sexta-feira, 8 de abril de 2016

Delação de empreiteira agrava situação da presidente

• Ex-presidente da Andrade Gutierrez diz que pagou propina à campanha de Dilma em 2014

A delação do ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Azevedo agravou a situação da presidente Dilma e do vice Michel Temer no TSE, onde a chapa eleita em 2014 enfrenta processo de cassação. Seelétrico. gundo a delação, homologada pelo ministro do STF Teori Zavascki, a empreiteira fez doações legais para as campanhas de Dilma de 2010 e 2014 usando propina cobrada em obras da Petrobras e do sistema O PT negou irregularidades. A presidente determinou que a PF investigue o vazamento das informações, que considerou premeditado para tumultuar o processo de impeachment.

Cerco também no TSE

• Ex-presidente da Andrade Gutierrez diz que pagou propina à campanha de Dilma em 2014

Jailton de Carvalho - O Globo

-BRASÍLIA- Às vésperas da votação do impeachment na comissão especial da Câmara, as delações premiadas do ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio de Azevedo e de outros ex-executivos da empreiteira agravam a situação da presidente Dilma Rousseff e do vice-presidente Michel Temer no processo aberto pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para investigar irregularidades na campanha de 2014. Azevedo e outras oito pessoas ligadas à Andrade, entre elas o ex-executivo Flávio Barra, disseram que a propina por contratos de obras superfaturadas — como a de Belo Monte e a do Complexo Petroquímico do Rio, o Comperj — foi paga na forma de doações legais para as campanhas eleitorais de Dilma em 2010 e 2014.

É o primeiro empreiteiro que confirma ter pagado propina como doação legal para a campanha de Dilma em 2014, o que já tinha sido mencionado por operadores do esquema investigado pela Lava-Jato. O processo no TSE é visto ainda com mais preocupação pelo governo pelo fato de ontem ter sido formalizada a eleição do novo presidente da Corte, o ministro Gilmar Mendes, crítico do PT e do governo.

Doações em 2010, 2012 e 2014
As informações sobre a delação de Azevedo foram divulgadas pelo jornal “Folha de S. Paulo” e confirmadas pelo GLOBO. Azevedo entregou aos investigadores uma planilha com a lista de doações e obras a elas vinculadas. Segundo a “Folha”, a planilha conteria a relação de doações feitas em 2010, 2012 e 2014. Entre os valores listados, cerca de R$ 10 milhões teriam ido para campanhas de Dilma e estariam vinculados a contratos com obras públicas.

Os depoimentos foram prestados no início deste ano ao grupo de procuradores da República que está à frente da Operação Lava-Jato. As delações dos executivos foram homologadas pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).

Azevedo disse ainda que parte do dinheiro repassado às campanhas de Dilma teria como origem obras superfaturadas para a construção do Complexo Petroquímico do Rio, de Angra 3 e da usina de Belo Monte, no Pará. A Andrade Gutierrez é a segunda maior empreiteira do país, atrás apenas da Odebrecht.

A delação também faz referência a irregularidades em obras para estádios da Copa do Mundo, em 2014. Os executivos citam os estádios do Maracanã, o Mané Garrincha, em Brasília, e a Arena Amazonas, em Manaus. As irregularidades nessas obras estariam vinculadas não só a políticos do PT, mas também aos do PMDB.

UTC já tinha mencionado doações em 2014
No Tribunal Superior Eleitoral, o processo pode resultar na cassação da chapa formada por Dilma e Temer. Pela lei, se isso ocorrer ainda em 2016, antes de completados dois anos de mandato, será convocada nova eleição presidencial. A partir de 2017, o presidente será escolhido por eleição indireta no Congresso.

Os executivos da Andrade Gutierrez são os primeiros a vincular propinas por obras públicas às doações legais para Dilma. Mas não são os primeiros a falar sobre doações ilegais. O empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC e Constran, disse que fez doação de R$ 7,5 milhões à campanha de Dilma em 2014 a partir de um pedido de Edinho Silva, coordenador de campanha de Dilma e atual ministro da Secretaria de Comunicação Social. Na conversa, o ministro teria mencionado contratos da empresa na Petrobras.

Em 2014, a Andrade Gutierrez doou R$ 20 milhões para o comitê de campanha da presidente. Além de implicar a campanha de Dilma em 2014, a delação de executivos da Andrade cita também o ministro Ricardo Berzoni, da Secretaria de Governo, e o ex-governador do Rio Sérgio Cabral, segundo disse ao GLOBO uma fonte de Curitiba. Essa fonte não detalhou em que contexto os dois foram citados nos depoimentos.

O ministro Edinho Silva e o advogado Flávio Caetano, que coordenou a equipe jurídica da campanha, negaram qualquer irregularidade nos repasses. Os dois reclamaram do vazamento dos dados que estão sob sigilo.

— A Andrade Gutierrez doou R$ 20 milhões para nossa campanha e R$ 21 milhões para a campanha de Aécio Neves. Cabe a eles (da empreiteira) explicar por que a doação para nós teria como fonte dinheiro desviado e a dos outros candidatos, não — disse Caetano.

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