quinta-feira, 10 de março de 2016

‘ Estão forçando a barra’, disse Lula sobre rumos da operação

• Moro afirma que país precisa vencer desafios ‘ sem violência ou ódio’

Simone Iglesias, Cristiane Jungblut, Júnia Gama – O Globo 

- BRASÍLIA- Na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), numa reunião que durou mais de três horas com dezenas de senadores da base aliada, o ex- presidente Lula criticou a atuação do Ministério Público na Operação Lava- Jato, dizendo que sofre “perseguição política”. O ex-presidente disse, no entanto, que estava pronto para a “guerra”. Ele reafirmou que não era necessário ter sido levado de forma coercitiva para depor e fez um desabafo dizendo que ele e a ex-primeira- dama Marisa Letícia estão “tristes com a situação”. Lula reclamou que queriam colocá-lo dentro da Lava- Jato “de qualquer jeito”.

— Lula falou que não se oporia a depor, mas que fizeram de tudo para colocá- lo na Lava Jato. Ele falou um pouco mal do Ministério Público. Está triste, incomodado e disse que dona Marisa não está bem — relatou um dos senadores.

A reunião na residência de Renan havia sido combinada, a princípio, para ocorrer somente entre Lula e a cúpula do PMDB. O intuito era discutir saídas para a crise de governabilidade diante do acirramento da crise política. Mas senadores de diversos partidos, como PMDB, PDT, PCdoB e PT, compareceram ao encontro.

Na saída, Renan ficou lendo com Lula trechos da Constituição. Lula reclamou também que, quando tudo estava bem politicamente, não se questionava nada a respeito de seus atos.

— Agora, tudo tem que ser explicado. Estão querendo me incluir de todo o jeito. Estão forçando a barra — disse o ex-presidente aos senadores.

Renan, que também é investigado na Lava- Jato, disse que não se tratou diretamente das investigações da operação, que “ninguém pode ser contra as investigações”. Mas outros senadores afirmaram que Lula se defendeu das acusações:

— Ele não tratou das investigações, não seria o caso. Ali ninguém é contra as investigações. Todo mundo entende, no entanto, que é preciso que as investigações avancem, mas no devido processo legal — afirmou o presidente do Senado.

O líder do governo no Senado, Humberto Costa ( PT- PE), disse que Lula negou ser dono do tríplex de Guarujá e do sítio de Atibaia e contou aos senadores que está “indignado” com as denúncias. O ex-presidente afirmou que a todo o momento surgem novos fatos para tentar incriminá-lo.

— Ele manifestou indignação por achar que tudo que está sendo assacado contra ele é um conjunto que não tem consistência — contou Costa.

O juiz Sérgio Moro participou ontem de um jantar- debate em Curitiba, promovido pelo Lide, grupo empresarial liderado por João Doria Júnior, pré- candidato à prefeitura de São Paulo. No encontro, Moro afirmou que o quadro de corrupção sistêmica no país envergonha os brasileiros:

— Esse quadro nos envergonha, envergonha os brasileiros que acabam tendo uma imagem de malandro lá fora.

O Brasil, disse o juiz, não pode empurrar a questão para baixo do tapete:

— Uma coisa é a corrupção isolada. Outra é a corrupção sistêmica. Precisamos saber como chegamos e como sairemos dela.

À véspera de um fim de semana de manifestações contra e a favor do governo, Moro defendeu que o país ande para frente “sem violência ou ódio”. Sem citar possíveis enfrentamentos, Moro afirmou ainda que é preciso vencer os desafios:

— Já superamos crises econômicas terríveis, vencemos duas ditaduras, a do Estado Novo e a ditadura militar, tivemos triunfo contra a hiperinflação nos anos 90. Superamos tudo isso andando juntos. Devemos vencer andando juntos e caminhando para frente, não para trás. Devemos vencer sem violência ou ódio contra ninguém.

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