sexta-feira, 11 de março de 2016

MP afirma que OAS e Bancoop se associaram em quadrilha

• Autores de denúncia investigarão petistas ‘ agraciados com unidades’

Tiago Dantas e Silvia Amorim - O Globo

SÃO PAULO- Depois de denunciar o ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Ministério Público de São Paulo pretende investigar outros petistas que tenham apartamentos em empreendimentos da Bancoop — a Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo. Sem revelar nomes, o promotor José Carlos Blat disse que quer saber se outras pessoas ligadas à entidade e ao PT foram “agraciadas com unidades". Na denúncia apresentada anteontem, a promotoria acusa integrantes da Bancoop e da empreiteira OAS de terem se “associado em quadrilha”.

— Essa investigação não acabou. Temos outras frentes no Solaris ( prédio onde fica o tríplex atribuído a Lula no Guarujá) e em outros condomínios em São Paulo que pertencem a pessoas atreladas ao PT e que, em tese, podem ter sido agraciadas — disse o promotor.

Entre os petistas com apartamentos da Bancoop na capital paulista estão o presidente da CUT, Vagner Freitas, o ex- ministro da Previdência, Carlos Gabas, e Freud Godoy, o ex- assessor de Lula.

A Bancoop começou a ser investigada em São Paulo em 2007. A denúncia apresentada anteontem contra Lula e mais 15 pessoas é um desdobramento de uma primeira ação que está para ser julgada nas próximas semanas.

Segundo Blat, todos os interrogatórios foram feitos, e o Ministério Público já fez suas alegações finais. Neste processo, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto é acusado de estelionato, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.

Toda a investigação sobre a cooperativa começou depois que cooperados que não conseguiram seus apartamentos denunciaram a entidade. Segundo a promotoria, cerca de 7 mil famílias foram lesadas pela Bancoop, que é acusada de usar o dinheiro que deveria ser aplicado na construção de apartamentos para financiar eleições do PT.

A Bancoop foi fundada em 1996, tendo o ministro das Relações Institucionais do governo Dilma Rousseff, Ricardo Berzoini, como diretor técnico, e Vaccari como diretor do conselho fiscal. Nos anos 2000, chegou a ter 8 mil associados.

Origem de toda investigação
Com dificuldades financeiras, em 2009, a cooperativa transferiu nove empreendimentos para a construtora OAS concluir as obras. Um deles foi o edifício do Guarujá.

— Bancoop e OAS estabeleceram estado de terror entre adquirentes, pois essas pessoas até hoje não receberam suas escrituras — afirmou Blat.

Em dezembro de 2014, o GLOBO revelou que o tríplex no Guarujá havia ficado pronto, e que moradores diziam pertencer à família de Lula. O ex-presidente nega a propriedade do apartamento e diz que sua mulher, Marisa Letícia, tinha uma cota da Bancoop no prédio, mas que, em 2015, decidiu não adquirir o imóvel.

O primeiro petista a ser denunciado no caso Bancoop foi o ex- tesoureiro do PT em 2010. Vaccari presidiu a entidade de 2004 a 2010 e é acusado pelo Ministério Público por estelionato, sob a acusação de ter desviado recursos da cooperativa e lesado milhares de cooperados que pagaram prestações de imóveis que nunca chegaram a receber. É esta a ação que deve ter sentença proferida nas próximas semanas.

Além do ex- tesoureiro, foram acusados outros quatro ex-funcionários da Bancoop em 2010. Vaccari também foi denunciado anteontem pelos crimes de estelionato, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.

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