sábado, 30 de janeiro de 2016

Investigado, Lula terá de explicar tríplex e sítio

• Odebrecht teria pagado reforma do imóvel rural


• Petista admite que frequentava a propriedade



• Dona Marisa também foi intimada a depor


Dois dias após a Lava-Jato realizar a operação Triplo X por suspeita de lavagem de dinheiro envolvendo o tríplex que foi do ex-presidente Lula em Guarujá, o Ministério Público de São Paulo intimou o petista e sua mulher, Marisa Letícia, para depor sobre a suposta tentativa de ocultação de patrimônio envolvendo o mesmo imóvel. É a primeira vez que Lula deverá ser interrogado como investigado. Em outra frente, a Lava-Jato ouviu ontem Patrícia Fabiana Melo, ex-dona de uma loja de material de construção em Atibaia, no interior de São Paulo, vizinha a um sítio frequentado por Lula e sua família. Ela relatou a participação da Odebrecht, também investigada na Lava-Jato, na reforma do imóvel rural, que pertence a dois sócios de Fábio Luis Lula da Silva, filho do ex-presidente. Em nota, Lula confirmou que passou a frequentar o sítio em 2011, após deixar o governo, e disse que a tentativa de vinculá-lo a supostos atos ilícitos visa a macular sua imagem.

Investigação em duas frentes

• Reforma de sítio frequentado por Lula, que terá que depor no caso tríplex, vira alvo da Lava-Jato

Renato Onofre, Cleide Carvalho, Tiago Dantas Sérgio Roxo - O Globo

-SÃO PAULO- Suspeito do crime de ocultação de patrimônio, o ex-presidente Lula foi intimado ontem a depor sobre o caso do tríplex no Guarujá. É a primeira vez em que ele será ouvido como investigado desde o início do escândalo da Lava-Jato, que agora avança sobre um novo imóvel ligado ao ex-presidente. Em nome de sócios de Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha, filho do líder petista, um sítio de 170 mil metros quadrados, em Atibaia, no interior de São Paulo, é o novo foco das investigações sob o comando do juiz Sérgio Moro. A exemplo do que aconteceu com o tríplex, reformado pela OAS, os investigadores suspeitam que o sítio foi reformado tanto pela OAS quanto pela Odebrecht.

Promotor de Justiça de São Paulo, Cássio Conserino marcou o interrogatório do ex-presidente e da ex-primeira-dama Marisa Letícia para o próximo dia 17. Também serão ouvidos o empreiteiro Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, e o engenheiro Igor Pontes, que acompanhou o casal numa vistoria ao apartamento durante a reforma. O imóvel, que pertenceu à família do ex-presidente, recebeu uma reforma de cerca de R$ 800 mil paga pela construtora OAS, em 2010.

Já o sítio Santa Bárbara, em Atibaia, está em nome de Fernando Bittar e Jonas Suassuna, ambos sócios de Lulinha na empresa Gamecorp. A propriedade foi comprada em 2010 e é frequentada por Lula, que passou férias este mês no local. O sítio passou por ampla reforma, ganhou suítes e área de churrasqueira. Além das construtoras, o empresário José Carlos Bumlai, amigo de Lula e preso em novembro pela Lava-Jato, também aparece como suspeito de ter colaborado com a obra.

PF ouviu mais uma testemunha
Ontem, a Polícia Federal ouviu mais uma testemunha no caso do sítio. Trata-se de Patricia Fabiana Melo Nunes, ex- dona de uma loja de materiais de construção, a Depósito Dias, em Atibaia. Ela não quis falar sobre o depoimento, mas confirmou ao GLOBO que os responsáveis pela obra gastaram cerca de R$ 500 mil em sua loja no fim de 2010. Segundo ela, as notas foram faturadas em nome de várias empresas mas, no entendimento dela, quem estava pagando era a Odebrecht. Essa informação foi revelada ontem pelo jornal “Folha de S.Paulo”.

Ao “Jornal Nacional”, Patrícia afirmou que recebia de um homem que não soube nominar entre R$70 mil e R$90 mil por semana em dinheiro e que o responsável pela obra era o engenheiro da Odebrecht Frederico Barbosa:

— A partir de 15 de dezembro (de 2010) ele tinha equipes trabalhando em torno de 24 horas, acelerou muito e acabou dia 15 de janeiro. Tinha alguns CNPJs para os quais a gente tirava nota, mas para mim todos eram Odebrecht.

De acordo com Patricia, o arquiteto Igenes dos Santos Irigaray Neto — que é de Dourados e prestou serviços para a Usina São Fernando, de Bumlai — ocupou uma mesa em sua loja.

As suspeitas sobre o sítio tem assustado moradores. Um caminhoneiro apontado pelos vizinhos como responsável por tirar entulho do sítio negou que tivesse feito qualquer trabalho no local.

Um vendedor do Depósito Dias que teve sua foto publicada em uma revista no ano passado pediu demissão e se mudou para outro bairro, segundo o gerente da loja. Na região, Lula é mencionado como dono da propriedade.

— Sei que esse sítio é do Lula porque ouço o pessoal comentar. Mas não sei de nada que acontece aí — disse uma vizinha da propriedade.

Na quarta-feira passada, o ex-proprietário do sítio, Adalton Emilio Santarelli, foi chamado para depor. Ao GLOBO, ele disse ontem que foi apresentado aos empresários Suassuna e Bittar por um corretor de imóveis da cidade.

— Se soubesse que era para Lula, teria cobrado mais caro porque ele deve ter muito dinheiro — disse Adalton.

Um pente-fino nos pagamentos feitos pelas construtoras Odebrecht e OAS começou a ser feito pela Lava-Jato no fim do ano passado. Pelo lado da Odebrecht, a equipe investiga se a empreiteira realizou ou intermediou obras no sítio de Atibaia e se há irregularidades nos pagamentos feitos pela empresa ao escritório do advogado Roberto Teixeira, amigo de Lula. O escritório de Teixeira figura em primeiro lugar na lista de pagamentos feitos pela Odebrecht por serviços de advocacia e consultoria. Em janeiro, a Polícia Federal identificou o agrimensor que fez serviços de topografia no sítio, Cláudio Benatti. Ao jornal "O Estado de S. Paulo", Benatti disse que foi contratado por Teixeira.

— Não vou falar mais nada sobre esse assunto — disse Benatti ontem.
A investigação para apurar se a OAS também reformou o sítio acontece justamente por conta de sua relação com o tríplex do Guarujá. A contabilidade da construtora está sendo esmiuçada.


‘Lula é plano a do PT’

Em meio às suspeitas envolvendo Lula, o presidente do PT, Rui Falcão, disse ontem à “Bloomberg” que “Lula é o plano A do PT para 2018, não há plano B”. A Odebrecht informou que “a construtora não identificou relação da empresa com a obra do sítio”. O engenheiro Barbosa disse, em nota, que em 2010, foi procurado por um amigo que havia sido contratado para realizar a reforma em Atibaia e que deu um apoio durante as férias. “Nunca dei orientações sobre emissões de notas fiscais nem realizei tais pagamentos”.

O escritório de Teixeira informou que não prestou serviços nem foi remunerado para tanto pela Construtora Odebrecht. O arquiteto Irigaray, Suassuna e Bittar não se manifestaram. A OAS não se manifestou sobre a reforma do sítio no interior paulista.


Em 2003, o ex-presidente indicou Bittar para o conselho da Petros, fundo de pensão da Petrobras. Ambos estiveram envolvidos no caso CPEM, em meados da década de 1990, assim como um dos advogados de Lula, Roberto Teixeira. O responsável pela topografia da reforma no sítio disse ter sido contratado por Teixeira

Gastos em obras
De acordo com o jornal “Folha de S.Paulo”, R$ 500 mil apenas em materiais de construção

Quando as obras foram feitas
De outubro a dezembro de 2010

Ligação com as investigações
Em abril de 2015, a revista “Veja” afirmou que a OAS teria realizado a reforma no sítio a pedido do ex-presidente Lula. Nesta sexta-feira, a “Folha de S.Paulo” afirmou que a reforma foi realizada por outra construtora, a Odebrecht. Léo Pinheiro, da OAS, e Marcelo Odebrecht são investigados na Operação Lava-Jato e estão preso

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