domingo, 13 de março de 2016

No beco sem saída – Ferreira Gullar

- Folha de S. Paulo

No final da semana passada, ocorreram fatos políticos que, por sua relevância, mudaram qualitativamente a situação, já crítica, do governo Dilma Rousseff, do presidente Lula e de seu partido: a divulgação da delação premiada do ex-líder do governo no Senado Delcídio Amaral e a condução coercitiva do ex-presidente Lula para depor na Operação Lava Jato. Não por acaso, em função desses fatos, a presidente Dilma convocou o ministério para, solenemente, tentar responder às acusações feita pelo seu ex-representante no Senado e a reação de Lula após o depoimento que foi obrigado a prestar.

As possíveis consequências da delação feita por Delcídio assustaram o Planalto, principalmente por suas implicações, dadas as revelações que contém, que darão vida nova ao processo de impeachment da presidente da República. Lula tampouco escapa das denúncias feitas pelo seu, até bem pouco tempo, fiel companheiro de partido.

A delação de Delcídio, embora surpreendente, resulta de uma tendência inevitável dos envolvidos na Operação Lava Jato, que preferem abrir o jogo do que pagar a culpa em anos de cadeia. Mais delações virão, como já está sendo anunciado. Imagino o que essa ameaça deve provocar no alto comando petista e, particularmente, em Lula, que sabe muito bem o que fez e o que mandou fazer ao longo desses treze anos.

A condução coercitiva de Lula para depor surpreendeu a todos e, creio eu, particularmente a ele, Lula, e a sua turma. De fato, nenhum deles esperava por isso: Lula conduzido pela polícia para depor! E não só isso, mas também a ação de busca e apreensão no sítio de Atibaia, no tríplex de Guaraujá e no Instituto Lula.

Esses fatos implicam uma mudança qualitativa na situação do ex-presidente na Operação Lava Jato. Ele, mais que ninguém, preocupa-se com as consequências disso, como demonstra a sua atitude após deixar o aeroporto de Congonhas, onde depôs: pregou no peito a estrela do PT e voltou a ser o agitador de outrora.

Tem gente que acha que, com essa atitude, Lula e o PT renasceram, que a militância petista voltará às ruas e a candidatura de Lula em 2018 ganhou viabilidade. Segundo essa visão, eles deram a volta por cima.

Já minha opinião é outra. A reação de Lula é mais de desespero do que de confiança. No meu modo de ver, ao ser levado coercitivamente para depor, ele se deu conta de que não é intocável e que pode acontecer com ele o mesmo que aconteceu com Marcelo Odebrecht, dono de uma das maiores empreiteiras do país, e outros poderosos empresários, flagrados pela Lava Jato, ou seja, entrar em cana.

Não por acaso, o procurador Carlos Fernando Lima, da equipe que conduz a Operação Lava Jato, afirmou, naquele mesmo dia, que "ninguém está acima da lei".

Isso, porém, não é tudo. O que explica a atitude de Lula, após o depoimento daquela sexta-feira, foi ter tomado ciência de que o segredo das compras do tríplex e do sítio de Atibaia foi desvendado pela equipe investigativa da Lava Jato. Conforme declarou o juiz Sérgio Moro, há fortes indícios de que tanto o tríplex da Guarujá quanto o sítio de Atibaia, pertençam ao senhor Luiz Inácio Lula da Silva.

Noutras palavras, tudo o que o ex-presidente disse para alegar que tais propriedades não lhe pertencem, será desmentido pelas investigações já quase concluídas.

O país inteiro tem visto e ouvido Lula afirmar que aqueles bens não lhe pertencem e que tais acusações seriam nada mais nada menos que parte de um plano cujo objetivo é desmoralizá-lo e excluí-lo, a ele a seu partido, da vida política do país.

Chegou a afirmar que não existe, no Brasil, nenhum cidadão tão honesto quanto ele. Mas, se revelada a verdade, como ficará ele diante da opinião pública e de seus próprios seguidores? Corre o risco de passar por corrupto e mentiroso.

Não tenho dúvida de que o lulopetismo agoniza e a condenação de Lula seria o golpe de misericórdia. Por isso, deixou de bancar o estadista para voltar a ser, como antigamente, o inimigo dos ricos e o defensor dos pobres, atitude, aliás, insustentável, tanto que, dias depois, estava em Brasília, ameaçado de perder o apoio do PMDB. E não é que o MP de São Paulo o acusa agora de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica? A coisa está preta.

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