quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Executiva Nacional intervém e tira Romário da presidência do PSB do Rio

• Decisão é motivada por revelação de que assessor do senador é réu por homicídio

Marco Grillo - O Globo

O senador Romário (PSB-RJ) foi destituído ontem da presidência do partido no Rio. A Executiva Nacional decidiu intervir no diretório estadual após a revelação, feita pelo GLOBO, de que o assessor parlamentar Wilson Musauer Júnior, lotado no gabinete de Romário e secretário de Finanças do PSB no estado, é acusado de cometer quatro homicídios.

O presidente do PSB, Carlos Siqueira, enviou uma carta ao senador e ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) formalizando a decisão. Além de Romário, saem do diretório também Musauer, Sérgio Barcelos, Rafael Takashi e João Carlos de Oliveira, todos indicados pelo senador. O segundo vice-presidente, Pedro Delarue, também foi retirado do cargo.

A relação entre Romário e a direção nacional do partido já andava tensa há meses, e a revelação do processo em que Musauer é réu foi a gota d´água para a decisão. Segundo Siqueira, havia uma “grande insatisfação” com a gestão do senador.

— A forma como o Romário vinha conduzindo o partido já estava insatisfatória. Falavase de acordos (para as eleições) com os quais a direção nacional não estava de acordo, aí veio essa história (do processo) e apressou (a decisão). Não queremos prejulgar, mas achei demasiadamente grave um presidente ter colocado na direção do partido alguém (Musauer) com essas acusações (de homicídio) — afirmou Siqueira.

Brecha para deixar sigla
Na noite de anteontem, Siqueira e Romário conversaram pessoalmente. Segundo o presidente do PSB, o senador sugeriu que apenas Musauer fosse afastado do comando do partido. Siqueira, no entanto, reforçou a necessidade de uma mudança ampla. Na conversa, Romário manifestou que poderia deixar a legenda caso fosse afastado da presidência no Rio.

— Respeito muito o Romário, não é nada pessoal. Mas não podíamos deixar a situação como estava — reiterou o presidente do PSB.

O novo presidente do partido no Rio é o prefeito de Petrópolis, Rubens Bomtempo, que ocupava a vice-presidência e foi o único integrante mantido na Executiva estadual. A intervenção provocou a formação de uma comissão provisória na direção do partido. Ainda não há data para uma nova eleição da Executiva.

— A Executiva Nacional fez esse pedido, para que eu pudesse assumir o partido neste momento importante e para que o partido possa ter um porta-voz com mais afinidade com o conteúdo programático. Respeito muito o Romário, sua história e seu mandato. Mas a Executiva Nacional acha melhor ele se afastar para esclarecer as acusações feitas a ele (sobre uma suposta conta na Suíça) e a seu assessor — afirmou Bomtempo.

Procurado, Romário não se manifestou sobre o assunto.

Relação conturbada
Sem ter uma definição de Romário quanto a uma possível candidatura à prefeitura em 2016, o PSB se prepara para outros cenários. Siqueira já conversou com o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) sobre uma possível filiação à sigla com o objetivo de concorrer à prefeitura no ano que vem.

— Não confirmo conversa com ninguém, mas não é só essa (com Crivella), são várias. Mudanças vão acontecer no partido — disse Siqueira, sem se alongar.

A relação de Romário com o PSB sempre foi conturbada. Em 2013, então deputado federal, chegou a se desfiliar da sigla alegando divergências com o então presidente nacional, Eduardo Campos, morto no ano passado, e com o então presidente estadual, Alexandre Cardoso, prefeito de Duque de Caxias. Um mês depois, voltou ao partido e assumiu o comando do diretório estadual, após uma intervenção da Executiva Nacional que culminou com o afastamento de Cardoso da presidência.

Romário assumiu novamente a presidência do partido em março deste ano, em um novo momento de crise. O deputado federal Glauber Braga deixou a presidência após perder apoio interno, e Romário teve a chancela da Executiva Nacional para assumir o cargo. Em setembro, Braga saiu do PSB e se filiou ao PSOL, por divergências com o senador.

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