quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Procuradoria da República blinda Renan, insinua Cunha

Cunha insinua que procurador-geral protege Renan Calheiros

Aguirre Talento, Ranier Bragon – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Um dos principais alvos da Operação Lava Jato, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), voltou nesta terça-feira (29) a insinuar haver uma blindagem ao presidente do Senado, o também peemedebista Renan Calheiros (AL).

Rompido dentro do partido com Renan e um dos mais ferozes críticos do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, após ter virado alvo de investigação, Cunha afirmou em entrevista coletiva que os investigadores obtiveram conversas do ex-presidente da OAS, Leo Pinheiro, com Renan, mas que não houve nenhuma divulgação.

Conversas do celular de Leo Pinheiro com Cunha foram apontadas por Janot no pedido de afastamento do presidente da Câmara como suspeitas de negociações de propina. Esse também foi um dos fundamentos para a busca e apreensão feita pela Polícia Federal no último dia 15 nos endereços de Cunha.

"Na ação cautelar minha que motivou a busca e apreensão tem um relatório das ligações do Leo Pinheiro com 632 páginas (...). Dessas 632 páginas, tem 60 páginas que tratam do presidente do Senado e ninguém publicou uma linha. Então é preciso olhar com cautela que está se selecionando sobre quem divulgar", disse Cunha.

A Procuradoria-Geral da República, porém, também havia pedido ao STF a realização de buscas na residência oficial de Renan, mas o ministro Teori Zavascki não as autorizou. Permitiu somente buscas no escritório do PMDB em Alagoas.

A Procuradoria disse que não comentaria as declarações de Cunha. A defesa de Renan declarou que não tomou conhecimento do processo cautelar e que, assim que o fizer, prestará os esclarecimentos. O presidente do Senado não foi localizado.

Café
O presidente da Câmara reuniu jornalistas nesta terça em um café da manhã. Em entrevista, afirmou que daria "de presente' recursos que eventualmente fossem encontrados em supostas novas contas suas no exterior.

As declarações foram em resposta a questionamento sobre acusações do empresário Ricardo Pernambuco, da Carioca Engenharia, de que teria pago propina a Cunha em três outras contas no exterior, uma delas no Israel Discount Bank.

"Vocês podem preparar em qualquer escritório de advocacia internacional (...) para eu assinar uma procuração de doação, busca, verificação, não é só de Israel não, de Israel, da Arábia Saudita, do Líbano, de qualquer lugar do mundo que você queira, de qualquer conta bancária, que eu dou de presente para reverter a quem quiser, porque não existe", afirmou.

Anteriormente Cunha também havia negado à CPI da Petrobras possuir contas no exterior, mas a Procuradoria obteve registros de quatro contas dele na Suíça, das quais uma recebeu transferência de lobista que atuava na Petrobras. Investigadores suspeitam que se trata de propina.

Cunha responde a um inquérito sobre este assunto, além de uma denúncia sob suspeita de receber propina por contratos de navios-sonda e um outro inquérito sobre uso do cargo para atrapalhar investigações. O Ministério Público pediu seu afastamento, solicitação classificada pelo deputado de "peça teatral".

Cunha disse que só dará continuidade ao pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff após tirar dúvidas que restaram sobre decisão do STF que definiu o rito do julgamento. A Câmara entrará com recurso em fevereiro para obter esclarecimentos.

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