do Planalto, o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) reuniu líderes aliados para tentar garantir as votações prioritárias para o governo no Congresso. O novo líder do PMDB, Leonardo Quintão (MG) participou do encontro sobre protestos do líder do PT, Sibá Machado (PT-AC), em demonstração de desconfiança em relação ao novo líder aliado.

Muito embora o ministro Zavascki tenha negado os pedidos de busca e apreensão na residência do presidente do Senado, ele autorizou o mandado para o diretório regional do PMDB de Alagoas, presidido por Renan. Além disso, dois outros aliados próximos de Renan também viraram alvo da operação: o deputado Anibal Gomes (CE) e o ex-senador e ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, que ocupava este cargo por indicação de Renan. Ainda na segunda-feira Renan tentava cooptar o governador de Tocantins, Marcelo Miranda, às manobras anti-impeachment.

Com o fraco movimento nas manifestações convocadas para o último domingo, o governo e o PT pretendiam avançar convocando uma manifestação maior para hoje, especialmente em Brasília, e na articulação para reconduzir o deputado Leonardo Picciani ao cargo de líder do PMDB na Câmara. Mas a Operação Catilinárias também abalou outros eventuais aliados, como o ministro da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera, e até Henrique Eduardo Alves, do Turismo, muito ligado ao vice Temer.

Os dirigentes do PMDB compartilham da ideia de que ninguém põe freios nas decisões da Lava-Jato tomadas em Curitiba. Mas neste caso específico veem o dedo de Janot dando troco no partido mais envolvido nas articulações pró impeachment.

O PMDB avaliou a oportunidade de divulgar uma nota oficial. Desistiu depois que o vice Michel Temer se posicionou contrariamente. As respostas foram individuais. Hoje, a Executiva Nacional do PMDB se reúne em Brasília para discutir a filiação de um deputado do PR ao partido, estimulada pelo Planalto para mudar a relação de forças da bancada e permitir a recondução de Leonardo Picciani a líder.

Um grupo defende a antecipação da convocação da convenção partidária, prevista para março, a fim de acelerar o desembarque do PMDB do governo. Isso pode até ocorrer, mas não era provável até a noite de ontem: o PMDB não quer ampliar o jato de luz que a Operação Catilinárias lançou sobre o partido ao longo do dia de ontem. O Planalto agora deve atuar no sentido de tentar amenizar os danos no seu principal aliado, um partido que até ontem se mostrava dividido em relação ao pedido de impeachment, mas majoritariamente favorável à saída do governo

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