quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Rosângela Bittar: O governo Dilma e suas boias políticas

• Guerra suspensa, impeachment hibernando até 2018

- Valor Econômico

O governo retoma suas atividades neste 2016 com uma alta definição do impasse na política brasileira, em que nem a guerra tem condições de continuar por falta de meios e energia dos contendores.

Parte da oposição não pensa mais em impeachment da presidente Dilma Rousseff como solução para dissipar a nuvem negra cada vez mais densa que sufoca o país.

A avaliação, neste momento, que veio amadurecendo a partir de dezembro, é que o afastamento forçado representaria uma aventura. Não haveria razão para apoiar o vice, Michel Temer, assumindo o insucesso deste governo por período tão curto que não daria condições de implantar um modelo próprio de restauração.

Economistas de oposição também não se habilitaram a participar do sacode a poeira.

O grupo quer mantê-la fraca, bem como o PT e o ex-presidente Lula, fustigando-os de forma que cheguem todos arfantes a 2018. Seria essa a turma que não quer tirá-la mas não quer ajudá-la, por não ver razões nem para uma coisa nem para outra.

O PSDB, principal adversário do governo, está dividido, e não tem um candidato de união agora, portanto a hipótese de eleições gerais pós-impeachment seria um desastre para o partido. Mais uma razão para o afastamento representar uma aventura.

Todos os partidos e grupos estão voltados para 2018, a sucessão da presidente Dilma.

O governo também não encontra meios e energia para superar o impasse, continua errando muito, notadamente na economia, e não consegue provar que pode fazer uma maioria no Congresso para tentar conquistar um grupo, um batalhão, uma pessoa.

Não se pode dar como certo que o governo perde a votação da CPMF mas isso não só é o mais provável, como a medida que fere mais a confiança da sociedade. Há um plano alternativo a ela, todos sabem, e não se compreende que esteja engavetado só para não tirar uma suposta força do que já não tem força.

Fica, então, um grupo pequeno e disperso ainda alimentando o clima de guerra, que está suspensa mas não debelada. O impeachment pode ter recidiva, mas é o menos provável.

Dilma retarda a demonstração de que tem maioria, é o que lhe daria fôlego no momento, e segue desestabilizada. É imprescindível que o governo mostre que tem viabilidade no Congresso. Se demonstrar isso, na avaliação dos especialistas na estratégia da retomada, fica mais difícil retomar a ameaça do impeachment. Ela vai levando um governo vazio, enquanto os partidos também vão levando a vida, só que eles têm rumo, a sucessão.

O governo não funciona. O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, está falando o discurso considerado certo, segundo avaliações de dentro, mas ninguém acredita nele, todos ficam à espera de um desmentido. Não de Dilma, porque nela também ninguém acredita, mas dos fatos, dos recuos, da falta de credibilidade.

Não há respeito, não há autoridade. Os que formaram em meados do ano passado o grupo do resgate de Dilma, como os banqueiros, por exemplo, agora entregaram os pontos. O mundo financeiro é interpretado como se tivesse dito: "É o que temos agora, vamos adiante."

A estratégia de sobrevivência até 2018 será a de jogar boias políticas quando surgirem oportunidade. O Conselhão, por exemplo, ressuscitado na semana passada, é uma dessas boias. Tem o significado de um movimento político, nada mais. Não levará a nada nem pretende, mas só o fato de juntar uns notáveis e líderes de corporações para um faz-de-conta já se considera alguma coisa.

A ida de Dilma, ontem, ao Congresso, para ler sua mensagem de prestação de contas anual, discurso no qual anunciou estudos do governo para corrigir erros mas mais pediu ao Congresso do que ofereceu, foi outra boia política lançada neste início de 2016.

A tentativa de consolidar-se no Senado, onde a Operação Lava-Jato ainda não pegou o presidente Renan Calheiros de forma concreta, para ter pelo menos uma das Casas na sua rede de proteção, é outra boia política importante porque pode arrastar parte da Câmara que ainda vê no impeachment uma solução.

E vem aí a mega, ultra, hiper, master, blaster boia política das eleições municipais. Governadores, prefeitos, deputados e senadores vão cuidar de eleições, percorrerão os cofres à procura de dinheiro. A eleição municipal é fator importante de atenuação dos riscos para o governo.

Não se sabe em que ano, ou em que mês deste ano, serão novamente ouvidos tiros, mas a guerra seguirá latente.

Janot
A infantilidade e incivilidade do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao não saudar o presidente da Câmara de corpo presente a seu lado, à mesa de direção da sessão inaugural do ano Judiciário, depois de nominar o do Senado, o do Supremo e o representante da presidente da República, foi corrigida ontem pelos cumprimentos da presidente Dilma a Eduardo Cunha, na nominata de abertura do ano Legislativo. Janot pensa estar fazendo par com o Palácio do Planalto no enfrentamento de Eduardo Cunha, mas ontem Dilma lhe mostrou que política é uma coisa e instituição é outra. Janot esqueceu o princípio da impessoalidade, que rege o exercício do poder, perdeu mais uma oportunidade de demonstrar maturidade, e deu aos advogados provas de que seu problema com Cunha é mesmo pessoal.

Combate à dengue
Só se resolve o combate ao mosquito Aedes aegypti com o engajamento da população, emulada por iniciativas e coordenação de governos e instituições de cada município. A população representa a maioria do efetivo dessa guerra.

O Acre é exemplo para o governo federal fazer sua parte. Tendo um sanitarista no comando, o governador Tião Viana, o Acre, em 2010, registrou 30 mil casos de dengue. Chocado, Viana juntou escolas, polícia, bombeiros, judiciário, órgãos de limpeza pública e cada um, tomando as providências na sua área de responsabilidade, fez o seu papel. Resultado: Em 2015 foram registrados 300 casos de dengue. E este ano, o Estado do Acre, que vive debaixo d'água, não registrou um só caso de zika virus.

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