quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Eliane Cantanhêde: Deu ‘zika’ na Saúde

- O Estado de S. Paulo

O carnaval nem começou e a Olimpíada será só no segundo semestre, mas o mosquito Aedes Aegypti já está sambando e batendo um bolão pelo Brasil afora. Em 2014, o País passou a conviver com o vírus chikungunya. Em 2015, bateu o recorde histórico de casos de dengue. Em 2016, já começou o ano com o zika vírus nas manchetes e contabilizando mais de 3 mil casos de microcefalia. Espantoso!

A dengue existe desde sempre no mundo, o chikungunya também não é exclusividade brasileira, o zika vem se espalhando por mais de 20 países e a febre amarela está controlada. (Ela também é transmitida pelo Aedes, mas com uma diferença vital: há vacina eficaz.) O mais espantoso, portanto, é tudo isso junto e o Brasil chegar a esse estado de calamidade tendo quem tem no Ministério da Saúde.

Enquanto as cúpulas do PT, do PMDB e do PP se refestelavam no mensalão, na Petrobrás, em outras estatais, no Carf, na edição de medidas provisórias, nos fundos de pensão e na relação do BNDES com as “campeãs nacionais”, tudo o que sobrou para empurrar na Saúde foi Marcelo Castro.

Quem é mesmo esse cidadão? Um médico renomado, respeitado e admirado pela própria categoria? Especialista de um dos centros de excelência do Brasil, com experiência comprovada em saúde pública? Ou um político com grande liderança?

Nada disso. Marcelo Castro é um médico sem currículo, um político medíocre, um deputado do “baixo clero”, que só virou o que virou porque o inexpressivo líder do PMDB, Leonardo Picciani, indicou e a errática presidente da República, Dilma Rousseff, nomeou. Agora, aguentem! Ou melhor: agora, brasileiros, aguentem!

Sem ter o que dizer aos cidadãos, apavorados com dengue, zika e chikungunya, e aos especialistas em Saúde, que precisam de orientação, coordenação, recursos e decisão política, o nosso Marcelo Castro se dedica a... falar, falar e falar sobre o que não sabe. Na falta do que dizer, improvisa.

Primeiro, horrorizou brasileiros e brasileiras ao “torcer” para que as mulheres pegassem o zika ainda meninas: “Vamos torcer para que mulheres, antes de entrar no período fértil, peguem a zika, para elas ficarem imunizadas pelo próprio mosquito. Aí, não precisa da vacina”. Agora, chocou o mundo e irritou Dilma ao dizer uma singela verdade: “nós estamos com o Aedes há décadas aqui e estamos perdendo feio a batalha para o mosquito”. A Organização Mundial da Saúde (OMS) desconversou, considerando a fala do ministro brasileiro “algo fatalista”. E Dilma descabelou-se. Mas a culpa de ter um ministro desses é de quem?

O Brasil discute com os Estados Unidos um acordo de cooperação visando ampliar as pesquisas comuns sobre vacina da dengue para uma futura vacina contra o zika, com participação de outros países que se interessarem. Mas isso, repita-se, é coisa para o futuro.

No presente, a situação é fora de controle, com as grávidas brasileiras querendo fugir para locais mais seguros e os estrangeiros refletindo se é mesmo o caso de vir para o carnaval e a Olimpíada, com dengue sambando, chikungunya em campo, zika treinando dia e noite e um ministro da Saúde que é um caso para junta médica.

Depois do mensalão, do petrolão, da Zelotes, do escândalo do Carf, de Eduardo Cunha na presidência da Câmara, Renan Calheiros na do Senado e Picciani na liderança do maior partido... Marcelo Castro é a personificação da falência não de um governo, mas de um sistema.

Conselhão. Dilma reúne na quinta-feira ministros, pesos-pesados das finanças, líderes da indústria e do comércio, o homem mais rico do Brasil e até o nosso Wagner Moura. Para que, além da foto? Ela tem de conciliar combate à recessão e à inflação; dar crédito para quem não quer crédito; agradar aos gregos do pragmatismo e aos troianos alinhados com o PT. No fim, combinar com os russos: o Congresso. Vai dar certo?

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