quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Renan acusa Temer de ser responsável pela divisão do PMDB

• Senador chama de retrocesso decisão de proibir filiação de deputados

Cristiane Jungblut, Maria Lima - O Globo

-BRASÍLIA- O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), culpou ontem o presidente nacional do PMDB e vice-presidente da República, Michel Temer, pela crise interna do partido e pelos problemas na coalizão. Irritado, Renan disse que é um erro o PMDB se reunir para proibir filiações de deputados de outros partidos, como decidido ontem pela Executiva Nacional, e afirmou que o ex-deputado Ulysses Guimarães, maior símbolo da história do partido, deveria estar “tremendo na cova” com uma atitude dessas. Ulysses morreu em 1992, em desastre de helicóptero no mar de Angra dos Reis; seu corpo nunca foi encontrado.

— Fazer reunião para proibir (filiações)? Um partido democrático, que não tem dono, que se caracteriza por isso, fazer reunião para proibir a entrada de deputado é um retrocesso que deve estar fazendo o doutor Ulysses tremer na cova. — disse.

— É ao presidente do partido que cabe construir a unidade partidária. A quem serve a divisão do PMDB? O presidente tem responsabilidade por essa divisão — afirmou Renan, em novo ataque a Temer.

O presidente do Senado disse que o PMDB, quando assumiu a coordenação política do governo, comandada por Temer, só se preocupou com a nomeação de pessoas e cargos.

— Acho que o PMDB tem muita culpa. Quando foi chamado para coordenar o processo político, do governo, da coalizão, o PMDB se preocupou apenas com o RH. Eu adverti sobre isso na oportunidade. O PMDB perdeu a oportunidade de qualificar sua participação no governo. O governo tem culpa mas o PMDB também tem muita culpa com o que está acontecendo — disse.

O governo e o ex-líder do PMDB na Câmara Leonardo Picciani são acusados por aliados de Temer de tentar filiar novos deputados ao partido. O objetivo seria conseguir apoio
para restituir Picciani à liderança e, assim, indicar parlamentares pró-governo para a comissão do impeachment.

A decisão tomada ontem pela Executiva Nacional do PMDB impede o ingresso ao partido de deputados federais que estavam se transferindo para ajudar na recondução de Picciani. O ex-líder disse que irá à Justiça:

— Lamento o que aconteceu. Hoje, a comissão executiva escreveu uma página ruim, triste da história do PMDB, um partido que teve tantas páginas bonitas na História do Brasil, sobretudo, na defesa da democracia, das liberdades.

A mudança no regimento ocorre com o aval de Temer. Uma das filiações que não será aceita é a do deputado Altineu Cortês (PR-RJ). Sua saída do PR para o PMDB teve a participação da presidente Dilma Rousseff. Ela pediu ao PR que aceitasse perder Cortês para que Picciani ganhasse um voto e retomasse a liderança.

Horas após sua primeira declaração, Renan voltou à carga: disse que o vice tem responsabilidade na divisão do PMDB. E criticou a ação de Temer na coordenação política do governo:

— Quando foi chamado a coordenar politicamente o governo, o PMDB só queria saber de cargos, planilhas, 200 cargos, 100 cargos. O PMDB minimizou no governo seu próprio papel. Agora, com essa decisão da Executiva de querer botar uma tranca na porta de um partido democrático e sem dono, isso é um retrocesso, um horror — disse.

No PMDB, parlamentares atribuíram a fala de Renan a quatro fatores: o agravamento de sua situação na Operação Lava-Jato; a tentativa de se cacifar junto ao Planalto; a “antipatia antiga” entre ele e Temer; e o acirramento da disputa entre o grupo do Senado e da Câmara.

Temer reagiu em nota, publicada em primeira mão no blog de Jorge Bastos Moreno. Nela, Temer diz que cabe à Executiva do partido “tomar decisões que preservem o partido de manobras e artimanhas”: “É correta a afirmação de que o PMDB não tem dono. Nem coronéis. Por isso, suas decisões são baseadas no voto. (...) O deputado Ulysses Guimarães foi a maior liderança do PMDB. Qualquer jovem peemedebista sabe que seu desaparecimento se deu em um acidente em Angra dos Reis, em 1992. Seu corpo repousa no fundo do mar e devemos manter o respeito à sua história e sua memória, sem evocar seu nome em discussões que em nada enobrecem seu exemplo de retidão, honestidade e decência para todo o PMDB”.

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