terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Mulher de Santana tentou apagar em bilhete nome de empresa offshore

• Marqueteiro se queixa de perseguição e diz que acusações ‘ são infundadas’

- O Globo

BRASÍLIA, RIO e CURITIBA - Para pedir a prisão do marqueteiro João Santana, que comandou as últimas três campanhas do PT ao Planalto — a do ex- presidente Lula em 2006 e as da presidente Dilma em 2010 e 2014 — a Polícia Federal descobriu que o publicitário recebeu US$ 7,5 milhões em uma conta não declarada na Suíça. Os pagamentos saíram de empresas offshores controladas pela construtora Odebrecht e pelo operador de propina Zwi Skornick, que foi preso ontem na casa dele, no Rio. Para a Lava-Jato, o dinheiro foi desviado da Petrobras.

As investigações contra Santana partiram de um bilhete apreendido na casa de Zwi Skornick no ano passado. O papel assinado pela mulher e sócia do publicitário, Mônica Moura, orientava sobre como o operador deveria ter feito um contrato: “Apaguei, por motivos óbvios, o nome da empresa. Não tenho cópia eletrônica, por segurança”, escreveu Mônica. Apesar do cuidado, o nome da empresa não foi bem apagado no documento, e a força-tarefa da Lava- Jato conseguiu identificar o nome das offshores Klienfeld e Innovation, as mesmas usadas pela Odebrecht para efetuar pagamentos de propina no exterior a ex- diretores da Petrobras.

Junto com o bilhete, Mônica enviou também os números das contas onde Zwi deveria fazer os depósitos. Uma delas era da offshore ShellBill Finance, constituída no Panamá e com conta na Suíça. Foi nela que o operador pagou US$ 4,5 milhões a Santana, entre abril de 2013 e novembro de 2014. A conta também recebeu US$ 3 milhões da Klienfeld e da Innovation, entre abril de 2012 e março de 2013.

No despacho de prisão, o juiz Sérgio Moro disse que a conta ShellBill foi usada para transferir recursos à filha de João Santana, que mora nos Estados Unidos. Suria Santana recebeu US$ 442 mil entre 2008 e 2015, e o marido dela, Matthew Pacinelli, US$ 75 mil em 2009.

Na República Dominicana
Santana e Mônica tiveram prisão temporária decretada. Os dois estavam na República Dominicana, onde comandavam uma campanha de reeleição do presidente Gabriel Medina. Através de advogados, o casal informou à Justiça que chega hoje a São Paulo para se entregar à PF. Os dois foram incluídos na lista vermelha da Interpol. Moro decretou o bloqueio de até R$ 100 milhões de Santana, da mulher e das duas empresas de publicidade do casal, a Pólis, que fez a campanha de Dilma, e a Santana & Associados.

Ao saber do pedido de prisão, o marqueteiro renunciou ao comando da campanha de de Medina. Na carta que encaminhou ontem ao comitê nacional do Partido de la Liberación Dominicana ( PLD), o publicitário assumiu a própria defesa e disse que o Brasil está vivendo um clima de “perseguição” e que as acusações contra ele “são infundadas”.

Os demais alvos da operação são ligados à Odebrecht. O principal deles é Benedito Barbosa, atual presidente da construtora, acusado de comandar o pagamento de propinas no exterior ao lado do empresário Marcelo Odebrecht, que está preso e foi transferido para a sede da PF de Curitiba ontem.

Outros dois executivos da Odebrecht tiveram prisão temporária decretada: Hilberto Silva, que assinou uma das contas usadas pela construtora na Suíça, e Fernando Migliaccio. De acordo com os investigadores, Migliaccio era o principal gerenciador das contas usadas pela empreiteira no exterior para pagar propina. Quando Marcelo Odebrecht foi preso, em julho do ano passado, Migliaccio e a família foram morar nos Estados Unidos. Para acelerar o processo, a Odebrecht teria cuidado da obtenção de vistos e da escolha da casa onde morariam nos Estados Unidos.

Segundo Moro, uma planilha controlada por Migliaccio retrata pagamentos a João Santana e ao PT e “há fundada suspeita de que esses pagamentos são ilícitos”, considerando que a função dele era administrar as contas secretas da Odebrecht usadas para repasses de propinas a agentes públicos. Moro também bloqueou até R$ 50 milhões de Zwi e R$ 25 milhões de Migliaccio.

O juiz afirma no despacho que os valores seriam “doações eleitorais subreptícias”, comparando os pagamentos a João Santana aos que foram feitos a João Vaccari Neto, ex- tesoureiro do PT preso na Lava- Jato. Moro lembra que uma das anotações de Marcelo Odebrecht — “900 via Bonus PT” — em setembro de 2010, mostrou correspondência com o registro de doação oficial ao PT no valor de R$ 900 mil feita naquele mês. No caso, “bônus” seriam as doações oficiais.

Em nota, a defesa de Santana informou que vai mostrar que todos os valores recebidos no exterior estão ligados a campanhas realizadas por ele fora do país. Também em nota, a Odebrecht informou que a empresa só vai se manifestar nos autos.

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