quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Rosângela Bittar: PT esgotado

• Dilma está entre dois Lava-Jato para líder no Senado

- Valor Econômico

O PT terá que promover uma grande renovação do seu quadro político, especialmente nos postos de comando, se quiser pleitear sobrevida ao eleitorado sem recorrer a truques que não têm dado certo, como mudar de nome, por exemplo. Embora essa ideia de alteração da sigla às vezes seja mencionada, mais provável é haver uma luta por dentro para tentar uma mudança de posições de grupos de comando.

Uma renovação ampla, geral e irrestrita, ainda que para ela se busque de volta às disputas os que se afastaram para outros afazeres porque não tiveram espaço no PT, tomado pelas corporações, pelos sindicalistas, pelos que sempre fizeram política de cúpula e especialmente pelos que se especializaram nos métodos petistas de governar o dinheiro público.

O PT ocupou de tal forma a máquina pública que grupos caem aos magotes e ainda há grupos a cair nas próximas denúncias, numa contaminação infinita. Descobriu-se, na última fase da Operação Lava-Jato, que ainda havia coordenador no propinoduto da Petrobras em atividade. É uma continuidade, como descobriu-se que, mesmo preso no mensalão, o ex-ministro José Dirceu tinha protagonismo no petrolão. Um método, um jeito, uma opção política ininterrupta. Neste momento, por exemplo, pode estar alguém fazendo o mesmo que se fez nos dois grandes escândalos até agora investigados.

Esse jeito de agir dispensa o partido de governar. O maior produto dos governos petistas, o Bolsa Família, foi criado logo no início e depois não se sentiu necessidade de fazer mais nada para justificar a perpetuação no poder. Em governos com essa consistência, sem plano ou gestão, o marketing político conduz, é fundamental, está na essência.

Diante de tanta propaganda, o governo se imagina governando, e agride quem não pensa o mesmo sobre suas jogadas de marketing. O recente movimento na área da saúde ilustra o critério estapafúrdio. O governo não ligou para os sucessivos alertas, até do eleitorado mesmo, sobre o péssimo desempenho do PT, sempre, na gestão da saúde. Diante do clamor internacional no caso do Aedes aegypti, a presidente Dilma promoveu um "tour" de ministros pelo país para chamar a atenção da população sobre o combate ao mosquito. Ela própria foi e continua indo aos estados, como o fez com o PAC, o Minha Casa Minha Vida, e outros "slogans pops", antes que fossem medidos resultados disso em recuperação da sua popularidade. Mas entre assessores houve irritação com quem chamou esse périplo de busca de uma agenda positiva, nem o governo entendeu assim.

Não é a epidemia que é agenda positiva, ainda não. É a agenda da presidente que finalmente correu a propagar que ela governa.

O Palácio não se entende, e a tensão aumenta com a aproximação da Operação Lava-Jato dos tronos coroados pelo PT. A presidente não tem quem buscar, no partido, que esteja vacinado, inalcançável pela investigação. Ao contrário, talvez até para impermeabilizar, levou para perto de si o tesoureiro da campanha de 2014 (Lava-Jato Edinho), perdeu seu líder no Senado (Lava-Jato Delcídio) e agora está entre dois nomes para substituí-lo, Lava-Jato Humberto Costa e Lava-Jato Gleisi Hoffmann.

Seu principal conselheiro político, coordenador, estrategista, guru, além de marqueteiro do governo e ex-do PT, aportou agora, com tudo, na operação: Lava-Jato Santana.

A aliança governista do Senado vive tensão que extrapola o PT: Edison Lobão, Fernando Collor, Ciro Nogueira, Renan Calheiros, são nomes cativos da lama em que os jogaram diferentes delatores, não são PT, mas é com eles que a presidente tem convivido sem alternativa.

Petistas da Câmara surgidos na Lava-Jato 1 estão caindo no esquecimento, embora ainda presos. E petistas-tesoureiros também detidos precisam ser substituídos, mas não há candidatos aos postos.

Urge a troca de guarda, de postos, de grupos e comando para que suba quem ainda tem condições de apresentar um projeto e pedir o voto.
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Os fetichistas da CPMF poderiam olhar à sua volta e descobrir uma fonte de receita também generosa, também abusiva e também envolta em nebulosidade: o trânsito. As regras, sucessivamente alteradas sem que se conheçam os critérios, com punições às faltas sempre majoradas, têm feito a festa do governo do Distrito Federal e de alguns Estados que já descobriram o caminho das pedras: o poder de financiamento de planos de governo representado pelas multas de trânsito.

Em Brasília é uma indústria bem sucedida, com altos resultados e toda a desfaçatez que se torna necessária às autoridades para explorar um alto contingente de pessoas que, por serem infratoras da lei, precisam conter sua reação.

Quando vir, em Brasília, um agente de roupa amarela sentadinho em uma tampa de bueiro, na grama das proximidades de um semáforo ou de um controle eletrônico de velocidade, saiba que ele está ali de tocaia, à procura dos que aproveitam para falar ao celular.

Há pistas e até estradas em que a velocidade cai repentinamente, para combinar com a íngreme descida que dificulta a redução de 90 para 40 km/h. Multa alta e garantida.

Há aparelhos que medem velocidade abaixo da constante da placa e nem o tombamento da cidade, patrimônio da humanidade, é respeitado. Além dos pardais laterais (apelido dos sensores em Brasília), o governo cruzou as avenidas por cima, com postes que fazem um guarda-chuva sobre o amplo horizonte, marca da capital.

A educação de trânsito é de um realismo chocante. Mais de um professor do curso de reciclagem do Detran admite que a multa já virou instrumento para financiar execução de planos de governo e fazer outros pagamentos.

Em salas de aula, os conselhos das autoridades são de deixar o infrator boquiaberto. Numa aula ensinaram que se um condutor estiver num acidente com um ônibus, mesmo que tenha sido o motorista do coletivo o culpado, saia do local o mais rápido possível para fazer fluir o trânsito. "Não adianta esperar a perícia, as empresas de ônibus e os carros oficiais não pagam o prejuízo. Vá embora, desobstrua a via".

Outra aula é uma das pérolas de cinismo do curso e diz respeito a uma norma que, muita atenção, vai "cair na prova". E caiu: Os sinais gestuais do agente de trânsito prevalecem sobre os do semáforo. 

Assim, se em um semáforo há um guarda fazendo sinal de siga com os braços, obedeça a ele, mesmo que o semáforo esteja vermelho. "E se levarmos multa por ultrapassar um sinal vermelho?" Responde o professor: "Entre na Justiça. Vai recorrer e provavelmente ganhar".

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