terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Estados querem que PMDB deixe o governo, diz deputado

Diretórios querem antecipar convenção

Igor Gadelha - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Com a anuência da cúpula do PMDB, deputados da ala pró-impeachment do partido decidiram dar um ultimato para que o Planalto pare de interferir na indicação para liderança da legenda na Câmara. Ontem, esses parlamentares anunciaram que pelo menos 10 dos 27 diretórios regionais da legenda já assinaram documento pedindo a antecipação da convenção nacional do partido, prevista para março.

A ideia seria antecipar a convenção para janeiro. No evento, a sigla pode aprovar o desembarque do governo Dilma Rousseff.

De acordo com os deputados Osmar Terra (PMDB-RS) e Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), que estão à frente da articulação, já assinaram a lista os presidentes dos diretórios do PMDB de Bahia, Pernambuco, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Espírito Santo, Acre e Tocantins. O número de assinaturas já é maior do que as nove necessárias (equivalente a 1/3 dos 27 diretórios) para que a direção nacional do partido seja obrigada a antecipar a convenção.

Supremo. Ontem, o vice-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), reuniram-se e concluíram que a antecipação pode ocorrer ainda que o ex-líder Leonardo Picciani (RJ), que é apoiado pelo governo, não consiga retomar o posto de Leonardo Quintão (MG), que o substituiu. Ficou acertado, contudo, que essa definição só ocorrerá após o Supremo Tribunal Federal julgar qual o rito do impeachment deverá ser seguido. Uma eventual decisão que fragilize a Câmara no comando do processo pode ser determinante para a antecipação da convenção.

Assim, apesar de já terem o número de assinaturas suficiente, lideranças do PMDB não pretendem protocolar logo o documento na Executiva Nacional do partido. O objetivo é usar a lista de assinaturas para pressionar o governo a parar de interferir no processo de escolha do líder da legenda na Câmara. "Vamos protocolar o pedido quando for conveniente", afirmou Lúcio Vieira Lima. Ele disse esperar que o governo recue da articulação para reconduzir Picciani ao cargo. "O governo não é maluco", declarou.

A coleta de assinaturas começou no fim de semana. De acordo com o deputado Osmar Terra, caso necessário, o documento poderá chegar a 15 apoiamentos, número de diretórios estaduais que tinham se manifestado, na semana passada, a favor da antecipação da convenção nacional do PMDB.

Estratégia. Em reação, Picciani prometeu ontem apresentar até o fim desta semana nova lista com assinaturas suficientes para sua recondução à liderança do partido na Casa. A principal estratégia do deputado do Rio de Janeiro tem sido articular, com ajuda do Palácio Planalto e do diretório estadual da sigla no Estado, a volta de deputados licenciados ou de suplentes da ala pró-governo do PMDB.

O parlamentar não especifica sua estratégia, mas a articulação já envolveu a exoneração de Marco Antônio Cabral (PMDB-RJ) da Secretaria de Esportes do Estado do Rio, para que ele retomasse o mandato de deputado. O parlamentar é filho do governador carioca Sérgio Cabral (2007-2014).

Apesar da articulação de Picciani, deputados da ala pró-impeachment dizem que dificilmente ele conseguirá obter apoio da maioria da bancada. Eles contam com ajuda de pelo menos 41 dos 67 membros do grupo atualmente, sendo 34 dos 35 que assinaram a indicação de Quintão.

/ Colaboraram Adriano Ceolin e Isadora Peron

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