sábado, 5 de março de 2016

Cerimônia do adeus - Dora Kramer

- O Estado de S. Paulo

Quando as investigações da Lava Jato alcançam o ex-presidente Luiz Inácio da Silva, atingem de maneira grave e irreversível a presidente Dilma Rousseff, cujo governo está morto. Não tem credibilidade nem reúne condições de governabilidade suficientes para se recuperar. Seu esteio político se verga ante a força dos fatos, anunciando que, para o PT, acabou-se o que já foi extremamente doce.

Restava ao partido a vã esperança de que Lula da Silva pudesse dar uma volta por cima ao molde daquela de 2005, no mensalão. Hoje resta ao governo ver se haverá um enterro ou se a situação levará a um longo culto desse cadáver insepulto. É tudo muito diferente: Lula não é presidente, não tem foro especial, sua popularidade despensa.

Além disso, a economia está aos frangalhos, a oposição já não se dispõe a fazer acertos com o governo, os resultados das investigações já conhecidos não permitam que se dê o dito pelo não dito. Essa pasta de dente, enfim, não tem como voltar ao tubo.

O tom dos procuradores na Lava Jato na entrevista sobre a nova fase da operação não deixa dúvida: são consistentes e contundentes os indícios de que o ex-presidente valeu-se do cargo para se locupletar, faltando apenas provas de que a organização criminosa montada para fazer dos cofres públicos fonte de financiamento do PT era comandada direta e objetivamente por ele.

Na palavra dos investigadores, tendo ou não o domínio dos fatos Lula foi o principal beneficiário do esquema de corrupção posto em prática ao tempo em que ele era mandatário do País e sobre o qual não deixa de ter responsabilidade funcional a presidente Dilma, uma vez que os ilícitos prosseguiram na gestão dela.

Embora não seja (ainda?) investigada, a presidente é beneficiada por aquilo que os procuradores definiram com toda clareza como um sistema montado para comprar apoio político ao governo.

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