sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Claudia Safatle: Petrobras sob tempestade

• Estatal quer captar entre US$ 5 bi e US$ 8 bi no mercado

- Valor Econômico

Para a Petrobras, está formada a "tempestade perfeita", comentou uma graduada fonte oficial ao listar a conjunção de grandes problemas que afetam a companhia. O preço do petróleo está no seu nível mais baixo desde 2003, na casa dos US$ 30 o barril; a taxa de câmbio mudou para o patamar de R$ 4; a estatal está "superendividada"; o país e a companhia perderam o grau de investimento. Além disso tem as investigações da Operação Lava-Jato, uma crise política, as regras de conteúdo nacional e a Lei do Petróleo, que não ajuda em nada.

A Petrobras tem condições de se reerguer da dramática situação financeira em que se encontra, acredita a fonte. Isso poderá ser mais rápido se a empresa tiver injeção de capital. Caso contrário, a tarefa será bem mais complicada e custosa, mas não impossível, avalia.

Um socorro do governo, na forma de instrumento híbrido de capital e dívida (IHCD), foi discutido no ano passado, mas não vingou porque teria impacto direto na já elevada dívida bruta do setor público. O assunto ficou na gaveta mas pode ser retomado a qualquer momento. A capitalização da Petrobras aceleraria a sua desalavancagem, argumentam os defensores da medida.

Dados da estatal, a partir do mais recente plano de negócios divulgado esta semana, indicam que com uma captação de US$ 5 bilhões a US$ 8 bilhões que vai tentar fazer no mercado, a Petrobras terá liquidez para honrar todos os seus compromissos até janeiro de 2018.

A premissa para este ano é que com desinvestimentos de US$ 14,4 bilhões e cerca de US$ 26 bilhões em caixa, se não houver qualquer captação no mercado, a empresa tem caixa para honrar seus compromissos integralmente até julho de 2017, asseguram seus gestores. Como os vencimentos da dívida líquida de US$ 100 bilhões (três vezes o lucro medido pelo Ebtida) se concentram de agora até 2019, falta ainda equacionar os anos de 2018 e 2019.

O mercado não reagiu bem ao plano de negócios. Ontem, porém, o governo comemorava a manifestação da Moody's. A agência de rating divulgou nota em que considerou positiva a decisão da Petrobras de cortar seus gastos em um momento em que enfrenta significativo risco de refinanciamento, "mas os desafios à estatal persistem".

Com a fragilidade da economia, a queda dos preços de petróleo, a depreciação do câmbio, dificuldades na venda de ativos e incertezas políticas, as opções de financiamento da estatal se estreitaram. A perda do grau de investimento levou os bancos estrangeiros a cortarem os limites de crédito para se adaptarem à nova realidade do país e da petroleira.

A ordem, na estatal, é trabalhar com disciplina na gestão de capital, preservar os niveis de liquidez e de rentabilidade, e ter obstinação na redução de custos, segundo a fonte.

A direção da companhia está focada, agora, na venda de ativos que, se for bem-sucedida, terá representado uma brutal mudança na cultura da empresa. São negócios que não fazem parte do núcleo da estatal e que independem do preço do óleo no mercado externo, mas têm uma enorme complexidade regulatória para resolver. Quem se interessar em adquirir esses ativos não vai, por exemplo, querer depender da estatal que detém o controle da rede de oleoduto e de gasoduto.

Há quase um ano a Petrobras está sob a administração de Aldemir Bendine, que substituiu Graça Foster na presidência. A direção que assumiu em fevereiro de 2015 encontrou uma empresa que era usada para fazer política industrial de interesse do governo federal e para controlar a inflação. O resultado foi desastroso.

A Petrobras gastou cerca de US$ 50 bilhões com quatro refinarias, a Premium 1 e 2 (Maranhão e Ceará), a Abreu e Lima (Pernambuco) e o Comperj (Rio de Janeiro). Os recursos investidos nas duas primeiras viraram prejuízo no balanço da estatal. As demais não geram receita. Os investimentos programados para o ano passado eram de US$ 45 bilhões. Se não fossem podados, teriam zerado o caixa da estatal.

A empresa, que se internacionalizou e chegou a ser uma das gigantes do petróleo, minguou. Chegou a valer US$ 270 bilhões nos seus bons tempos. Hoje vale US$ 25 bilhões no mercado. A ação da Petrobras PN fechou ontem a R$ 5,69, pouco mais do que uma água de coco na praia.

Por anos o governo declarou que a Petrobras produziria 4 milhões de barris/dia em 2020 e que neste ano a produção atingiria 3 milhões de barris/dia. Montou-se toda uma infraestrutura para isso, mas a produção atual é de 2,8 milhões/dia, sendo que 300 mil barris/dia são produzidos fora do país.

Para completar o quadro, teve seus preços congelados por quase quatro anos para ajudar no controle da inflação, gerando um ciclo danoso de explosão de consumo de combustíveis e aumento da importação a preços maiores do que o de venda doméstica. disse a fonte.

A queda dos preços internacionais do petróleo ligou os alarmes do governo para a já precária situação da petroleira. Nos últimos dias era notável a aflição de assessores da área econômica do governo com as quedas dos preços internacionais do petróleo e das ações da companhia na Bolsa de Valores.

O uso inapropriado de uma empresa pública de capital aberto como instrumento de política industrial e de desenvolvimento regional, com base em cenários que, de longe, não se confirmaram, e de combate à inflação praticamente levou a Petrobras à bancarrota. A empresa não "quebrou" porque tem a União para lhe dar suporte. Mas a União também está muito mal das pernas.

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