sábado, 12 de dezembro de 2015

PSDB cumpre seu papel – Editorial / O Estado de S. Paulo

O que se espera de um partido de oposição é que esteja permanentemente disposto e preparado para, coerente com sua própria linha programática, posicionar-se claramente como contraponto aos detentores do poder. O que não impede, é claro, que, quando assim determinar o interesse nacional, eventualmente apoie o governo. Mas fazer oposição não é fácil. O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), por exemplo, desde que deixou o poder se tem debatido com grande dificuldade para sintonizar suas principais lideranças em torno de questões vitais, o que resulta frequentemente – talvez para evitar a exposição das contradições internas – em ambiguidades e omissões que acabaram custando aos tucanos a má reputação de estarem sempre em cima do muro. Estava mais do que na hora, portanto, de o PSDB se posicionar claramente sobre o tema mais relevante da pauta política: o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Na quinta-feira passada, a direção do partido fechou questão a favor do afastamento da chefe do governo.

Ninguém esperava, na verdade, que o PSDB assumisse atitude diferente. Afinal, hoje apenas um em cada dez brasileiros apoia o governo petista e dois em cada três pedem o afastamento da presidente. Não faria sentido, portanto, um partido de oposição manter-se alheio ao sentimento majoritário dos cidadãos. Mas, na questão do impeachment, as principais lideranças tucanas se dividiram a respeito dos procedimentos a serem adotados e do timing a ser cumprido. As divergências diziam respeito a interesses eleitorais de cada um dos interessados.

Aécio Neves esperava que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassasse o mandato da chapa completa eleita no ano passado, abrindo-lhe o acesso imediato ao Palácio do Planalto na condição de segundo candidato mais votado. Para Geraldo Alckmin, um aspirante à Presidência que tem pela frente mais três anos de mandato no governo de São Paulo, o ideal seria o governo do PT sangrar até 2018, pavimentando o caminho para sua candidatura. Já para o senador José Serra, que se entende muito bem com o vice-presidente Michel Temer, o ideal seria a imediata cassação do mandato de Dilma, o que lhe abriria a possibilidade de se tornar o principal condutor da economia e, em três anos, acumular prestígio para – com o apoio de Temer – se apresentar como forte candidato em 2018. Mais ou menos como ocorreu com Fernando Henrique Cardoso em 1994.

Nada leva a crer que os três grandes caciques tucanos tenham desistido de seus projetos presidenciais, mas pelo visto acabaram chegando, com forte estímulo de FHC, à conclusão de que todos acabariam morrendo de fome se continuassem a se comportar como na parábola dos burrinhos atados entre si que tentavam comer montes de feno diferentes. Está decidido, então, que o monte de feno é único – o processo de impeachment de Dilma. O resto virá depois, até mesmo a decisão de apoiar ou não eventual ascensão de Michel Temer à Presidência.

A partir de agora o PSDB estará mais exposto do que nunca aos ataques do lulopetismo, que o acusarão de tramar um “golpe” contra as instituições democráticas. Lula e a tigrada estarão falando ex catedra de um recurso constitucional do qual nunca abriram mão quando eram oposição: tentaram aplicar o mesmo “golpe” contra todos os presidentes pós-redemocratização: Sarney, Collor, Itamar e FHC – e até foram bem-sucedidos, no caso do presidente Fernando Collor, que hoje é um de seus principais aliados. Em 1999, apoiado pelo PT, o pedido de impeachment de Fernando Henrique Cardoso chegou a tramitar, até que a Câmara dos Deputados o arquivou.

O impeachment é um processo essencialmente político e é nesses termos que precisa se viabilizar. O posicionamento oficial do PSDB é um passo à frente a favor da medida. Mas a inteira viabilização política do processo, cumpridos os requisitos mínimos para seu enquadramento legal, depende essencialmente de apoio popular. Foi assim que aconteceu no caso do presidente Collor, que já estava debilitado pela ausência de apoio político-partidário, mas caiu de vez quando os “caras-pintadas” tomaram as ruas em todo o País exigindo sua deposição. É o que falta agora para o PT receber cartão vermelho.

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