segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Acusados da Lava Jato tentam criar 'teoria da conspiração', diz procurador

Felipe de Oliveira – Folha de S. Paulo

RIO - O procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, rebateu as críticas do ex-presidente Lula, que, durante festa de aniversário de 36 anos do PT no sábado (27), acusou o Ministério Público e a imprensa de trabalhar para "destruir o PT". Dallagnol afirmou que alguns acusados, "diante da robustez das provas", têm buscado agredir o acusador para tentar tirar a credibilidade da acusação

"Existem basicamente dois modos de você responder uma acusação. O primeiro modo é mostrar que aquilo que a pessoa disse é mentira e que está errado. O segundo é desacreditar e tirar a credibilidade das pessoas que te acusam. O que vários acusados têm feito diante da robustez das provas é buscar agredir o acusador, tentando tirar desse modo a credibilidade. Mas isso é criar uma espécie de teoria da conspiração." afirmou o procurador

Dallagnol esteve na noite deste sábado (28) na Primeira Igreja Batista de Campo Grande, zona oeste do Rio, para dar uma palestra sobre a campanha "10 medidas contra a corrupção" para cerca de 2.000 jovens

As "10 medidas contra a corrupção" são um pacote de ações que tem como objetivo a apresentação de um projeto de lei de iniciativa popular ao Congresso Nacional, com medidas que buscam o aperfeiçoamento do sistema jurídico, de modo a reprimir a corrupção no Brasil. Entre as medidas estão: penas maiores para casos de corrupção (atualmente a pena máxima de prisão é de apenas dois anos), novas punições para partidos que cometerem "caixa dois" e a criminalização de enriquecimento ilícito, mesmo sem a comprovação do crime de corrupção

Após o evento, Dallagnol disse à Folha que o Ministério Público Federal está aguardando mais informações vindas da Suíça, que podem revelar novos fatos sobre o caso. "Existem muitas perspectivas novas. Investigações sendo desenvolvidas em relação a outros setores da Petrobras, perspectivas de novas colaborações que estão sendo tratadas, e existe também a expectativa de que venha um grande material da Suíça trazendo contas de pessoas usadas para pagar e receber propina."

Segundo ele, das 300 contas reveladas pelo procurador-geral suíço, que são suspeitas de terem sido usadas para pagamento de propinas, apenas cerca de 10% foram analisadas pela força-tarefa brasileira.

"O procurador-geral suíço quando veio ao Brasil, há cerca de um ano, falou que havia investigação sobre mais de 300 contas lá. Não vieram para cá 10% dessas 300 contas. Durante esse tempo certamente as investigações lá se expandiram. Existe um grande copo aprobatório de fatos que a gente ainda não tem conhecimento, que está lá e que em algum momento virá para o Brasil e repercutirá em novas investigações e novas delações aqui."

Sobre as "10 medidas contra a corrupção", o procurador disse que o próximo passo é levar as assinaturas até o Congresso para formalizar a entrega e "simbolicamente demonstrar o apoio popular", para que os projetos não sejam só aprovados, mas de modo rápido.

Ao lado do juiz Sergio Moro, Dallagnol é uma das caras mais visíveis da operação Lava Jato. Ele diz que não pensa em qualquer cargo eletivo.

"Nunca tive qualquer intenção em concorrer ou participar de atividade político-partidária ao longo da minha história. O nosso objetivo é servir a sociedade. Muitas pessoas colocaram suas esperanças em nós, acreditando que nós seríamos capazes de conduzir um processo de transformação, mas o que fazemos quando oferecemos a sociedade 10 medidas contra a corrupção é devolver o protagonismo."

Ele afirmou ainda que crê em uma redução dos casos de corrupção no Brasil, se o país passar por uma transformação social.

"Isso passa por uma transformação social eu nós não podemos implementar da noite para o dia, mas nós podemos atuar sobre condições que favoreçam esse processo. É necessária existência de campanhas para curar a corrupção com educação. Para que todos nós desenvolvamos uma intolerância real a corrupção, não só a grande corrupção, mas aquela pequena corrupção que acaba gerando um ambiente propício para o surgimento da grande."

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