sábado, 26 de março de 2016

Para chefe do PMDB do Rio, Dilma perdeu o poder de construir consenso

Nicola Pamplona – Folha de S. Paulo

RIO - O presidente do PMDB do Rio de Janeiro, deputado estadual Jorge Picciani, disse que a decisão de votar pela saída do partido do governo na próxima terça-feira (29), durante o encontro do Diretório Nacional do partido, será uma resposta ao aumento das mobilizações nas ruas e uma reação às novas denúncias contra a gestão petista.

Segundo ele, a presidente Dilma Rousseff (PT) não tem mais poder de construir em torno de si um consenso mínimo.

"É preciso que, no regime presidencialista, tenhamos a possibilidade de sair de dissensos para consensos mínimos e, infelizmente, ela [Dilma] não conseguiu construir essa possibilidade", afirmou Picciani à Folha.

"Além disso, o quadro de denúncias se agravou nos últimos tempos e vemos que a sociedade avançou em sua insatisfação contra o governo."

Segundo ele, pelo menos 9 dos 12 delegados do diretório estadual, um dos mais influentes do partido no país, já decidiram votar pela saída do PMDB do governo.

Com um histórico de apoio ao governo federal, o ex-governador Sergio Cabral e o prefeito Eduardo Paes não devem comparecer à votação, segundo apurou a reportagem.

Em tratamento contra um câncer no sistema linfático, o governador Luiz Fernando Pezão também não irá à reunião de terça. Pezão vinha sendo uma das vozes mais ativas em defesa do governo Dilma Rousseff.

"Não há unanimidade, mas a grande maioria entende que o processo social avançou e que é hora de sair do governo", disse Picciani.

O deputado estadual, eleito neste ano presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do RJ) pela quinta vez, protagonizou um racha no diretório estadual nas eleições de 2014 ao declarar apoio ao candidato do PSDB, Aécio Neves, em um movimento que ficou conhecido como Aezão (mistura dos nomes de Aécio e Pezão).

Agora, a posição do diretório estadual começou a mudar, no momento em que aumentam as chances do impeachment de Dilma.

A divulgação de informações sobre a delação premiada do senador Delcídio do Amaral, que era líder do governo no Senado, e o imbróglio envolvendo a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ser ministro-chefe da Casa Civil serviram como combustível para as mobilizações contra o governo, que levaram milhares de pessoas às ruas no último dia 13.

Picciani citou a última pesquisa Datafolha, que aponta que 68% são favoráveis ao impeachment, e pesquisa feita pelo PMDB do Rio, que mostra que 80% foram contra a indicação de Lula para o ministério de Dilma.

Filho
Líder do PMDB na Câmara, escolhido com forte apoio do Planalto, o filho do presidente do PMDB do Rio, o deputado federal Leonardo Picciani ainda não teria decidido seu voto. Procurado, o parlamentar não foi encontrado.

A contabilização dos votos dos representantes do Rio foi comunicada ao presidente nacional do PMDB, o vice-presidente Michel Temer, na quinta-feira (24), em reunião em um hospital do Rio, após visita a Pezão.

A decisão é um baque no esforço do Planalto para evitar o impeachment: o Rio tem a maior bancada entre os peemedebistas da Câmara e era tido como foco de resistência pró-governo no partido.

Por isso, foi agraciado com o Ministério de Ciência e Tecnologia (para o deputado federal Celso Pansera) e com o apoio à reeleição de Picciani para a liderança na Câmara.

Agora, o Planalto deve mudar a estratégia e distribuir cargos entre outros partidos aliados, para conseguir os 171 votos necessários para evitar a derrota na votação do impeachment na Câmara, prevista para abril ou maio.

Picciani disse que, se a posição pela saída do partido prevalecer na terça, os integrantes do partido que ocupam posições no governo terão que entregar seus cargos.

Prefeitura
A decisão mexe também com as eleições municipais de 2016: o PT fez parte da coligação que elegeu Eduardo Paes na última disputa e era esperado para apoiar o pré-candidato Pedro Paulo.

"Eleição municipal não está no nosso radar ainda", disse Picciani.

"Hoje temos prioridades maiores."

A reportagem tentou contato com Eduardo Paes e Sergio Cabral. O prefeito não foi encontrado. O ex-governador não quis comentar.

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