sexta-feira, 1 de abril de 2016

Ataques a PMDB, Temer e Moro marcam atos contra impeachment

Por Cristiane Agostine, Letícia Casado, Sérgio Ruck Bueno e Marcos de Moura e Souza - Valor Econômico

SÃO PAULO, BRASÍLIA, PORTO ALEGRE e BELO HORIZONTE - Os atos organizados ontem em todo o Brasil por movimentos sociais, partidos, artistas e intelectuais contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff foram marcados por ataques ao PMDB, ao vice-presidente da República, o pemedebista Michel Temer e ao juiz Sergio Moro, responsável pela Operação Lava-Jato. Mesmo com críticas à política econômica do governo federal, os manifestantes defenderam o mandato de Dilma e afirmaram que vão resistir nas ruas à tentativa de retirada da presidente do cargo.
No marco dos 52 anos do golpe militar de 1964, os protestos contra o impeachment reuniram ontem 811 mil pessoas, de acordo com os organizadores, ou 149 mil manifestantes, segundo dados das polícias militares compilados pelo site "G1".

Em São Paulo, Temer e o PMDB foram os principais alvos das lideranças sociais e políticas que discursaram na praça da Sé. O presidente do PT paulista, Emídio de Souza, afirmou que o vice-presidente irá passar para a história como "golpista". "Temer podia passar para a História como constitucionalista, mas preferiu, ao lado do Cunha, passar como golpista", disse, criticando em seguida o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), como "ladrão".

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, também atacou Temer. "Lamento que o vice-presidente da República, eleito na mesma chapa da presidente, participe agora de um impeachment sem base legal. Isso tem nome e o nome disso é golpe", afirmou.

Na mesma linha, o presidente da CUT-SP, Douglas Izzo, afirmou que se Temer assumir, não será reconhecido pelos movimentos populares. "O PMDB quer chegar ao poder sem voto, por uma conspiração", disse o dirigente sindical. "Temos críticas, sim, ao governo, mas defendemos a democracia. Essa manobra pelo impeachment é golpe". Dirigente nacional do MST, Gilmar Mauro afirmou que o vice-presidente "não vai ter um minuto de sossego" caso ocorra o impeachment. "Não vai ter golpe, mas se tiver Temer não vai ter nenhum minuto de sossego", afirmou. "Não queremos violência, mas estamos prontos para sair todos os dias às ruas se for necessário, para evitar o retrocesso das políticas sociais."

No palanque, os discursos compararam a tentativa de impeachment ao golpe de 1964.

O ato reuniu 60 mil pessoas segundo os organizadores, 40 mil de acordo com o Datafolha ou 18 mil, para a PM. Entre eles estavam estudantes, artistas, integrantes de entidades e partidos como a CUT, MST, UNE, PT e PCdoB e da "Democracia Corinthiana", que defenderam, além do mandato de Dilma, mudanças na política econômica e criticaram o juiz Sergio Moro. Um boneco com a foto do magistrado circulou pelo protesto e trazia xingamentos de "fariseu", "golpista" e "filho da p*". Entre as faixas espalhadas pela praça da Sé estavam frases como "impeachment é golpe", "fica Dilma" e "Aécio golpista, devolva o dinheiro de Furnas".

O recrudescimento da crise política fez com que manifestantes como a aposentada Joana Marques, de 65 anos, participassem pela primeira vez de um ato pelo mandato de Dilma. "Não é porque eu não tenho certeza em relação a esse governo que não vou me posicionar contra o golpe", disse. "Vim para falar: golpe, nunca mais".

Em Brasília, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não participou do ato que reuniu 200 mil pessoas, segundo os organizadores, ou 40 mil, de acordo com a PM. Lula se manifestou em um vídeo divulgado na internet, em que afirmou que "não há poder legítimo se a fonte não for o voto popular". Na gravação, Lula disse que o movimento contra o impeachment "cresce a cada dia" e que "vai além do governo e dos partidos, une pessoas das mais variadas opiniões e não se intimida diante do ódio e da intolerância". O ex-presidente deve comparecer a um ato no sábado, em Fortaleza.

A manifestação na capital federal contou com a presença de políticos petistas, como o líder do governo no Senado, Humberto Costa (PE), e o deputado federal Paulo Teixeira (SP), mas eles não discursaram. Para evitar confusão, a PM fechou diversos acessos à Esplanada dos Ministérios e colocou barreiras perto do Congresso, do Palácio do Planalto e do STF.

Em Porto Alegre, domicílio eleitoral de Dilma, a manifestação reuniu 18 mil pessoas, de acordo com a Brigada Militar e 80 mil para os organizadores. Reforçada com a chegada de 400 integrantes do MST, a manifestação incluiu críticas ao governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (PMDB), que ontem anunciou novo parcelamento dos salários dos servidores públicos.

Em Belo Horizonte, capital mineira, o ato em apoio à presidente somou 5 mil pessoas na Praça da Estação, região central da cidade, segundo estimativa da Polícia Militar. Para os organizadores, foram 40 mil. O Estado é governado pelo petista Fernando Pimentel, historicamente vinculado a Dilma.

No Rio, o ato aconteceu no Largo da Carioca, região central da capital e também centrou fogo no PMDB. Os manifestantes cantaram para o vice-presidente Michel Temer "Vou Festejar", samba de Jorge Aragão gravado por Beth Carvalho nos anos 70, que diz: "Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão". Também foi feita uma paródia de "Whisky a go-go", do Roupa Nova. "Em 2018 Lula vai vencer; Aécio vai chorar mais uma vez; a luta aqui, é pobre contra burguês". Um cartaz dizia: "PMDB: Partido Mais Desmoralizado do Brasil". Os manifestantes comemoraram quando foi anunciado que as investigações contra o ex-presidente Lula permanecem, por enquanto, com o Supremo Tribunal Federal. Os organizadores afirmaram que houve a participação de 80 mil pessoas e a PM não divulgou estimativa de presença.

Entre os oradores o principal destaque foi o cantor e compositor Chico Buarque. "Estou aqui em defesa intransigente da democracia. Vejo no palanque, na praça, gente da minha geração que viveu 31 de março de 1964, mas vejo sobretudo a imensa juventude que não era então nem nascida, mas conhece a história da Brasil. Estou aqui também para agradecer vocês que me animam a acreditar que não, de novo não: não vai ter golpe", disse. (Colaborou Heloisa Magalhães, do Rio, com agências noticiosas)

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