quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Marqueteiro omitiu offshore que recebeu US$ 7,5 milhões

• Através da firma, Santana obteve recursos durante campanha de Dilma

Relatório da Receita mostra que ele retificou declarações dos anos de 2010 a 2014 para incluir quatro empresas no exterior, mas não fez menção à Shellbill Finance, aberta no Panamá. Mulher admitiu crime

A offshore panamenha Shellbill Finance, que, segundo a Lava- Jato, foi usada pelo marqueteiro João Santana para receber US$ 7,5 milhões da Odebrecht e do lobista Zwi Skornicki no exterior, não foi declarada à Receita Federal. Nas retificações relativas aos anos de 2010 a 2014 feitas à Receita em novembro passado pelo marqueteiro, após o escândalo, ele incluiu quatro empresas no exterior, mas deixou de fora a Shellbill Finance. A offshore controla conta em banco suíço que recebeu depósitos no total de R$ 1,5 milhão, pago por Skornicki ao marqueteiro no período da campanha da reeleição da presidente Dilma, em 2014. Em depoimento ontem ao juiz Moro, a mulher de Santana, Mônica Moura, admitiu ter contas não declaradas no exterior.

Dinheiro oculto

• Declaração de renda de marqueteiro do PT exclui a offshore Shellbill, usada para receber verba sob suspeita

Thiago Herdy, Thais Skodowski - O Globo

- SÃO PAULO E CURITIBA- O marqueteiro do PT, João Santana, omitiu de suas declarações de renda a Shellbill Finance S/ A, offshore usada para receber US$ 7,5 milhões da Odebrecht e do representante de um fornecedor da Petrobras, Zwi Skornicki. Essa omissão, apontada em relatório da Receita Federal, que analisou o patrimônio e operações financeiras do marqueteiro, acabou admitida pelo advogado de Santana, Fábio Tofic. Ao falar sobre o depoimento da mulher de Santana, Mônica Moura, ontem à tarde, o advogado admitiu a existência de contas não declaradas:

— Está claro que João e Mônica ( mulher do marqueteiro) estão presos pelo crime de manutenção de contas não declaradas no exterior. É um crime que não digo leve, mas que não enseja a prisão de qualquer cidadão neste país — disse Tofic, após Mônica depor por quatro horas à Polícia Federal de Curitiba. Santana deve depor hoje.

A omissão já havia sido apontada em relatório da Receita que analisou patrimônio e operações financeiras do marqueteiro. A offshore controla conta na Suíça que teria recebido os repasses. No período dos depósitos, Santana trabalhou em campanhas petistas, como a de Dilma Rousseff (2014) e do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad ( 2012), além de presidenciáveis em Angola ( 2012), República Dominicana ( 2012) e Venezuela ( 2012/ 2013).

Em novembro de 2015, quando as investigações da Operação Lava- Jato estavam avançadas, o marqueteiro apresentou ao Fisco declarações retificadoras referentes ao período entre 2010 e 2014. Ele acrescentou sua participação em quatro das cinco empresas associadas a ele no exterior pela Polícia Federal. A correção não incluiu a Shellbill. Tofic negou que os recursos movimentados no exterior sejam fruto de corrupção..

Defesa não explica razão da omissão
Nas retificações à Receita, Santana reconheceu que era sócio das empresas Polistepeque Comunicaciony e Marketing, estabelecida em El Salvador; Polis Caribe Comunicacion Y Marketing, da República Dominicana; Polis America S/ A, no Panamá; e Polis Propaganda, da Argentina.

Todas foram abertas em países onde prestou serviços em campanhas. A defesa de Santana não se manifestou sobre os pagamentos para a Shellbill Finance, nem explicou por que ela não apareceu na declaração de renda.

Um apartamento em Nova York, nos EUA, está registrado em nome da empresa de El Salvador, de acordo com a Polícia Federal, e também é alvo da investigação.

A PF descobriu que a Shellbill está vinculada ao marqueteiro graças a um bilhete apreendido na casa de Zwi Skornicki, assinado por Mônica. No bilhete, ela indicou agências do Citibank em Nova York e em Londres para recebimento de recursos destinados ao publicitário. O Citibank exerce a função de banco correspondente ao Heritage, instituição suíça onde está a conta da Shellbill.

Um pedido de cooperação jurídica internacional feito aos EUA permitiu a descoberta do vínculo da conta com o marqueteiro. Nos extratos, identificaram- se débitos em favor de uma filha e do genro de Santana, o que para o juiz Sérgio Moro é “mais uma prova de que a conta é administrada por eles (Santana e a mulher)”.

Dos US$ 7,5 milhões depositados para a Shellbill, entre 2012 e 2014, R$ 4,5 milhões foram originários da Deep Sea Oil Corporation, offshore controlada por Skornicki, operador de propinas do estaleiro Keppel Fels, fornecedor da Petrobras. Outros US$ 3 milhões foram depositados por duas offshores, a Klienfeld e a Inovattion, usadas pela Odebrecht para pagar propina a diretores da estatal.

Santana usou ao menos US$ 1 milhão da Shellbill para pagar parte de um apartamento de luxo, em São Paulo. Para a PF, Santana “falseou sobre o valor efetivamente pago no imóvel”. A assessoria do marqueteiro informou que dará declarações depois dos depoimentos.


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