quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

PF investiga se PT recebeu dinheiro da GDK Angola

Por André Guilherme Vieira - Valor Econômico

SÃO PAULO - A Operação Lava-Jato investiga se o PT recebeu propina da empreiteira GDK a partir de uma subsidiária em Angola, em 2009. Somente um dos contratos da empreiteira com a Petrobras envolveu R$ 115 milhões em março de 2013, segundo documentos apreendidos pela Polícia Federal (PF). O PT nega envolvimento em ilícitos. O partido diz que todas as doações que recebeu "foram realizadas estritamente dentro dos parâmetros legais e foram posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral".

Em recuperação judicial, a GDK é uma das empresas que teriam pago propinas a políticos por meio do esquema de offshores coordenado pelo agora delator e ex-gerente de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco Filho, apontado como o braço direito de Renato Duque na diretoria de Serviços da estatal. Já condenado a 20 anos e oito meses em primeira instância, Duque seria cota política do PT na petrolífera, de acordo com as investigações.

Em depoimento prestado à PF em 2 de fevereiro, o dono da GDK, Cesar Roberto Santos Oliveira, confirmou ter pago US$ 200 mil na conta Korat Ivesten, por meio da empresa Melk Comércio e Serviços Internacionais Ltda. A Korat é uma das contas atribuídas a Duque e indicadas pelo também delator Julio Camargo como destinatárias de 59 depósitos feitos entre dezembro de 2006 e abril de 2012, totalizando US$ 10,4 milhões e € 1,4 milhão.

Indagado pela PF sobre as movimentações bancárias registradas na conta da Melk, "afirma que a Melk era basicamente utilizada para recebimento de dividendos da GDK Angola, os quais eram legalmente internalizados para o Brasil", respondeu.

Cesar Oliveira relatou à PF que em 2010, o então tesoureiro do PT João Vaccari Neto o convidou para dois encontros nos hotéis Windsor e Copacabana Palace, no Rio. O empresário afirmou que "nas duas ocasiões Vaccari estava sozinho (assim como o declarante) e que lhe solicitou doações oficiais para o Partido dos Trabalhadores". Oliveira alegou ter dito não aos supostos pedidos de suborno e que "nunca pagou nenhuma doação ao PT, nem oficial ou não oficial". Vaccari foi condenado em primeiro grau a 15 anos e 4 meses de reclusão por corrupção e lavagem de dinheiro. O juiz titular da Lava-Jato, Sergio Moro, mencionou a condenação de Vaccari ao informar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a existência de comprovação de que dinheiro oriundo de propina na Petrobras foi dissimulado em doação eleitoral oficial e registrada na Justiça Eleitoral.

Oliveira declarou também que fez o pagamento porque "tinha receio das consequências que adviriam do não pagamento", e que "acreditava que se tratava de uma 'doação' ao partido".

O empresário justificou que "achava que não pagar Barusco (ou o partido, o qual Barusco afirmava seria o destinatário dos valores) poderia lhe piorar a situação na Petrobras ou criar empecilhos".

Segundo Oliveira, a conta Korat foi indicada por Barusco. Ele disse que "considerava a Melk a sua conta no exterior; que a Melk era sócia da GDK Angola e que sua atividade era apenas a participação na GDK Angola.

A reportagem não conseguiu fazer contato com Rafael Bruno de Sá, advogado de Cesar Oliveira.

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