sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Governo e oposição duelam por ritmo de impeachment no Congresso

Marina Dias, Gustavo Uribe, Ranier Bragon, Mariana Haubert, Valdo Cruz e Daniela Lima – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Deflagrado o pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, o Palácio do Planalto resolveu trabalhar para apressar o desfecho do processo, enquanto parte da oposição prefere prolongar a discussão até 2016.

Desde cedo, o Planalto montou uma operação para convencer ministros e deputados da base aliada que era melhor acelerar a tramitação.

Primeiro, o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) se reuniu com líderes e, à tarde, Dilma se encontrou com 23 ministros.

Segundo a Folha apurou, a estratégia do governo é adiantar a votação no Congresso para não mudar a avaliação de que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), retaliou o PT ao acatar o pedido. Nas palavras de auxiliares da presidente, "o pecado inicial de Cunha" será usado pelo governo para "deslegitimá-lo".

Essa linha deve ser adotada caso fracassem as ações que o governo preparou para encaminhar ao STF pedindo a suspensão do pedido.

O ministro Jaques Wagner (Casa Civil) disse que Dilma "está com pressa"para votar o impeachment. Para ele, não é "razoável" que haja recesso durante a tramitação de uma ação como essa, a partir de 23 de dezembro.

Mesmo assim, o ministro ponderou que a decisão de entrar ou não em recesso fica nas mãos de Cunha e do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Para suspendê-lo, as duas Casas teriam de aprovar a decisão.

Berzoini também pediu celeridade ao processo, sob a avaliação de que uma extensão do caso até os primeiros meses de 2016, além de representar "sangramento em praça pública", pode dar margem ao crescimento de movimentos de rua contrários a Dilma e de dissidências dentro da base aliada.

Por outro lado, em uma guinada repentina, líderes da oposição na Câmara e no Senado passaram a defender que o Congresso entre em recesso. A avaliação é que, sem mobilização popular, o governo conseguiria esfriar a discussão sobre o impeachment.

Essa percepção, no entanto, não é uma unanimidade.

No PSDB, por exemplo, nomes de peso como o senador José Serra (SP) têm defendido que é melhor para o país que haja um desfecho célere.

O tucano disparou uma série de mensagens a colegas de Parlamento defendendo que manter o país em suspense é irresponsabilidade.

Comissão
Nesta quinta (3), Cunha criou oficialmente a comissão especial, primeiro passo para o início da discussão do processo de impeachment. As indicações de 65 deputados criaram uma nova queda de braço entre Cunha e Dilma e racharam o PMDB.

Em reunião com os líderes, Berzoini defendeu que é essencial emplacar tanto o presidente como o relator. Em outra frente, Cunha tenta segurar um dos postos para político de sua confiança.

Com divisões entre defensores e opositores do impeachment, deputados do PMDB e do PSD ameaçam retaliar o líder da bancada caso ele indique apenas governistas para o órgão.

No PMDB, dissidentes preparam um abaixo-assinado pela saída de Leonardo Picciani (RJ) da liderança, visto como pró-governo.

Já no PSD, deputados ameaçam deixar a legenda caso o líder Rogério Rosso (DF) não utilize "critérios de proporcionalidade" em relação ao peso das bancadas estaduais.

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